Globo 9 de junho - - Dilma diz que Pimentel continua na campanha e que dossiê é factoide

Dutra afirma que cúpula do PT desconhecia suposta investigação contra Serra

Leila Suwwan* e Gerson Camarotti

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS e BRASÍLIA. Em meio à polêmica sobre o suposto dossiê contra o presidenciável tucano, José Serra, a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, negou categoricamente ontem o afastamento do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel da coordenação de sua campanha e afirmou que as notícias nesse sentido são "invenção" e "factoide". Ela voltou a negar que a campanha tenha produzido dossiês. Dilma e o deputado Antonio Palocci (PT-SP), um de seus coordenadores, reafirmaram em conjunto:

- O Fernando está na campanha.

Dilma completou:

- É invenção. Factoide é isso.

O jornalista Luiz Lanzetta já deixou a campanha após a confirmação de que teria participado de reunião com arapongas em Brasília, um dos quais agora acusa o PT de encomendar uma investigação sobre Serra. Pimentel seria um dos integrantes do núcleo da campanha que teria conhecimento sobre o material. Dilma cobrou o surgimento dos documentos:

- Vou reiterar: tais documentos, se existirem, porque não tenho conhecimento deles, nunca os vi; se existirem, não foram elaborados pela nossa campanha. Vamos deixar isso claro. Qualquer outra ilação é uma falsidade. Era bom que aparecessem esses documentos aos quais todo mundo se refere, e ninguém demonstrou a existência deles - disse na entrevista.

Dilma comentou superficialmente o acordo entre o PT e PMDB de Minas Gerais e afirmou que tudo indica que o ex-ministro Hélio Costa, do PMDB, será o candidato a governador na chapa conjunta. O acordo preteriu Pimentel. O PT local reclama do arranjo:

- Em Minas Gerais e São Paulo, temos o cuidado de levar em conta o interesse do partido nas regiões. O PT considera a parceria entre o PMDB e o PT estratégica. Em São Paulo, temos um candidato, que é o Aloizio Mercadante. Lá em Minas, tudo indica que o candidato a partir de agora é o Hélio Costa.

A petista esteve em São José dos Campos, onde fez visitas à Embraer e ao parque industrial, que servirão para embasar um de seus motes de campanha, a "inovação científica". O parque conta com cerca de R$1 bilhão em investimentos até 2012, com participação do BNDES e dos governos estadual e municipal.

Em Brasília, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, negou que os integrantes da campanha de Dilma tinham conhecimento do suposto dossiê. Disse que não houve decisão coletiva para aquisição do dossiê.

- Sei separar o que é fofoca do que é informação.

Ele afirmou desconhecer a participação na campanha do jornalista Amaury Ribeiro Junior e do empresário Benedito Oliveira Neto. Os dois estavam com Lanzetta no encontro com o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa, que iria, segundo as denúncias, montar o núcleo de inteligência da campanha petista.

"Se alguém do PT afirmou isso, está mentindo"

Segundo Dutra, em momento algum o assunto do dossiê foi abordado na coordenação de campanha, nem teria havido decisão coletiva de ter acesso a essas informações, como fontes do PT garantiram ao GLOBO.

- Se alguém do PT afirmou isso, está mentindo.

Dutra disse que, ao tomar conhecimento do fato, não se preocupou:

- Não me preocupei. Tratei isso como conversas de bastidores. Nunca dei importância ao fato. Essa munição não chegou na campanha do PT.

Sobre o fato de o jornalista Amaury Ribeiro Junior, que já tinha feito investigação sobre Serra, ter sido integrado à campanha do PT, ainda que informalmente, Dutra disse que o partido não tinha contato com ele:

- Se foi abordado, não foi por ninguém da coordenação. Não sabia que um jornalista estava com informações para preparar um dossiê ou um livro. Eu não conheço o Amaury. Ele não existia na campanha. Se ele foi chamado por uma pessoa que não era do PT, não é de minha responsabilidade.

Confrontado com o dado, já confirmado, que Amaury foi chamado para ajudar na campanha petista por Lanzetta, disse:

- Nunca ouvi falar. Essas questões nunca foram objeto de conversa.

PSDB quer investigar envolvimento de petistas

O PSDB decidiu investigar, em quatro frentes, o suposto envolvimento da cúpula petista com o dossiê. O deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) apresentou dois requerimentos de convocação na Comissão de Fiscalização e Controle. O primeiro é para ouvir o ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, para explicar os gastos do governo com a Dialog na preparação do Encontro Nacional dos Prefeitos no ano passado. O outro, para convidar o marqueteiro americano Scott Goodstein, que teria vindo ao país, com passagens pagas por Benedito, para tratar da campanha de Dilma.

Já o líder da minoria, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), pediu auditoria ao Tribunal de Contas da União na Dialog e solicitou ao Ministério Público que investigue se houve triangulação com pagamentos das contas da pré-campanha petista. O deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), em nota, afirmou que ele e Serra seriam "alvos" de ações criminosas de pessoas vinculadas à pré-campanha do PT, e que vai entrar com notícia-crime na Polícia Federal para que seja averiguado o caso.

* Enviada especial

oglobo.com.br/pais