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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Globo 29/06 - - Tombo no esforço fiscal

Superávit primário despenca com pior resultado do governo em 18 anos para mês de maio

Gustavo Paul e Martha Beck
BRASÍLIA

Com o governo central (Tesouro, INSS e o Banco Central) fazendo o mais baixo esforço fiscal em 18 anos para um mês de maio, o superávit primário do setor público despencou para R$ 1,430 bilhão, após a economia para pagar juros alcançar R$ 19,7 bilhões em abril. Foi o segundo pior resultado no mês, superado só pelos números de 2009.

Ainda assim, devido ao forte ritmo da economia e à valorização cambial, a dívida líquida do setor público continua em queda em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), indicando situação fiscal confortável para o país a curto e médio prazos, mas mantendo o sinal de alerta.

Apesar de o endividamento ter crescido entre abril e maio, passando de R$ 1,370 trilhão para R$ 1,371 trilhão, a relação dívida/PIB caiu de 41,8% a 41,4% e deve chegar a 41,1% em junho, segundo o BC. Principal indicador da solvência do país, essa relação vem caindo ao longo dos anos e em 2010.

Em dezembro era de 42,8% do PIB e deve ficar abaixo de 40% no fim do ano.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, lembrou que a retração nos últimos meses foi considerável.

Ele citou as economias industriais do planeta, cujo endividamento deve crescer entre 2009 e 2010: — A trajetória da dívida é benigna, mostra retração ao longo do tempo.

Sazonalmente os números são ruins, mas a dívida se mostra sob controle.

Dívida bruta cresce para 60,1% do PIB

A queda do indicador deve-se mais à reavaliação do PIB do primeiro trimestre do que à economia para pagar juros. Outro fator foi a alta do real, que reduziu a parcela da dívida externa.

Mas a dívida bruta do governo — que exclui ativos do setor público — continua subindo: de 59,9% do PIB em março para 60,1% em maio. Lopes estima 59,7% em junho.

Os dados devem servir de alerta ao governo, diz o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani. Ele frisa que, apesar de o Brasil ter situação fiscal confortável sem risco a curto prazo, a perspectiva é ruim. Os gastos públicos, diz, continuam em expansão, principalmente os permanentes, como custeio e pessoal: — A atual política fiscal estimula o crescimento a curto prazo mas o inibirá a médio e longo. Mais gastos correntes e de pessoal induzem a mais juros e câmbio valorizado.

Em maio, o governo central apresentou déficit primário de R$ 1,431 bilhão, pior número para maio desde 1992, início da série histórica do BC. O maior responsável pelo rombo foi o INSS. O resultado só não foi pior porque foi compensado pelos governos regionais, com superávit de R$ 1,469 bilhão, e estatais (R$ 1,392 bilhão).

O Tesouro, que divulgou os dados do governo central, atribuiu o desempenho ruim do governo central a despesas maiores e queda de receitas. Os principais gastos foram a alta de R$ 2,4 bilhões nas transferências da União para estados e municípios e o forte ritmo dos investimentos.

Do lado das receitas, caiu a arrecadação de tributos com recolhimento trimestral em abril, como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido. Augustin frisou que os investimentos federais pegaram carona no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em maio, somaram R$ 4 bilhões, e em 2010, R$ 16,7 bilhões, alta de 80% sobre maio de 2009 — 58% reais (descontada a inflação).

— (investimento) é uma despesa que queremos ter — disse ele.

Os repasses mais fortes da União para estados e municípios se explicam pela alta da arrecadação de tributos partilhados, como o IPI. O secretário ressaltou que o comportamento dos gastos com pessoal é positivo pois embora haja alta nominal de 8,5% de janeiro a maio de 2010, a queda real é de 4,6%. Para Augustin, as contas estão equilibradas e, por isso, agências de risco como a Fitch têm feito relatórios com análise positivas do país: — No Brasil temos visto analistas enxergando dificuldades fiscais. Nós sempre dissemos que isso não existe.

O economista da consultoria Tendências Felipe Salto pondera: — O investimento cresce fortemente, é bom. Mas outros gastos também e isso pode não ser sustentável.

O superávit fraco de maio impediu o setor público de cobrir os R$ 16,1 bilhões em gastos com juros da dívida, levando a um déficit nominal de R$ 14,7 bilhões. Em 12 meses, o indicador subiu de 3,21% a 3,28% do PIB.

O mesmo “efeito PIB” que reduz a dívida torna difícil cumprir a meta de superávit cheia no ano, de 3,3% do PIB. O superávit em 12 meses em proporção do PIB caiu de 2,15% para 2,13%. Altamir Lopes diz ser possível chegar à meta, pois a arrecadação está crescendo e a partir de junho a economia sentirá o contingenciamento de R$ 10 bilhões.

Segundo o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, o país não terá superávit acima de 2,6% do PIB. Ele alerta que a queda da dívida está baseada só em crescimento e não em medidas fiscais: — Não há trajetória sustentável.

Folha 30/06 - - Irmão de Álvaro Dias decide se aliar a petistas

Osmar Dias (PDT) decidiu concorrer ao governo do Paraná, como aliado de Dilma Rousseff (PT). Ele dizia que não seria candidato se seu irmão Álvaro (PSDB) fosse indicado vice de José Serra. A indicação tucana abriu crise com o DEM.

Serra não estanca crise, e chapa sofre novo revés

Irmão de Alvaro Dias se lança ao governo e dá palanque para Dilma no PR

Após tensas reuniões e intervenção de FHC, PSDB e DEM não obtêm acordo sobre indicação do candidato a vice


DE SÃO PAULO

Não bastasse a crise com DEM, a chapa José Serra-Alvaro Dias sofreu ontem um novo revés. O senador Osmar Dias (PDT-PR) anunciou a decisão de concorrer ao governo do Paraná, consolidando palanque para a petista Dilma Rousseff no Estado.
Acertada ontem numa reunião entre Osmar e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a decisão representa um duplo golpe para a candidatura de Serra. Além de oferecer um palanque para Dilma, desmonta o principal argumento em favor de Dias na queda-de-braço entre PSDB e DEM para indicar o vice de Serra.
Até ontem, Osmar dizia que não seria candidato ao governo do PR caso Dias, seu irmão, fosse vice de Serra.
Ontem, porém, Osmar disse a interlocutores que, como não haverá "disputa direta" entre eles, não haverá problema em integrar outra coalizão.
Nas reuniões com o DEM, o tucanato usou a perspectiva de implosão do palanque de Dilma como motivo para indicação de Dias. Com a candidatura de Osmar, esse trunfo não existe mais.
No final da noite, a avaliação entre líderes tucanos era de que o lançamento da candidatura de Osmar fragiliza a indicação de Alvaro Dias.
Esse ingrediente azedará mais a relação com o DEM, que ameaçou suspender sua convenção, afinal confirmada para hoje, em Brasília. O presidente do partido, Rodrigo Maia, disse que "se possível" a sigla apoiará Serra. Após duas tensas reuniões, tucanos e democratas não chegaram a um consenso. Serra atuou diretamente e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado para tentar convencer os aliados a aceitar Alvaro Dias.
A definição sairia de um novo encontro da cúpula do DEM ontem à noite em Brasília -o terceiro em 24 horas.
Os democratas diziam que, sem acordo, a convenção poderia ser cancelada. O encontro acabou sem o anúncio do fim do impasse. A decisão ficou para a convenção de hoje, que começará às 8h.
Em telefonemas aos democratas, Serra apelou para o instinto de sobrevivência do DEM: alegou que o veto a Dias impõe risco não só ao PSDB mas ao futuro da aliança. Para pressionar, tucanos recrutaram democratas nos Estados nos quais o DEM depende do apoio do PSDB para ser mais competitivo: a ameaça é abandonar essas alianças se o DEM romper com o PSDB nacionalmente.
Convocado a pedido de Serra, FHC pediu responsabilidade a todos na reunião. Ao sair, não descartou o risco de ruptura: "Certeza [de que a aliança está mantida], nunca pode se dizer que sim".
A cúpula do DEM chegou a admitir até a substituição de Dias por outro tucano, mas mantinha o veto ao senador. Já o PSDB insistia no tucano. Apesar de a hipótese de recuo existir de ambos os lados, a estratégia é esticar a corda para ver quem cede. Se o DEM decidir manter o veto, o PSDB terá de negociar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Jornal do Brasil 29/06 - - Honduras é alvo de pressões

Denúncias de violação de direitos humanos recaem sobre governo Porfírio Lobo

Um ano depois da deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o governo liderado por Porfírio Lobo é alvo de duras críticas internacionais e luta para solucionar a crise política, que se arrasta desde então.

Ontem, no dia do aniversário do golpe, a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) convocou uma série de protestos, que incluíram bloqueio de rodovias e passeatas na capital Tegucigalpa e em San Pedro Sula.

O grupo pretende coletar mais de 1 milhão de assinaturas para legitimar a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Além da pressão interna da oposição, Porfírio Lobo enfrenta denúncias de organismos de defesa dos direitos humanos. A Anistia Internacional (AI) acusa o governo de fracassar na luta contra as violações cometidas há um ano. A organização acusa a impunidade dos membros das forças de segurança que cometeram abusos e a crescente preocupação pela liberdade de expressão, depois do assassinato de nove jornalistas.

Segundo a AI, até o momento ninguém foi acusado ou punido pelos abusos, que incluem atos de violência e prisões arbitrárias, além do fechamento de meios de comunicação e ataques sexuais contra mulheres e crianças. Outros 700 casos de violação foram denunciados no período.

No âmbito internacional, o Brasil e os países da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), com exceção de Colômbia e Peru, resistem em aceitar o retorno de Honduras à Organização dos Estados Americanos (OEA), de onde o país foi expulso após a queda de Zelaya. O grupo exige, como condição, o fim do exílio do ex-presidente e a sua reintegração à política, com garantias de que não haja perseguição contra ele.

Líderes sul-americanos também questionam a anistia concedida por Lobo à cúpula militar, antes da conclusão do comitê de investigação.

Estadão 29/06 - - 'Tem que definir. Estou desgastado demais'

Osmar Dias. Senador (PDT-PR).


