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domingo, 27 de junho de 2010

Folha 27/06 - - Ferreira Gullar: A arte de enganar

Vejo Lula como o oposto de tudo o que seu partido prometia trazer à vida política brasileira

ÉTICA NA política é coisa rara, qualquer que seja o partido. É surpreendente, no entanto, que o partido que nasceu empunhando a ética como bandeira tenha se tornado a expressão da antiética. Certamente, haverá, no próprio PT, exemplos louváveis de políticos que não se deixam seduzir, seja pela esperteza, seja corrupção, mas não são estes que dão as ordens na equipe do presidente Lula.
Não quero cometer injustiças mas, se não é mera impressão minha, vejo o presidente Lula como o oposto de tudo o que seu partido prometia trazer à vida política brasileira. Posso estar enganado, mas, se bem o percebo, ele, com a sua esperteza sindicalista, induz os que atuam sob seu comando a pôr de lado todo e qualquer escrúpulo: manipulam informações, falseiam a verdade dos fatos, forjam dossiês com falsas acusações, acusam vítimas de os estarem caluniando. Esses são alguns dos procedimentos comuns ao governo do atual presidente.
Os exemplos não faltam. Todos sabem que um dos objetivos de Lula, no plano internacional, é conseguir, para o Brasil, um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em face de sua desastrada aliança com Ahmadnejad, de que resultou o isolamento do país, uma repórter perguntou ao ministro Celso Amorim se esse isolamento não inviabilizaria aquela pretensão do governo brasileiro.
A resposta dele não foi própria à de um ministro de Estado, que tem a obrigação de prestar contas à opinião pública. Disse ele: "É engraçado, os que consideravam tolice do governo pretender um lugar no Conselho de Segurança, agora lamentam a possibilidade de o perdermos". Ora, não importa o que certas pessoas pensavam da pretensão do governo; importa, sim, que o governo pretendia alcançar aquele objetivo e o inviabilizou por se ter aliado a uma ditadura belicista. Admiti-lo seria aceitar que errara e Lula, claro, não erra...
Mas assim é esse governo, só assume como coisa sua o que lhe dê prestígio, ainda que sua não seja, como no caso da defesa do meio ambiente. Alguém já viu, no plano internacional, uma comédia semelhante à representada por Lula e Dilma durante a reunião do clima em Copenhague?
O país todo sabe que Marina Silva deixou o Ministério do Meio Ambiente porque Dilma, então ministra da Casa Civil, seguindo as ordens de Lula, impunha a aprovação, a toque de caixa, dos projetos do PAC, ainda que atentassem contra a preservação do meio ambiente. No entanto, em Copenhague, ambos, apareceram como defensores da preservação ambiental. O tema é tão distante das preocupações de Dilma que ela, num ato falho, soltou uma frase reveladora do que realmente pensa da ecologia.
Nesse terreno da farsa descarada, um dos últimos episódios foi o do novo dossiê que o PT preparava para caluniar o candidato José Serra, mais um dentre outros, como aquele que foi escandalosamente flagrado num quarto de hotel, em São Paulo, quando a polícia apreendeu, em mãos de uma quadrilha petista, uma montanha de dinheiro. Em face de tão incontestável flagrante, Lula imediatamente chamou os responsáveis pela falcatrua de "aloprados", ou seja, tendo de admitir que era gente sua, tratou de desqualificá-los, como se agissem por conta própria. Como sempre, ele e seu partido nunca sabem de nada, desde que vire escândalo.
Surgiu, recentemente, outro dossiê e, de novo, contra Serra. Um dos convidados a armar a falcatrua abriu a boca e a denunciou, voltando a confirmar a denúncia numa CPI da Câmara de Deputados. A reação de Lula e seu partido não podia ser outra: afirmam que o dossiê foi inventado para acusar o PT e, assim, mais uma vez, o vilão se torna vítima e a vítima, vilão.
Um exemplo, para concluir. A equipe econômica do governo afirmara que, se aprovado pelo Congresso, o aumento de 7,7% para os aposentados comprometeria o equilíbrio orçamentário do país.
Mas Lula, que só pensa na eleição de Dilma, contrariando a opinião de seus ministros, sancionou o aumento e alegou: "Não é isso que vai levar o país à bancarrota". Só que ninguém afirmara tal coisa.
Como sempre, ele responde a uma afirmação que ninguém fez, para escamotear a verdade. A verdade é que esse aumento eleitoreiro agrava o déficit da Previdência, que já chega a R$ 50 bilhões.

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