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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Globo 10/06 - - O Brasil escolheu crescer menos :: Carlos Alberto Sardenberg

Por que o Brasil não pode crescer como a China? Esta é a pergunta da semana na qual ficamos sabendo que o Brasil cresceu vigorosamente no primeiro trimestre e o Banco Central aumentou de novo os juros para conter esse crescimento.

Mas para colocar o debate na perspectiva global, eis uma outra pergunta: por que a China não pode crescer mais do que a China? Pois é, o governo chinês também tem adotado medidas para esfriar sua economia, por entender que um ritmo exagerado de crescimento leva a desequilíbrios estruturais, inflação e bolhas especulativas.

Verdade que lá eles querem reduzir o ritmo de 12% de expansão anual para algo em torno de 9%. Mas eis o primeiro ponto: há limites para a expansão em qualquer país do mundo.

Parece simples, mas convém registrar, porque muita gente por aqui acha que limite de crescimento é coisa de conservadores que não gostam de emprego e renda para os trabalhadores.

É a mesma gente que acha bobagem a estabilidade macroeconômica e que, quando está no governo, aqui e mundo afora, gera a inflação que arrasa o poder de compra dos mais pobres, os quais, ao contrário dos ricos, não conseguem se proteger da alta de preços.

Mas, entendido que há limite ao crescimento sustentado, resta a questão muito mais complexa: onde está esse limite? Acrescente, para complicar, que esse ponto, obviamente, não pode ser fixo. Se um país passa por um período de investimento em infraestrutura e novas fábricas, estende sua capacidade de crescimento.

Tudo considerado, quanto o Brasil pode crescer neste momento? Os números variam, mas não ficam longe dos 5% ao ano.

Comparado com o padrão chinês, é pouco.

Mas, comparado com o Brasil recente, é um salto expressivo. O real, as reformas e as mudanças feitas ao longo dos últimos 15 anos estabilizaram a economia, permitindo esse crescimento maior.

Mas por que continua tão menos que a China? Primeiro, porque os chineses investem mais. Segundo o último relatório do FMI, os asiáticos mais dinâmicos poupam, na média, 32% do Produto Interno Bruto e investem 27%. Ou seja, de cada 100 dólares de riqueza gerada no país, 32 são guardados, dos quais 27 se transformam em nova capacidade produtiva.

A China poupa e investe ainda mais.

No Brasil, pelos últimos dados do IBGE, referentes ao primeiro trimestre de 2010, a poupança alcançou 15,8% do PIB, e o investimento, 18%. (A diferença, o investimento a mais, vem do capital estrangeiro, da poupança importada).

Nos últimos dez anos, o máximo de investimento conseguido no Brasil foi de 19%, isso lá no começo de 2000.

Outro fator importante está nos impostos. Pessoas e empresas no Brasil pagam mais impostos do que nos demais emergentes, ficando, assim, com menos dinheiro para poupar e investir. Se o governo fosse um grande investidor, não seria tanto problema. Mas reparem: nos primeiros quatro meses deste ano, o governo federal gastou R$ 203 bilhões, dos quais apenas R$ 12,8 bilhões com investimentos. O resto? Previdência, pessoal, custeio e gastos sociais.

Dizem: isso distribui renda e aumenta o mercado interno. Tudo bem, mas continuam faltando investimentos públicos. E o aumento contínuo do gasto público exige cada vez mais impostos, o que reduz a capacidade de investimento do setor privado.

Outro obstáculo ao crescimento mais forte está na mão de obra. Vítima de um sistema de ensino ruim, o trabalhador brasileiro tem baixa qualificação e, pois, produtividade limitada.

Além disso, há o ambiente de negócios (burocracias) hostil ao empreendedor.

Educação dá trabalho, mas é possível melhorar. O ambiente pode ser mais amigável com reformas microeconômicas, algumas de fato já feitas.

Mas a barreira do investimento é mais alta. A Constituição de 88 é distributivista, atribui ao Estado funções sociais amplíssimas, como a de prover saúde e educação gratuitas para todos. Precisa, portanto, arrecadar muito e ainda sobra pouco para investimentos.

Foi uma opção política, que só pode ser alterada por outra decisão política.

O governo FHC, por exemplo, deu uma guinada e eliminou boa parte do caráter estatizante da Constituição, o que abriu espaço para investimentos privados. Mas não se vê, na atual eleição presidencial, qualquer proposta de mudança forte. Falase apenas em gastar melhor.

Vem daí a tese, até bem frequente no pensamento nacional, de que 5% ao ano já está muito bom. Nosso problema seria, na verdade, garantir esse ritmo por um longo período.

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