Evandro Fadel / CURITIBA


Com voz abatida, demonstrando cansaço, o senador Osmar Dias (PDT-PR) atendeu ao telefone por volta das 18 horas de ontem. Tinha passado boa parte do dia, assim como o fim de semana, em reuniões para definir o melhor caminho: concorrer ao governo em coligação com PMDB e PT ou partir para a reeleição. Ele prefere o governo, mas aí seria o comandante do palanque de Dilma Rousseff (PT) no Estado. Entraria em conflito com o pacto que tem com o irmão, senador Álvaro Dias (PSDB), de não haver disputa entre eles. Álvaro é cotado para vice de José Serra. "Essa questão é forte para mim."


Qual a tendência, neste momento, sobre seu futuro político? Estou esperando a reunião do DEM, agora às 20 horas (ontem à noite), com o PSDB, para definir o que fazer. Não quero antecipar nada.

Essa definição sai quando?

Eu acho que depois dessa reunião vou ter como definir.

Pode-se esperar alguma coisa para amanhã (hoje)?

Tem que haver. Tem que decidir porque não se aguenta mais isso. Eu, principalmente, estou desgastado demais com esse troço.

O sr. sentiu-se encurralado com a indicação de Álvaro Dias como vice na chapa de Serra?

Nós temos um pacto de não disputar um contra o outro. Acho que a população não entenderia isso. Agora, eu já vinha como candidato a governador, estava com a aliança pronta, para anunciar, quando surgiu isso. Eu não tinha conseguido uma aliança, de repente ela apareceu na segunda-feira em Brasília, na terça e quarta nós fechamos, na quinta veio a notícia e aí embaralhou tudo.

Foi surpresa para o senhor?

Não foi surpresa porque vinha sendo conversado há algum tempo. Isso é que estava retardando e as pessoas achavam que era indefinição minha, mas não era. Era preocupação de não ficar em uma situação desagradável, como neste momento. Está muito difícil para mim.

No caso de ser candidato à reeleição, seria independente ou em coligação com o PMDB?

É cedo, eu vou esperar a reunião.

Em relação à disputa nacional, a amizade com o Serra pesa?

O meu partido tem uma posição e não abre mão. Sou amigo do Serra, mas tenho que seguir a orientação do meu partido.

O eleitorado vai entender que não há uma indecisão?

Pouca gente entende, eu estou em uma situação bastante complicada, num dilema pessoal, essa questão familiar é forte para mim. Principalmente do jeito que o Álvaro colocou na imprensa aqui, que a minha candidatura seria contrária aos interesses do Paraná em função da postulação dele.

O sr. não tem o mesmo entendimento?

Não. Estou preparado para ser governador. Eu me preparei, estudei o Estado, estou com projeto pronto. Mas tem que analisar essa situação nova, ela realmente é complicadora.

Estadão 29/06 - - Tucano tem mais votos do que Álvaro Dias no Paraná

Análise: José Roberto de Toledo

A escolha do senador tucano Álvaro Dias como candidato a vice de José Serra (PSDB) é difícil de entender. Com 5,6% do eleitorado nacional, o Paraná é um dos três Estados onde Serra vai melhor nas pesquisas. Lá, provavelmente, ele tem mais votos do que seu virtual companheiro de chapa.

Em maio, Serra tinha 46% das intenções de voto no Paraná, segundo o Vox Populi. Osmar Dias (PDT), irmão do senador Álvaro, tinha 33% na disputa para governador. O curioso é que Osmar estava atrás do tucano que realmente tem votos no Paraná, Beto Richa. Eleito duas vezes prefeito de Curitiba, é o que se poderia chamar de "tucano histórico", além de ser filho de um dos fundadores do partido, José Richa. Ou seja, não falta palanque forte para Serra no Paraná.

Já Álvaro Dias é um neotucano. Além do irmão pedetista, apoiou Lula e não Serra na eleição presidencial de 2002.

Serra vai pior no Nordeste e está perdendo terreno no Sudeste. Por isso, outros nomes cogitados, como o da carioca Patrícia Amorim, ou o do nordestino Sergio Guerra, faziam mais sentido eleitoral do que o de Dias. Uma das explicações ventiladas pelos tucanos para a escolha é evitar que Osmar Dias seja candidato a governador e dê um palanque para Dilma. Seria o rabo balançando o cachorro: uma questão paroquial definindo um problema nacional.

Se não é pelos votos que carreia, Álvaro Dias poderá ter outro papel na campanha, o de estilingue. Ele tem sido um dos principais críticos do governo e poderia assumir, no lugar de Serra, o ônus de atacar Lula e sua candidata. Se vestir esse figurino, Dias terá que ter uma performance excepcional para compensar a falta de votos e os dois minutos de propaganda que o DEM ameaça tomar de Serra por causa da escolha do vice tucano.

É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM ESTATÍSTICAS

Globo 29/06 - - Irã deixa negociações em suspenso até agosto

Ahmadinejad pede inclusão de independentes nas conversas, em referência a Brasil e Turquia. Mais firmas cortam negócios



TEERÃ. Mesmo isolado politicamente e cada vez sob maiores restrições econômicas, o Irã não dá sinais de se dobrar e anunciou ontem que só voltará a negociar o seu programa nuclear em agosto, como forma de punir as grandes potências por imporem sanções ao país. E para isso, o presidente Mahmoud Ahmadinejad impôs três condições: que os países participantes esclareçam se são contra ou a favor de Israel ter um arsenal nuclear; se apoiam o Tratado de Não Proliferação de Armas; e se desejam ser amigos ou inimigos do Irã.

Ahmadinejad sugeriu ainda que "países independentes que acreditam na justiça e no respeito" sejam convidados para as negociações. A declaração foi interpretada como um pedido para que Brasil e Turquia - que votaram contra a quarta rodada de sanções na ONU no início do mês - juntem-se ao grupo, formado atualmente pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha. Ele advertiu também que o Irã vai retaliar se seus navios forem inspecionados em busca de cargas suspeitas, como determinam as novas punições da ONU.

- Nós nos reservamos o direito de retaliar - disse Ahmadinejad. - Se alguns insistirem, a experiência mostra que podemos defender nossos direitos. Vão se arrepender fortemente.

Total e Repsol seguem sanções e suspendem contratos

As negociações entre o governo iraniano e a Agência Internacional de Energia Atômica estão paradas desde outubro. Em fevereiro, Teerã anunciou que começara a enriquecer urânio a 20% - deixando preocupados os países que temem que Teerã enriqueça a níveis ainda maiores para produzir uma bomba. Brasil e Turquia conseguiram, em maio, que o governo iraniano aderisse à proposta de enriquecimento de urânio no exterior, mas as potências responderam que o país já aumentara seu estoque e seguiram adiante aprovando novas sanções.

Ontem, Ahmadinejad voltou a afirmar que preferia comprar o urânio enriquecido no exterior. Mas disse que o país não estaria preparado para conversar antes da segunda metade do mês sagrado do Ramadã, no final de agosto. Para ele, essa demora "é uma punição" ao Ocidente.

Além das sanções da ONU - que adicionam mais 40 empresas do país a uma lista negra -, o Irã enfrenta ainda restrições adicionais dos Estados Unidos e da União Europeia.

Apesar da pressão, Ahmadinejad zombou das declarações do chefe do serviço de inteligência americano, Leon Panetta, de que o país já tem material para produzir duas bombas, e advertiu sobre possíveis acidentes no estoque nuclear americano, perguntando como um país que não consegue conter um vazamento de petróleo pode estocar milhares de bombas atômicas.

- Eles estão com tanto medo de duas bombas? Há 20 mil bombas estocadas e eles estão preocupados com a possibilidade da existência de duas? - perguntou.

A pressão econômica sobre o país cresceu ontem, depois que mais duas companhias de petróleo suspenderam negócios com o país. Embora exporte petróleo, o Irã precisa importar combustível.

A empresa francesa Total suspendeu a venda de gasolina, e a espanhola Repsol cancelou um contrato para desenvolver a exploração de gás no país. Antes, a Royal Dutch Shell, BP, Reliance Industries e a suíça Glencore já estavam entre os fornecedores de combustível que suspenderam os contratos com o Irã, já que as sanções aprovadas pelo Congresso americano punem quem forneça gasolina ao país.

Emirados congelam contas de empresas na lista negra

Complicando mais o cenário iraniano, o Banco Central dos Emirados Árabes Unidos ordenou às instituições financeiras que congelem as contas de empresas citadas na resolução da ONU. Os emirados e o Irã têm relações comerciais próximas, além de dezenas de milhares de iranianos viverem e trabalharem na região, principalmente em Dubai, mas os EAU estavam sob forte pressão para implementar as sanções - numa decisão que deixa o Irã ainda mais isolado.

- Os Emirados Árabes Unidos, Dubai especialmente, estavam sob muita pressão. Agora dão sinais de que estão do lado da comunidade internacional - disse Gala Riani, analista de Oriente Médio do IHS Global Insight.

Globo 29/06 - - Panorama Econômico :: Míriam Leitão

Desafio da hora

A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.

Os líderes mundiais, na reunião em que o Brasil se fez representar pelo ministro Guido Mantega, discutiram a decisiva questão de o que fazer nesta etapa da crise. De um lado, alguns países começam a retomar o crescimento, de outro, países estão ameaçados pelo crescimento exponencial dos déficits e das dívidas do setor público. O que eleva mais o risco de um crise em W, ou seja, com nova recaída mais adiante? O descontrole dos gastos públicos ou a retirada dos estímulos?


Alemanha e Inglaterra, em campos opostos no futebol no exato fim de semana, estiveram unidos na visão de que é preciso ser rigoroso com o corte de gastos e essa foi a posição vitoriosa: o comunicado final se comprometeu a reduzir à metade o déficit até 2013. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos não chegaram a ser eliminados. O presidente Barack Obama entrou em campo dizendo que era preciso manter os estímulos econômicos pela recuperação porque o fortalecimento da economia virá da criação de empregos. Esta posição, que o Brasil apoiou, está no comunicado final. Mas o espectro que ronda a Europa é o de que o peso dos déficits extravagantes mantenha a onda de desconfiança em relação às dívidas que acabe pondo em crise os bancos que carregam estes títulos.

O FMI defendeu que o corte de déficit vai fortalecer a economia. Apresentou até números: a economia mundial cresceria 2,5% mais rapidamente se os Estados Unidos e os países mais ricos cortarem seus déficits mais fundo do que estão planejando. Na TV online do "Wall Street Journal", o âncora Paul Vigna disse que o resumo da reunião do G-20 é uma palavra: austeridade.
O dilema do G-20 foi respondido de forma diferente do que o Ministério da Fazenda queria. O sinal mais forte foi de aperto fiscal, apesar de ter sido também contemplada no documento a preocupação com os estímulos. Não é trivial esse pós-choque de 2008. Como uma pedra jogada no lago, a crise continua provocando ondas sequenciais.

O Brasil não está fora dos riscos, mesmo vivendo momento muito bom. A Europa é um grande parceiro comercial-econômico do Brasil, um grande investidor. Os números divulgados pelo Banco Central mostraram o efeito da crise europeia nas contas externas: queda dos investimentos diretos e aumento das remessas das multinacionais europeias para melhorar suas matrizes estão aprofundando o déficit em transações correntes do Brasil. A confortável situação das reservas nos protege de piores perigos, mas de qualquer maneira o Brasil não está imune. Nenhum país está.

O xadrez é complexo e não há uma solução simples. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião do fim de semana na Basiléia, ressaltou a necessidade de controle dos déficits públicos para tentar evitar novos problemas com os bancos dos países desenvolvidos que poderiam levar à nova crise. Guido Mantega em Toronto falou com jornalistas brasileiros sobre a necessidade de manter os estímulos econômicos e deixar o corte do déficits para depois. É o time do Brasil jogando de forma desencontrada, como joga aqui dentro.

Até por isso a palavra do presidente Lula em Toronto seria importante. Em momentos diplomáticos como a cúpula do G-20, os líderes dos países se reúnem nas reuniões formais e em encontros paralelos. Ao sair de um desses com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, o presidente Barack Obama disse que quando o primeiro-ministro indiano fala, o mundo ouve, pela sua liderança e influência crescentes.

A China fez mais uma das suas. Disse antes que iria valorizar o yuan e assim livrou sua política cambial de ser um dos pontos de controvérsia da reunião. Deixou uma referência a esse compromisso até a penúltima versão, mas na última versão retirou o trecho dizendo que a política cambial é soberana. Assunto interno chinês. Falso. O tema afeta o mundo inteiro.

Outra questão decisiva ficou para a próxima reunião: a regulação bancária. Os grandes bancos terão que se adaptar à nova regulação americana e terão que enfrentar novas exigências de capital e de medidas contra riscos numa regulação global. O que ganharam agora foi apenas o adiamento de discussões detalhadas para novembro.

Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.

A próxima reunião será em Seul, em novembro, quando o governo Lula estará chegando ao fim.

Globo 29/06 - - Líder tucano diz que crise com DEM pode 'comprometer a nossa vitória'

ELEIÇÕES 2010


PSDB insiste em chapa puro-sangue; sigla aliada mantém rejeição a Álvaro Dias


Adriana Vasconcelos, Flávio Freire e Sílvia Amorim

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Apesar dos esforços de parte a parte para tentar contornar a crise deflagrada entre PSDB e DEM - por causa da vaga de vice na chapa do candidato tucano à Presidência, José Serra -, o clima entre representantes dos dois partidos continuou tenso ontem. Políticos dos dois lados entraram em campo ontem para tentar diminuir a tensão, mas setores do DEM insistem em não aceitar a escolha do senador tucano Álvaro Dias (PR) - e ameaçam nos bastidores deixar a coligação.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), fez ontem um alerta, em entrevista à Rádio CBN. Disse que a vitória da oposição nas eleições presidenciais deste ano pode ser comprometida se continuar o impasse.

- Temo que tenhamos, neste episódio, atuado para comprometer a nossa vitória. Não é a questão de um partido ter o apoio do outro. Já votamos com o Democratas, e o Democratas vota conosco há muitos anos. O problema é ter unidade, tranquilidade, e uma solução construtiva para a luta que enfrentaremos - disse Guerra.

Numa resposta indireta ao ultimato que o DEM prometia dar aos tucanos ontem, ameaçando não formalizar a aliança na convenção nacional marcada para amanhã, Sérgio Guerra disse que o PSDB fez só uma sugestão ao indicar o nome de Álvaro Dias:

- Não houve anúncio de vice. Houve sugestão de um nome. Porque o senador tem uma liderança de qualidade, é um dos senadores mais bem aprovados do Brasil, tem uma presença no Congresso que todo mundo valoriza. É um excelente candidato a vice-presidente, porque fala bem, explica bem e conhece bem. Além do mais, significaria a consolidação de uma vitória grande que esperamos ter no Sul do país, de uma maneira geral, e no Paraná, em particular.


Guerra : "solução é manter Álvaro"

No PSDB, a substituição de Álvaro Dias era considerada impossível até ontem à noite. Mas os tucanos admitem rever a situação de alguns palanques estaduais ainda conflagrados, como Pará e Goiás.

- A solução é manter o Álvaro Dias e discutir uma consolidada concessão nos estados - afirmou Guerra.

O PSDB avalia que uma saída do DEM da coligação também traria danos ao aliado, que perderia o apoio dos tucanos em Santa Catarina, Bahia e Sergipe. Os tucanos veem esse cenário como a grande moeda de troca para convencer o DEM a ficar na aliança, mesmo com a oficialização da chapa puro-sangue.

O DEM, porém, continuava irredutível até o início da noite de ontem, quando estava previsto um encontro entre o presidente nacional do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), e Serra. Essa reunião só aconteceria se os dirigentes de DEM e PSDB chegassem antes a um acordo.

Em nota, o líder do DEM, José Agripino (RN), atuou como bombeiro para amenizar o clima de confronto com os tucanos: "Na relação entre o DEM e o PSDB não pode haver ultimatos nem fatos consumados. A história de parcerias e reciprocidades entre os dois partidos recomenda a superação das divergências pelo diálogo e pela determinada busca do entendimento".

Rodrigo Maia procurou mostrar empenho na busca por um entendimento. Mas disse que teria "um diálogo firme" com os tucanos, para mostrar a insatisfação de seus liderados.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Folha 28/06 - - Folha e UOL fazem debate inédito na web

Presidente 40 Eleições 2010:

Dilma, Serra e Marina aceitam participar; sinal será aberto para os outros portais interessados em transmitir

Único debate previsto até agora apenas com os 3 principais candidatos vai permitir um melhor confronto das propostas

DE SÃO PAULO

A Folha e o UOL, o maior jornal e o maior portal de notícias do Brasil, promoverão com os três principais candidatos à Presidência um debate eleitoral inédito a ser transmitido em vídeo, ao vivo, pela internet, no dia 18 de agosto. Se houver segundo turno, haverá novo encontro em 21 de outubro.
Já aceitaram formalmente participar Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Os três candidatos estarão frente a frente por duas horas e meia, a partir das 10h30 da manhã -quando a internet em geral registra a maior audiência.
Metade do debate será apenas entre os próprios candidatos fazendo perguntas entre si. Um moderador controlará o tempo.
Na segunda parte do debate, os candidatos responderão a perguntas de internautas, que serão coletadas pelo UOL e pela Folha.com ao longo das próximas semanas.
Ao final, Dilma, Serra e Marina responderão a perguntas formuladas por jornalistas da Folha e do UOL.
Com o objetivo de democratizar o acesso ao encontro, todos os meios de comunicação interessados poderão compartilhar e transmitir o sinal de áudio e vídeo do debate. Portais de internet, emissoras de rádio, TVs e outros veículos terão amplo acesso para fazer a cobertura jornalística do evento.

SEM NANICOS
A legislação eleitoral impõe restrições à realização de debates em emissoras de rádio e de TV. É necessário convidar todos os candidatos cujos partidos tenham eleito deputados em 2006 e continuem com representação no Congresso. Há sete concorrentes a presidente neste ano nessa situação, sendo que dois terços (cinco) precisam aceitar as regras propostas para o encontro.
No caso da internet, a liberdade é plena. Não existem restrições. Dessa forma, o debate Folha/UOL entre presidenciáveis deve ser o primeiro -e talvez o único- no primeiro turno que contará apenas com os três candidatos principais -sem necessidade de convidar os postulantes com taxas muito pequenas nas pesquisas.
Nos quatro debates já anunciados por emissoras de TV (Bandeirantes, Rede TV!/ Folha, Record e Globo), o número de candidatos presentes deve ser maior do que três, tornando o confronto de propostas mais difícil.
As negociações da Folha e do UOL com os três candidatos para chegar a um acordo sobre data e formato se arrastaram por quase seis meses.
Apesar de a lei ser clara, parte dos candidatos mostrou incerteza sobre realizar o encontro sem atender às regras impostas à TV e ao rádio.
Como meios de comunicação não podem formular perguntas diretamente ao plenário do Tribunal Superior Eleitoral, a Folha e o UOL fizeram então um pedido de esclarecimento por meio de consulta formal apresentada pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). O TSE dirimiu todas as dúvidas no dia 16 passado, liberando a web para realizar debates eleitorais.
Durante as negociações para preparação do debate Folha/UOL, chegaram a ser propostas datas em abril, maio, junho e julho. Serra e Marina acabaram aceitando a data de 19 de julho, mas Dilma preferiu o encontro apenas em agosto.
"A confirmação da presença da candidata Dilma Rousseff nesse evento da Folha e do UOL mostra nossa disposição de debater programas para o Brasil seguir mudando", declara o coordenador de comunicação da campanha petista, o deputado estadual Rui Falcão (SP).
"O candidato José Serra participará do debate da Folha e do UOL porque está disposto a confrontar ideias e propostas. Só lamentamos que a candidata do PT tenha preferido fazer esse debate apenas em agosto e a Folha tenha concordado com isso", informou a equipe de campanha do tucano.
Para João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina, "o debate na Folha e no UOL é fundamental para promover um amplo diálogo com a sociedade".

Folha 28/06 - - Marina muda tom e agora flerta com a base de Lula

Presidente 40 Eleições 2010:

Verde amplia elogios ao presidente e aposta no slogan de "outra Silva"

Aliado diz que senadora conhece o potencial da "marca Lula"; ela nega ter alterado o discurso com objetivos eleitorais

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

A chegada de um operário ao poder tirou 25 milhões de pessoas da pobreza e mostrou que é possível crescer com distribuição de renda.
O presidente Lula não precisa de um opositor, mas de um sucessor que saiba reconhecer suas conquistas e fazer o país avançar mais.
O povo brasileiro perdeu o medo de ver um Silva no Palácio do Planalto.
As ideias acima podiam estar numa cartilha petista, mas foram apresentadas nas últimas duas semanas pela candidata do PV à Presidência, Marina Silva.
Depois de iniciar a campanha com críticas duras ao governo, ela mudou o tom e adotou um discurso mais ameno, valorizando as semelhanças com o ex-chefe.
A guinada foi discutida na cúpula verde, após pesquisas mostrarem que a senadora começava a ser vista como uma figura de oposição ao líder mais popular da história recente do país.

OUTRA SILVA
Desde o dia 10, quando elogiou o presidente pela redução da pobreza na convenção do PV, Marina investe para aproximar sua imagem à de Lula -cujo governo tem aprovação recorde de 76%, segundo o Datafolha.
Aliada do petista em suas cinco campanhas presidenciais, ela tem ressaltado pontos em comum de suas trajetórias. Os dois têm origem pobre, driblaram a fome e entraram na política ao lado dos movimentos sociais.
O flerte com o eleitorado lulista ganhou um esboço de slogan no dia 16, quando a senadora disse, na sabatina da Folha, que "as pessoas que votaram no Lula vão continuar votando num Silva, só que na Marina Silva".
Na quinta-feira, ela brincou com neologismos eleitorais da política mineira para sugerir que espera o voto de quem aprova o presidente.
"O pessoal está fazendo junções e criando nomes exóticos, como Pimentécio e Dilmasia. Eu nem preciso disso, porque já sou naturalmente Silva", afirmou.
A senadora disse à reportagem que "o povo aprendeu a não ter medo dos Silvas". "Passaram anos assombrando que o Silva não dava certo, mas agora o pessoal perdeu o medo."
O aliado Airton Soares defende a guinada no discurso: "Marina sabe o potencial eleitoral da marca Lula. Por isso tem procurado mostrar sua proximidade com ele".
Para o ex-deputado, ela deve aproveitar a popularidade presidencial por ter integrado o governo até 2008. "Marina seria uma sucessora mais natural de Lula do que a Dilma", provoca ele.
Questionada, a candidata disse não ter mudado sua avaliação do governo com fins eleitorais. "Não tenho elogiado mais. Nunca fiz diferente do que estou fazendo. Mas, à medida que tenho mais espaço, isso vai aparecer mais", justificou.
A convenção do PV marcou a entrada de outro elemento novo no repertório de Marina, que pediu orações para que o "Brasil possa ter a primeira mulher negra, de origem pobre", no Planalto.
Em setembro de 2009, ela afirmou à revista "Veja" que seria "oportunismo" explorar na campanha o fato de ser "mulher, negra e de origem humilde". Anteontem, disse não ver contradição entre as duas declarações.
"Obama não negava que era negro, não teve que fazer um curso de Michael Jackson para ser presidente. Não posso negar minhas raízes e minha trajetória humilde. Mas não vou usar isso para polarizar a disputa", prometeu.

Folha 28/06 - - DEM recua e articula saída política para crise com PSDB

Cúpula decide acabar com as críticas públicas à escolha de vice de Serra

Apesar de temperatura de episódio ter baixado, atrito entre PSDB e DEM persiste; solução deve sair até a quarta-feira

DE BRASÍLIA
DO RIO
DE SÃO PAULO

A alta cúpula do DEM se reuniu ontem no apartamento do presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), e decidiu fazer um recuo a respeito das críticas à escolha do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) como candidato a vice na chapa encabeçada pelo tucano José Serra. Os dirigentes demistas agora devem baixar o tom em público.
A ideia é tentar uma saída política até depois de amanhã, dia 30 de junho -data limite para a formalização de alianças eleitorais e também quando o DEM realiza sua convenção nacional.
Na última sexta, eclodiu uma crise entre DEM e PSDB. Depois de um longo processo de negociação, os tucanos anunciaram a escolha de Dias como candidato a vice.
A decisão veio a público por meio de uma declaração de Roberto Jefferson, do PTB.
O DEM reagiu em peso. Vários líderes passaram a dar entrevista sugerindo o rompimento da aliança nacional. Consideram-se preteridos.
Jefferson aumentou a temperatura fazendo um xingamento no Twitter. "O DEM é uma merda", escreveu. Depois, apagou a nota.

POUCA OPÇÃO
Ontem, a direção do DEM continuou achando que o processo de escolha de Dias foi ruim. Mas vários integrantes contemporizaram. Avaliam não haver muita escolha para o partido, uma sigla de centro-direita e aliada quase sempre ao PSDB.
Se não aceitar a coligação com o PSDB, o DEM terá o seu tempo de rádio e de TV dividido proporcionalmente entre todos os candidatos.
Dessa forma, nas contas anunciadas ontem na reunião, a candidata ao Planalto pelo PT, Dilma Rousseff, ficaria com 61% do tempo demista. Serra receberia só 29%.
Entre os que defenderam uma saída política -mantendo o apoio formal a Serra- estavam o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o deputado federal ACM neto (BA) e o ex-presidente nacional da legenda Jorge Bornhausen.
Os mais radicais a favor de romper com Serra caso Dias não saia foram Rodrigo Maia, o deputado Ronaldo Caiado (GO) e Vic Pires (PA).
Ao final, todos concordaram em recuar a respeito de fazer críticas públicas. Caberá a Rodrigo Maia buscar saída honrosa para continuar dando apoio a Serra.
Ainda não está claro qual será essa saída. Apesar de a temperatura ter sido menor ontem, dirigentes tucanos dizem ser inviável a retirada de Alvaro Dias da vaga de vice.
Os demistas ouvidos pela Folha continuam dizendo, embora de maneira reservada, que não aceitam Dias.
Rodrigo Maia, porta-voz do encontro, disse: "Nada mudou. Unidade em defesa do partido, sem querer nenhum estresse ou pressão. Esse é o caminho natural [indicar nome para vice na convenção]. E tudo que é natural é fácil de ser explicado".
A eventual "saída honrosa" para o DEM seria algum gesto da direção do PSDB ou do próprio Serra. O discurso a ser adotado deve ser sobre manter a unidade em favor do projeto comum de poder.
O deputado Juthay Júnior (PSDB-BA), um dos articuladores políticos de Serra, disse: "Tenho a esperança de que o DEM, em sua maioria, compreenda que a escolha do Alvaro é a que melhor agrega apoio político e eleitoral à candidatura".
Pivô da crise, Dias disse ter telefonado para "vários" demistas no fim de semana.
"Não me cabe nessa hora, até porque eu acabo sendo suspeito, não cabe a mim propor caminhos. O que eu tenho que fazer é exatamente mostrar respeito por eles, mostrar que o partido tem valor e que eu tenho exata noção da importância do partido", afirmou Dias. (FERNANDO RODRIGUES, RANIER BRAGON, LUCAS FERRAZ, ÍTALO NOGUEIRA, CÁTIA SEABRA e BRENO COSTA)

Folha 28/06 - - Política e humilhação

Brasília - Fernando Rodrigues: Política e humilhação

BRASÍLIA - Não é novidade dizer que o Democratas (ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL) é um partido em decadência. Chegou a 105 deputados na era FHC, contente em ser linha auxiliar do PSDB. Tinha cargos e a Vice-Presidência. Hoje amarga 56 cadeiras na Câmara e acaba de ser humilhado pelos tucanos.
O PSDB escolheu o senador tucano Álvaro Dias (PR) para ser o candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por José Serra. Poucos demistas foram avisados da decisão com antecedência. Pior. Coube a Roberto Jefferson (PTB), deputado cassado por causa do escândalo do mensalão, anunciar o fato. O DEM reagiu de forma vitriólica.
Líderes demistas foram a público mostrar indignação. Ameaçaram romper a aliança nacional com o PSDB. A repulsa durou pouco mais de 48 horas. Ontem, a direção do DEM fez um recuo tático. Resolveu interromper as críticas públicas.
O maior partido de centro-direita do Brasil viu-se diante de uma bifurcação. De um lado, o opróbrio, a vergonha. A legenda foi preterida. Os tucanos deram um recado: nenhum dos 56 deputados ou 14 senadores do DEM serve para ser candidato a vice-presidente de José Serra. A sigla não seria limpa o suficiente para estar numa chapa tucana. Mas, ainda assim, terá de dar seus preciosos minutos na TV e no rádio -e ajudar anonimamente o PSDB a voltar ao Planalto.
O outro caminho nessa bifurcação é o DEM dar um grito de liberdade. A sigla se mantém neutra. Assim, seu tempo de propaganda eleitoral é dividido proporcionalmente entre quem permanece na disputa. Nessa hipótese, Dilma Rousseff (PT) herda 60% dos minutos demistas no rádio e na TV.
Esse é o dilema do DEM: 1) buscar uma posição independente (e acabar ajudando o PT de forma indireta) ou 2) aceitar bovinamente a humilhação imposta pelo PSDB. A decisão precisa ser tomada nesta semana. Façam suas apostas.

Folha 28/06 - - Pastelão tucano

São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Pastelão tucano

SÃO PAULO - Sobre a escolha dos vices, a primeira pergunta que se faz é: o que ele agrega? O que ele (ou ela) acrescenta à candidatura? Em relação ao PT, a resposta é simples: Michel Temer não acrescenta nada, mas o PMDB dobra o tempo de TV de Dilma Rousseff.
José Serra subverteu a lógica. No seu caso, o processo de escolha do vice serviu para escancarar a desagregação da campanha. Poucas vezes se assistiu a um espetáculo tão desastroso como esse que o tucanato nos oferece desde a última sexta.
Se lhe fosse dada a oportunidade de fazer um roteiro para os adversários, o bom João Santana, marqueteiro petista, talvez não conseguisse ser tão criativo.
Depois de prolongar ao limite a novela do vice, Serra optou, sem convicção, por Álvaro Dias. Em 2002, afastado do PSDB, ele havia apoiado Lula contra o mesmo Serra. Isso, porém, ficou em segundo plano, diante de tanta trapalhada.
Foi Roberto Jefferson, do PTB, quem fez o anúncio, pelo Twitter. Preterido e humilhado, o DEM se revoltou em bloco. E, também pelo Twitter, botou a boca na vuvuzela: escolha "inconsequente e desastrosa", disse o deputado Ronaldo Caiado, completando -"Se na campanha nos tratam assim, imaginem se o PSDB ganhar?". "O sotaque do senador Dias vai chegar muito bem ao Nordeste... argh!!!!!!", vuvuzelou Cesar Maia.
A reação foi tanta que o PSDB, depois de tomar a decisão, divulgou nota dizendo que a indicação estava "sendo apreciada por líderes e presidentes dos partidos". O próprio Álvaro Dias deu declarações contraditórias: "Se o DEM tiver que sair, saio eu", disse, para depois dizer que não sairia, não senhor.
Pelo menos até quarta, quando o DEM faz a sua convenção, o pastelão deve prosseguir. Mas o vexame já é fato consumado. A campanha tucana está em frangalhos.
Serra ainda pode vencer? Até pode. Mas dá a impressão de que gostaria de fazê-lo sem vice, sem aliados, só ele -sozinho, sozinho.

Roriz monta aliança que inclui PSDB no Distrito Federal

Conforme previsto na Lei da Ficha Limpa, político poderia ficar inelegível até 2023; Roriz nega ""condenação""

Rafael Moraes Moura e Andrea Jubé Vianna


Ameaçado de ter a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) apresentou ontem sua chapa na corrida ao Palácio do Buriti. Palanque de José Serra no DF, Roriz costurou uma ampla aliança local com sete legendas, entre elas o PSDB, que lançou o nome de Maria de Lourdes Abadia ao Senado.


Por ter renunciado ao cargo de senador em 2007 para escapar de um processo de cassação, Roriz poderia ficar inelegível até 2023, conforme previsto na Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o político acredita que vai conseguir concorrer, alegando que não tem "condenação". "Eu não sei o que é Ficha Limpa, não tenho condenação. Renunciei ao mandato de Senador da República dispensando todas as mordomias", discursou para um auditório lotado no centro da capital.

Em 2007, o político foi flagrado num diálogo em que acerta com o então presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklin de Moura, o desconto de um cheque de R$ 2,2 milhões da Agrícola Xingu destinado ao empresário Nenê Constantino, fundador da empresa aérea Gol. Roriz alega que os recursos seriam oriundos de empréstimo pessoal para comprar o embrião de uma bezerra. Revelado em julho de 2007, o episódio culminou com a renúncia.

"Querem ganhar a eleição no tapetão. Lá no tapetão eu não aceito, vai pra rua, vai buscar os voto (sic), se ganhar nos votos, eu serei o primeiro a telefonar para parabenizar", continuou.

Na avaliação do advogado de Roriz, Eládio Carneiro, a decisão do TSE não se reportou especificamente sobre os casos de renúncia. "Roriz goza hoje de todos os direitos políticos. Em 2007, não havia nenhuma penalidade para quem abrisse mão do seu mandato", disse. Caso não consiga o registro da candidatura, Carneiro pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"O Serra tem um forte palanque no DF", disse Maria de Lourdes Abadia ao Estado.

A convenção de Joaquim Roriz mobilizou partidários do candidato, que se deslocaram da periferia ao centro da capital em vans e ônibus. Segundo Viviane Barroso, líder comunitária de Samambaia, as despesas com transporte e alimentação foram pagas pelas próprias lideranças locais.

Agnelo. Ainda sob impacto da maior crise de corrupção da história do Distrito Federal, uma aliança de vários partidos sacramentou a candidatura do ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz (PT) ao Palácio dos Buritis.

Serra vai encontrar líderes do DEM para conter rebelião contra vice tucano

Eugênia Lopes

A crise deflagrada entre o PSDB e o DEM, que ameaçou romper a romper a aliança com o presidenciável tucano José Serra, deve chegar ao fim nas próximas horas, com o recuo dos democratas e a consolidação da chapa puro-sangue da oposição na disputa pelo Planalto.

Depois de ensaiar por três dias uma rebelião contra a indicação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa do tucano, os líderes do DEM pretendem se reunir ainda hoje com Serra para tentar encerrar o impasse na aliança entre os dois partidos.

"Vamos conversar para que a gente possa avançar de forma unida na campanha do Serra. Nós queremos a vitória do Serra", afirmou ontem o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "O partido está 100% unido, esperando que o PSDB entenda que precisa dialogar, conversar." Na véspera, Maia deu duras declarações admitindo apenas a hipótese de o vice de Serra sair dos quadros do DEM.

Almoço. As negociações para acabar com crise começaram ontem à tarde, no Rio, em um almoço oferecido por Rodrigo Maia a nove integrantes da cúpula do DEM. Numa reunião de cerca de cinco horas, o partido discutiu as saídas para desfazer o mal-estar com os tucanos. Ficou acertado que Serra precisa sinalizar ainda hoje que vai enquadrar os tucanos que resistem a abrir mão de suas candidaturas para o DEM nos Estados. O maior imbróglio é no Pará e em Sergipe.

Na reunião, o partido se dividiu em dois grupos. Um deles, mais radical, defendeu o fechamento de questão em torno da tese de que o vice de Serra tinha de ser do DEM. Faziam parte desse grupo os deputados José Carlos Aleluia (BA), um dos cotados do partido para ser o vice do tucano, e Ronaldo Caiado (GO), além do ex-prefeito Cesar Maia.

Prevaleceu, no entanto, a tese da ala mais moderada e numerosa: a necessidade de um encontro com o presidenciável para tratar das alianças nos Estados e mostrar que o DEM tem sérias dificuldades em aceitar o nome de Álvaro Dias. No almoço, os líderes do partido avaliaram que foi péssima a repercussão interna com a escolha de Dias para vice.

Preocupado, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), telefonou duas vezes, durante o almoço, para Rodrigo Maia. Deixou claro que, se for necessário, o PSDB vai enquadrar os dissidentes, a exemplo do que foi feito pelo PT da presidenciável Dilma Rousseff.

"O DEM está firme na indicação do vice. É a condição dele para votar no Serra. E o PSDB indicou o Álvaro Dias. A primeira coisa é sentar e fazer uma avaliação. Não pode ter esse cabo de força", argumentou Guerra.

"Esperamos que o DEM, como parceiro importante do projeto de vitória da candidatura Serra, compreenda que essa escolha é extremamente benéfica não só no Paraná, mas também no resto do Brasil", emendou o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), um dos articuladores da campanha de Serra.

Kassab. O encontro previsto para hoje com Serra deverá ser com o presidente do Conselho Político do DEM e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o ex-presidente partido Jorge Bornhausen, além de Rodrigo Maia. Os democratas definiram ontem que a convenção do DEM só será realizada nesta quarta-feira caso os dois partidos cheguem a um acordo.

Estadão 28/06 - - SP ganha um pedágio a cada 40 dias; tarifas sobem novamente na quinta

Desde 1998, quando começaram as concessões, 112 praças de cobrança foram abertas no Estado - no resto do País, existem 113


Felipe Grandin

Desde o início da privatização das rodovias de São Paulo, em 1998, foram instalados 112 pedágios nas estradas paulistas - o equivalente a uma praça nova a cada 40 dias. O Estado já tem mais pedágios do que todo o resto do Brasil. São 160 pontos de cobrança em vias estaduais e federais no território paulista, ante 113 no restante do País, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias.

Nos últimos 12 anos, a segurança e a qualidade das rodovias melhoraram, mas os altos preços cobrados se tornaram alvo frequente de críticas dos motoristas. Nesta semana, as reclamações devem aumentar ainda mais. Os pedágios nas rodovias estaduais serão reajustados a partir da 0h de quinta-feira (1.º) e terão tarifas "quebradas" em R$ 0,05. O principal pedágio do sistema Anchieta-Imigrantes vai aumentar de R$ 17,80 para R$ 18,50.

Para se ter uma ideia, ficou mais barato viajar a outro Estado do que internamente. Cruzar de carro os 404 quilômetros entre a capital paulista e Curitiba, no Paraná, por exemplo, custa R$ 9 em tarifas. Já para cobrir distância semelhante até Catanduva, por exemplo, é preciso desembolsar R$ 46,70.

Isso se explica, em parte, pelo modelo adotado no programa de concessões paulista. As licitações, em 1998 e 2008, levaram em conta o montante que as empresas ofereciam ao Estado para ter a concessão, a chamada outorga. A vantagem é que o dinheiro pode ser aplicado em novas estradas. Por outro lado, esse valor é repassado aos motoristas.

Já o modelo adotado pelo governo federal faz a concessão àquele que oferecer a menor tarifa. O benefício é o preço mais baixo; a desvantagem, a falta de verba para investir. As Rodovias Fernão Dias e Régis Bittencourt, privatizadas em 2008, continuam em estado precário. Críticos afirmam que o pedágio não foi suficiente para cobrir os custos da recuperação das estradas.

Qualidade. As rodovias estaduais não têm esse problema: ocupam as dez primeiras posições entre as melhores do País, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes. E são aprovadas por 93,6% dos usuários, de acordo com a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). Segundo estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) em 2007, no entanto, o pedágio estadual é um dos mais caros do mundo, superando autoestradas da Europa e dos EUA.

"É incontestável que a qualidade das rodovias concedidas é superior" diz a urbanista Silvana Maria Zioni, da Universidade Federal do Grande ABC. Mas, para ela, está na hora de reavaliar as concessões. "A economia mudou, as tarifas subiram, a arrecadação aumentou, mas não há investimento na mesma medida."

A Artesp alega que as outorgas permitiram o investimento de R$ 12 bilhões nas rodovias. Para a agência, falar em "média mensal de praças instaladas" não é pertinente, pois a definição da instalação das praças foi feita em apenas dois momentos: na primeira e na segunda rodadas de concessões, em 1998 e 2008.

As tarifas levaram à criação este ano do Movimento Estadual Contra os Pedágios Abusivos, por grupos que se sentem prejudicados. Eles fizeram a primeira reunião em Indaiatuba, uma das áreas afetadas. Do encontro saiu a Carta de Indaiatuba, que defende revisão dos contratos e proibição de novos pedágios sem que haja debate com a sociedade.

Estadão 28/06: Skaf propõe ensino pago na USP

Para candidato do PSB, é incoerente alguém que possa pagar a universidade estude de graça e ocupe o lugar de quem não tem condições

Wellington Bahnemann

O candidato ao governo de São Paulo pelo PSB, Paulo Skaf, afirmou ontem que, se eleito, poderá adotar o sistema de cobrança de mensalidade nas universidades paulistas para estudantes com condições para arcar com as despesas do ensino universitário.


"Isso é um estudo. Acredito que vale uma discussão em torno disso, porque é incoerente que alguém que possa pagar não pague nada e ocupe o lugar de quem não tem condições", defendeu Skaf, durante a convenção estadual do partido que homologou sua candidatura.

Para Skaf, o tema exige avaliação cuidadosa, pois o custo do estudante universitário para o governo estadual é elevado. "Tudo que for relacionado à inovação e à pesquisa deve ser mantido e ampliado. O que for relacionado aos alunos, precisa ser avaliado."

Outra proposta do candidato do PSB é a redução do preço do pedágio para os motoristas paulistas. Segundo Skaf, a ideia é utilizar o valor arrecadado pelo Estado com o IPVA para garantir a redução de 100% no pedágio entre meia-noite e 7 horas e de 50% entre 7 horas da manhã e meia-noite. "Isso teria impacto de R$ 1 bilhão na parcela do IPVA referente ao governo estadual", explicou. De acordo com a ideia, até 50% do IPVA pago pelos usuários de veículos seria usado para compensar o pedágio.

De acordo com candidato, essa é a alternativa encontrada para corrigir uma distorção que prejudica os cidadãos do Estado sem quebrar o contrato com as concessionárias. "Em alguns trechos, paga-se R$ 200 de pedágios. Isso não é bom para as famílias nem para o transporte de comércio. Algo precisa ser feito, mas os contratos não podem ser quebrados", disse o candidato do PSB, acusando o PSDB de não ter pensando nos usuários quando adotou o atual modelo de concessão de rodovias para a iniciativa privada no Estado de São Paulo.

Skaf comentou que outra proposta na área de pedágios é o alongamento do prazo de concessão das rodovias com a redução das tarifas cobradas. "Mas, nesse caso, a redução não seria significativa", reconheceu.

Discurso. Em sua primeira disputa para um cargo político, Skaf aproveitou o seu discurso para se apresentar ao eleitorado, a exemplo do mote da campanha nas propagandas na televisão. Além de ressaltar a experiência adquirida ao longo dos anos durante a presidência da Fiesp, Sesi e Senai e argumentar que sua candidatura representava um compromisso com a modernidade na gestão pública, boa parte do discurso foi centrado nas propostas na área de educação. Skaf acrescentou que pretende adotar nas escolas públicas de São Paulo ações tomadas no Sesi e no Senai: educação em tempo integral no ensino fundamental e integração entre o ensino médio e técnico.

Apesar das pesquisas eleitorais indicarem seu nome conta com apenas 2% das intenções de voto, Skaf argumentou que um levantamento recente apontou que 80% do eleitorado paulista não escolheu seu candidato para o governo estadual.

"Isso mostra que depende só de nós. Faremos uma surpresa para quem acha que o PSB está brincando em serviço."

Ausências. Cerca de 4 mil pessoas participaram ontem da convenção do PSB, entre militantes, líderes regionais, deputados estaduais e federais e pré-candidatos. No entanto, o vereador Gabriel Chalita e a deputada Luiza Erundina, figuras de expressão do PSB no Estado, não compareceram ao evento. Erundina já manifestou publicamente que não apoiará Skaf por ser um candidato ligado ao empresariado.

Estadão 28/06 - - Mato sem cachorro :: Marcelo de Paiva Abreu

A semana passada foi bastante adversa para a candidatura de José Serra à Presidência da República. Pela primeira vez Dilma Rousseff passou a liderar as pesquisas de opinião, explicitando o que já era sabido sobre a combinação da popularidade do presidente Lula com a eficácia na transferência de votos para a sua candidata. Mas não foi essa a única má notícia para a candidatura Serra.

Há muitas razões para questionar a candidatura Rousseff: desejável alternância de poder, que criaria condições para desmontar, ao menos parcialmente, o aparelhamento da máquina pública; a limitada legitimidade política da candidata, em vista de sua falta de exposição prévia a processos eleitorais; as carências pessoais da candidata e seu estilo baseado na crença na substituição persistente da competência pela veemência.

Tal questionamento poderia ser ainda aprofundado pelo contraste entre programas alternativos de governo. Tarefa que seria, em princípio, facilitada pela pouco verossímil conversão de Dilma Rousseff às virtudes de uma política econômica prudente e quanto ao papel do Banco Central. Para não falar das ideias extremadas da candidata quanto às vantagens da ação do Estado na esfera econômica.

A entrevista de José Serra no programa Roda Viva, na segunda-feira passada, foi, contudo, outra má notícia para a oposição. Por estranho que pareça, é exatamente quando trata de assuntos econômicos - tema no qual se crê especialista - que o candidato expõe opiniões claramente equivocadas.

Evidenciando fixação algo doentia, retomou o tema Banco Central, repetindo críticas que já havia feito em relação a alegados erros da política monetária, na esteira da crise econômica mundial. Em nenhum momento foi mencionado que, segundo a legislação vigente, o Banco Central tem como objetivo manter a inflação sob controle, pautado por metas fixadas pelo Conselho Monetário Nacional. A preocupação fundamental do candidato seria o câmbio apreciado. Quando perguntado sobre qual deveria ser a política para enfrentar a entrada de capitais externos, dedicou-se a explicar as diferenças entre capital produtivo e especulativo, como se tal contraste fosse relevante do ponto de vista do impacto sobre a taxa de câmbio. O problema seria resolvido, segundo o candidato, "numa nice". O candidato não elucidou o que isso significava nesse contexto específico...

Nas críticas à atuação do Banco Central do Brasil, ocupou lugar proeminente o contraste com o banco central chileno. Lá, segundo Serra, não há política "cucaracha" (sic), como aqui, pois o ministro da Fazenda participa das decisões relativas à política monetária. Mas quase tudo o que se sabe sobre o arranjo institucional chileno contraria as afirmações do candidato. O ministro da Fazenda do Chile de fato tem voz, mas não voto, em tais reuniões. Além disso, os diretores do Banco Central do Chile têm mandato fixo e a definição das metas inflacionárias e da política cambial cabe ao próprio banco.

Pelo que se pode depreender das críticas de Serra, o regime que lhe pareceria mais conveniente seria algo bem diferente do chileno. O ministro da Fazenda teria peso suficiente para fazer valer sua influência, a despeito do que pudesse ser a posição da diretoria do Banco Central. Como ministro da Fazenda é cargo de confiança do presidente, o que se propõe é que o presidente controle as decisões do Banco Central. Difícil pensar que não agrade ao candidato simplesmente ejetar o regime de metas, cabendo ao Palácio do Planalto decidir qual seria o "pouquinho de inflação" aceitável.

Outro tema econômico abordado na entrevista, indiretamente associado à política monetária, foi a proteção à produção doméstica em relação à penetração das importações estimuladas pelo que lhe parece a apreciação cambial indevida. O candidato lançou-se em discurso de denúncia de alegada dependência excessiva da indústria brasileira em relação à importação de insumos, citando nominalmente a Embraer como uma empresa que seria problemática por importar "60% ou 70% da sua produção". Como se a empresa pudesse ser competitiva sem a importação maciça de componentes. Citando jingles estudantis, lamentou uma situação em que o Brasil "exporta aço e importa navios". Que o aço seja exportado para a China e seja incorporado em manufaturas chinesas exportadas para o Brasil lhe parece especialmente objetável.

São ideias que revelam perigoso banzo em relação ao Brasil autárquico e estão alinhadas ao retrospecto do candidato como paladino dos interesses do setor automotivo em meados da década de 1990.

O candidato da oposição tem renegado, de forma sistemática, os pilares do programa econômico implementado durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O mais grave é que tal postura abre espaço para que Dilma Rousseff se aproprie de uma plataforma econômica relativamente modernizante e deixe o atraso por conta da oposição. O eleitor está num mato sem cachorro em face da triste escolha entre a perpetuação perigosa do poder lulista e as propostas econômicas equivocadas da oposição.

DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

Estadão 28/06 - - Panos quentes no Mercosul

Ministros brasileiros e argentinos anunciaram em São Paulo a criação de um fundo de US$ 100 milhões, com recursos dos dois países, para financiar projetos de tecnologia de empresas argentinas. O encontro ministerial foi realizado por decisão dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, no final de um encontro em 28 de maio, no Rio de Janeiro. Quando os dois presidentes se encontraram, o grande tema da agenda era mais um conflito motivado pela adoção de medidas protecionistas pelas autoridades argentinas. Esse deveria ser, também, o assunto principal dos ministros, mas a grande novidade apresentada no fim do encontro foi a constituição do fundo com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco de la Nación Argentina e do Banco de Inversión y Comercio Exterior. E o problema comercial?


São "questões pontuais" e naturais, segundo o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. Ele e o seu colega da Fazenda, Guido Mantega, logo se desviaram do assunto, na entrevista após a reunião. Os argentinos Amado Boudou, da Economia, e Débora Giorgi, da Indústria e Comércio, também mostraram dar pouca ou nenhuma importância a esse tipo de conflito.

Portanto, o governo brasileiro mais uma vez tratou com panos quentes um importante conflito comercial com a Argentina ? e mais uma vez o maior sócio do Brasil no Mercosul foi estimulado a apelar quando quiser para o protecionismo. O mais novo problema surgiu quando empresários argentinos foram instruídos pelo governo a recusar alimentos de origem brasileira, se houvesse produtos similares nacionais. A instrução foi informal e, segundo fontes empresariais ouvidas pela imprensa, reforçada com ameaças de pressão fiscal.

A iniciativa, atribuída ao secretário de Comércio, Guillermo Moreno, deu resultado, segundo informaram empresários dos dois países. Houve queixas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e as autoridades de Brasília tiveram de oferecer alguma resposta. Prevaleceu, como ocorre quase sempre, a chamada diplomacia presidencial. Segundo a versão oficial do encontro do presidente Lula com sua colega argentina, a presidente Cristina Kirchner negou que houvesse qualquer determinação contra importações de alimentos brasileiros. Essa explicação, repetida pelo ministro Miguel Jorge, foi considerada satisfatória.

Todos os problemas comerciais com a Argentina têm sido contornados dessa forma e o protecionismo continua sendo uma permanente ameaça. As barreiras criadas ou aumentadas a partir de 2008, com a exigência de licenças de importação, continuam vigorando. O governo argentino só fez uma concessão: prometeu abreviar o processo de licenciamento para o prazo de 60 dias, o máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). E o governo brasileiro se mostrou muito feliz com essa ridícula concessão, como se o licenciamento prévio fosse um procedimento normal e aceitável no comércio entre sócios de uma união aduaneira.

O caso da ordem transmitida pelo secretário Guillermo Moreno é especialmente importante porque envolve uma tentativa de mistificação. Sem determinação escrita, não haveria prova documental a respeito de mais essa iniciativa protecionista. Foi uma clara tentativa de introduzir a malandragem ? ou de agravá-la ? no comércio entre os dois maiores sócios do Mercosul.

Ao aceitar um triste papel nessa relação, o governo brasileiro, além de prejudicar legítimos interesses nacionais, compromete o futuro do Mercosul, porque nenhum projeto de integração regional pode dar certo quando é tratado com tanta leviandade.

Diplomacia presidencial pode ser útil para a solução de questões incomuns, urgentes e de extrema gravidade. É um erro usar esse canal de entendimento para abafar conflitos como aqueles criados pelo protecionismo.

Um bloco regional só se consolida quando as normas são respeitadas e se tornam parte do dia a dia. O bom funcionamento dos mecanismos de integração não pode ser uma condição excepcional. Tem de ser um fato rotineiro, referência constante para o planejamento dos negócios. A diplomacia dos panos quentes é um obstáculo à integração, um risco para o Mercosul.

Globo 28/06 - - O Irã vai ser líder em tecnologia :: Wanderley de Souza

Cada vez mais os dados disponíveis mostram claramente a existência de forte correlação positiva entre a capacidade científica e tecnológica de um país e o seu desenvolvimento econômico.

A existência de uma forte base científica e tecnológica assegura maiores possibilidades de desenvolvimento. A conscientização crescente dos diferentes governos tem propiciado um crescimento no investimento em Ciência e Tecnologia pela grande maioria das nações, levando a um crescimento contínuo na contribuição científica oferecida pelos diferentes países e que pode ser mensurado pelo número de artigos científicos publicados em revistas especializadas.

Em 1981, os 50 maiores produtores de conhecimento científico foram responsáveis pela publicação de 468.707 artigos, enquanto que em 2007 este número foi de 1.184.426, o que representa um aumento de cerca de duas vezes e meia em 26 anos. Alguns países crescem a cada ano- veja-se o que vem acontecendo com a China.

Nos últimos meses o Irã tem sido o foco da atenção mundial em parte devido ao seu programa nuclear que, a julgar pelo que tem sido descrito na imprensa, vem obtendo avanços significativos no enriquecimento de urânio. Qual a base científica atual do Irã e como tem evoluído a atividade científica em países da região como Israel, Egito e Turquia? Em 1981, o Irã ocupava a quadragésima sétima posição, enquanto Israel, Egito e Turquia ocupavam a décima sétima, a trigésima terceira e a trigésima posição, respectivamente.

Em 2008, o Irã chegou à vigésima sexta posição enquanto os demais ocupavam a vigésima, a quadragésima e a décima quinta posição, respectivamente. Esses dados apontam para um crescimento significativo da atividade científica na Turquia e no Irã. Eles são abrangentes e consideram todos os campos da atividade científica.

Os dados em duas áreas estratégicas, a área biomédica e a nanotecnologia, são indicadores do estágio atual. Estudo publicado em dezembro último no "Clinical Trial Magnifier" aponta o Irã como o país onde ocorrem as taxas mais elevadas de crescimento da produção biomédica mundial, tendo crescido cerca de 25 vezes apenas nos últimos dez anos. Na área biomédica tem publicado mais artigos que Hong Kong, Nova Zelândia, Cingapura e a Rússia. Neste mesmo período o número de instituições de pesquisa iranianas na área biomédica aumentou de quatro para sessenta e quatro, o que explica o vigor do crescimento das ciências biomédicas no país. Cabe lembrar que esta é uma área que incorpora a moderna biotecnologia e suas aplicações em vários campos.

Na estratégica área da nanotecnologia, que vem produzindo uma revolução em vários setores industriais, a presença do Irã também é marcante. Em 2003, o Irã ocupava a qüinquagésima primeira posição na produção de conhecimentos nesta área. Neste mesmo ano Brasil, Israel e Turquia ocupavam a décima nona, a vigésima primeira e a trigésima quarta posições. Em 2009, o Irã já atingiu a décima quinta posição, enquanto os demais países ocuparam a décima nona, a vigésima terceira e a vigésima quarta posições, respectivamente.

Os dados acima deixam claro que, além da questão nuclear, sempre polêmica, e das considerações de caráter religioso, uma intensa transformação mais discreta vem ocorrendo na Ciência e Tecnologia da velha Pérsia. Seguindo as taxas de crescimento alcançadas nos últimos anos, muito em breve o Irã assumirá uma posição de liderança no desenvolvimento científico e tecnológico regional.

WANDERLEY DE SOUZA é professor da UFRJ e e diretor de Programas do Inmetro. Foi secretário-executivo do Ministério da Ciência e da Tecnologia e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio.

Globo 28/06 - - DEM se reúne com Serra para dar ultimato

ELEIÇÕES 2010


Em encontro, hoje, partido dirá que, se não puder ter vice, aliança com tucano pode ser rejeitada em convenção


Ilimar Franco, Gerson Camarotti e Chico de Gois

BRASÍLIA. Com pouco tempo, uma vez que a convenção do partido é nesta quarta-feira, o DEM vai se reunir hoje com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, para dar um ultimato: ou o PSDB desiste da chapa puro-sangue ou haverá o risco de a legenda ficar fora da coligação. O DEM dirá que, se não puder indicar o vice, haverá ameaça de a aliança nacional em torno do tucano ser rejeitada na convenção. O partido tem um trunfo: um tempo de 2 minutos e 9 segundos na TV. Atrás de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de intenção de votos, o ex-governador de São Paulo aposta na propaganda em rádio e TV para tentar reverter a situação.

Na última sexta, o PSDB decidiu indicar o senador Álvaro Dias (PR) para vice, o que causou rebelião no DEM. O assunto foi discutido ontem, no Rio, pela cúpula do partido, em reunião na casa do presidente nacional da sigla, Rodrigo Maia. Estavam presentes, além dele e do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; o ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen; o líder da legenda na Câmara, Paulo Bornhausen; o líder no Senado, José Agripino; o deputado José Carlos Aleluia; a ex-vice-governadora do Pará Valéria Pires - como Aleluia, cotada para vice de Serra - e os deputados Antonio Carlos Magalhães Neto e Carlos Melles.

No encontro, duas teses foram discutidas. Um grupo defendia o rompimento da aliança, caso não tenham a vice. Outro, mais moderado, preferia tentar conversa com Serra para lhe dar chance de mudar de ideia. Prevaleceu essa segunda visão.

O DEM ficou indignado com a possibilidade de o PSDB fazer concessões nos estados para acalmar o partido e fazê-lo desistir da vaga de vice.

- As questões estaduais e a questão nacional não se misturam. Até porque cedemos em 15 estados; eles, só em quatro - disse Rodrigo Maia, para quem o partido está unido na decisão.

José Carlos Aleluia resumiu o sentimento do partido:

- Esta solução é inaceitável. Queremos buscar um entendimento. Mas não com essa preliminar de chapa puro-sangue - afirmou. - Não há quem segure uma convenção do DEM para aprovar isso. O PSDB errou. Eles correm o risco de perder uma fortuna no tempo de televisão. Se fizermos uma convenção com esses termos, será uma guerra.

Na avaliação de Cesar Maia, segundo relatos, a eleição foi perdida no momento em que o candidato escolhido foi Serra, e não o ex-governador Aécio Neves. Para os demistas, não se ganha a eleição presidencial pelo Paraná, numa alusão ao estado do senador Álvaro Dias. Ex-líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS) tem mesma opinião.

Dias disse que ontem conversou, por telefone, com Rodrigo Maia e que teria ouvido dele que o veto a seu nome não era questão pessoal, mas programática:

- É do jogo democrático buscar espaço. Ninguém desiste antes do tempo. Estou convicto de que a aliança vai chegar a bom termo.

Globo 28/06 - - Ricardo Noblat

" -A eleição, nós já perdemos . Não podemos perde o caráter".

-Rodrigo Maia, presidente do DEM. o primeiro a jogar a toalha.

Dunga & Serra


JOHANNESBURGO – O que há em comum entre a seleção de Dunga e a oposição ao governo Lula reunida em torno da candidatura a presidente de José Serra? Respondeu que ambas estão destinadas à derrota? Errou. Um dos encantos do futebol é que nem sempre vence o melhor time. Por mais que jogue bem, pode perder. Na política, vence quem joga melhor.
Vamos aos pontos em comum. Dunga não faz a menor questão de parecer simpático. Serra faz – embora nem sempre consiga. A antipatia de Serra poderá lhe roubar votos. A de Dunga estressa o time. Foi assim no jogo Brasil x Portugal. A certa altura, Dunga disparou grosserias contra o zagueiro Lúcio, o melhor jogador brasileiro em campo. Lúcio reagiu irritado. Mais tarde, em entrevista coletiva, Dunga elogiou Lúcio.

Serra e Dunga cultivam a paranoia de que a mídia os persegue. Se não persegue pelo menos não os trata com a devida consideração. Da mídia, os que precisam dela cobram adesão incondicional. Adesão disfarçada não os satisfaz. E reclamam quando não têm. Dunga e Serra reclamam de barriga cheia – mais Serra do que Dunga. Se o hexa for adiado, aí, sim, Dunga terá motivos de sobra para reclamar – com ou sem razão.

Os dois armaram seus times para jogar da defensiva. Em 1994, com Dunga como capitão, o Brasil foi tetra na Copa disputada nos Estados Unidos. Derrotou a Itália nos pênaltis. Exibiu um futebol medíocre – de resto muito semelhante ao que tem mostrado nesta Copa. Por que o futebol é o mais amado dos esportes? Entre outros motivos por sua beleza. A troca da beleza por resultados conspira contra o amor pelo futebol.

Como Serra imagina derrotar Lula? Dizendo que continuará o que ele fez e prometendo fazer muito mais? Poupando o governo de críticas como se ele fosse a oitava maravilha do universo? O que Serra tem a propor para os mais de 30 milhões de brasileiros que saíram da miséria nos últimos oito anos? E para aqueles que ainda chafurdam nela? Na retranca não irá a lugar algum. Ou melhor: verá Dilma indo para o lugar de Lula.

Falta um cérebro na oposição, que ameaça se desagregar em torno de Serra antes mesmo do início oficial da campanha marcado para o próximo dia cinco. Assim como falta um cérebro na equipe montada por Dunga. Rivaldo foi o cérebro da equipe que em 2002 ganhou o penta na Alemanha. Ainda em fase de recuperação, Kaká é apenas um aspirante à condição de cérebro. Júlio Baptista? Brincadeira!

A oposição entrou em campo apostando no talento de uma geração envelhecida de políticos da qual o próprio Serra faz parte. Que apelo representam nomes como os de Jorge Bornhausen, Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel, Orestes Quércia, Tasso Jereissati e Jarbas Vasconcelos, por exemplo – esse último obrigado a concorrer ao governo de Pernambuco só para que Serra pudesse ter um palanque por lá?

Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, soaria como algo novo caso tivesse sido escolhido para candidato a presidente. Venceria a eleição? Dificilmente. Mas fortaleceria seu nome para a seguinte. Lula também não venceu as três primeiras eleições presidenciais que disputou. Esta deverá ser a última da vida de Serra. E até aqui ele tem tudo para perdê-la. Arrisca-se a ir para o vestiário ao fim do primeiro turno.

Em parte, Dunga foi mais sábio do que a oposição. Descartou uma geração envelhecida de craques – Ronaldo, O Gordo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Adriano e Rogério Ceni. Em compensação, resistiu em aproveitar o que havia de mais novo e promissor – Hernandes, do São Paulo, Ganso e Neymar do Santos. Não me venham lembrar que Ganso foi operado outro dia. Quem poderia ter previsto?

No futebol, um título pode ser ganho em cima de um erro idiota do adversário. Na política, só o grande erro derrota quem pinta como vencedor. Em quem aposto minhas fichas – Dunga ou Serra? Por um sou obrigado a torcer. Pelo outro só me cabe observar.

Estadão 28/06 - - Qual oposição? :: Carlos Alberto Sardenberg

Tucanos e democratas estão diante de um problema que esperavam evitar: fazer oposição a Lula. Mais complicado ainda: precisam descobrir rapidamente como fazer isso, depois de terem passado muito tempo achando que José Serra seria uma espécie de sucessor natural de Lula.

Assim, tucanos e democratas, formalmente na oposição, não construíram uma alternativa consistente a Lula. Temendo a popularidade do presidente, deixaram para lá um outro programa. O eleitor saberia que Serra tem "biografia" muito superior à de qualquer nome que o PT pudesse apresentar. Dilma Rousseff, então, uma "sem biografia", seria moleza enfrentar.

Mas agora, uma vez que Lula não deixa Dilma só na campanha e demonstra que a coisa é, sim, com ele mesmo, tucanos e democratas se perguntam: do que mesmo a gente não gosta nesse governo?

Eis o ponto: não é que PSDB e DEM farão abertamente ataques que deixavam reservados, precisam definir quais pontos serão atacados e quais alternativas, propostas. Por exemplo: Serra tem atacado os juros altos e o real valorizado, mas não diz como vai resolver a coisa. Não é trivial. Uma redução, digamos, rápida e forte dos juros, combinada com uma desvalorização do real, traria pressão inflacionária e redução do poder aquisitivo da população.

O candidato tem sugerido nas suas entrevistas que saberá como administrar isso. Parece acreditar que os juros são excessivamente elevados por causa de barbeiragens do Banco Central (BC) de Henrique Meirelles, o que tornaria a solução muito fácil. Bastaria um BC mais esperto.

Muita gente, porém, acha que, se fosse tão simples assim, obviamente os juros já estariam lá embaixo. O problema parece mais complexo, tendo que ver com múltiplos fatores, tais como endividamento público elevado, baixa capacidade de investimento do País, indexação de preços ainda muito ampla, falta de conversibilidade do real. Mas não há nenhum programa tucano-democrata sobre isso.

De novo, aqui, o candidato e seu pessoal dizem ao eleitor: acredite, Serra sabe fazer. Ora, Lula diz: eu estou fazendo, crescimento forte com inflação baixa, e Dilma vai fazer igualzinho. Dilma repete: não se mexe em nada na política econômica, os juros já caíram muito e vão cair mais com o tempo.

Em quem o eleitor acreditará?

José Serra também revelou algum desconhecimento sobre essa história de bancos centrais. Disse que gostava do modelo chileno, no qual, acrescentou, o ministro da Fazenda participa da decisão sobre a taxa básica de juros.

Errado. O ministro da Fazenda lá pode participar das reuniões do BC, pode falar, mas não vota. Além disso, o BC chileno tem sua autonomia e independência garantida pela Constituição. Seus cinco diretores, indicados pelo presidente da República e eleitos pelo Congresso, têm mandatos de dez anos, podendo ser demitidos apenas em circunstâncias excepcionais, mediante processos legislativos e jurídicos. E mais: os mandatos dos cinco diretores não coincidem, mas vencem a cada dois anos. Assim, num governo de cinco anos, o presidente indica apenas dois diretores do BC.

Trata-se de um dos bancos centrais mais independentes do mundo - exatamente o contrário do que Serra vem pregando.

Como essa, há diversas outras questões fortes para as quais tucanos e democratas não têm proposta. Eles criticam o "aparelhamento" do governo Lula, que é um alvo, mas o problema maior é o inchaço da máquina pública e os frequentes reajustes salariais concedidos a todas as categorias.

Continua assim, se a oposição vencer? Ou há algum programa de redução do número de funcionários e/ou reforma administrativa? Reforma da Previdência?

No Congresso, tucanos e democratas têm votado a favor de festivais de reajustes salariais e aumento de gasto público. Como podem falar em austeridade nas contas públicas?

De novo vem a conversa do candidato que sabe fazer.

Falam em carga tributária elevada, mas onde está o compromisso com uma redução de impostos, tema que certamente tem o interesse da classe média? Ou haverá esse compromisso?

E assim vai. Tucanos e democratas acreditavam que o eleitor saberia que Serra faria um governo melhor que o de Dilma. Agora, precisam convencer o eleitor de que Serra fará melhor do que Lula. Vão precisar mostrar mais argumentos que a biografia.

Serra corre o risco de 2002, invertido. Lá atrás, não queria ser o candidato da situação, mas não tinha como ser da oposição, da mudança. Agora, não quer ser oposição a Lula, mas não tem como ser como a situação, a continuidade.

Petrobrás. No dia 9 de junho, em Natal, o presidente Lula disse que as refinarias de petróleo em construção no País não seriam feitas, se a decisão dependesse da Petrobrás. O parecer técnico da estatal, segundo o presidente, sustentava que as refinarias existentes já davam conta da demanda. E esse é mesmo um ponto de vista bem espalhado não apenas no Brasil, mas no mundo - de que há capacidade suficiente nas refinarias.

Mas Lula mandou fazer. Em Natal, disse que foi uma "decisão de governo". Mas algum tempo atrás, em entrevista ao jornal Valor Econômico, menos modesto, havia dito que mandara mudar os planos da Petrobrás. Segundo o presidente, as refinarias são necessárias para gerar atividade econômica no País e para a exportação. Uma tese, mas o que ocorre se o parecer técnico da Petrobrás estiver correto, de que haverá excesso de capacidade? As refinarias aqui ficarão ociosas, sendo, pois, um mau investimento.

O governo Lula está impondo enormes tarefas e, pois, investimentos à Petrobrás, que precisa de financiamentos e capital para tudo isso. E a estatal já parece atrapalhada com isso tudo, como sugerem as confusões em torno da capitalização.

domingo, 27 de junho de 2010

Estadão 27/06 - - A crise é do candidato Serra

João Bosco Rabello


O fato de o anúncio do vice na chapa de José Serra, o senador Álvaro Dias, ter vazado, em vez de ter sido anunciado, resume o ambiente de campanha do PSDB: confuso e desarticulado.


A escolha - provisória ou definitiva, não se sabe - não foi de Serra, mas do partido, sem consulta aos aliados, num gesto mais na linha de um clube de notáveis que de um partido.

O problema é que restou um único notável a bordo: o próprio Serra. Aécio Neves internou-se em Minas e Fernando Henrique, rejeitado como um patinho feio, foi cuidar da própria vida.

A campanha centrou-se no candidato; a estrutura é precária, cada um é porta-voz de si mesmo. Nesse contexto, o principal aliado, o DEM, soube pelo Twitter de Roberto Jefferson, do PTB, que havia sido preterido por uma chapa puro-sangue, com Dias no lugar de Aécio.

Serra já decidira que, sem Aécio, o melhor seria um vice figurativo, o que o levou a nomes inexpressivos, desconsiderando o acordo de que, naquela hipótese, a vaga seria do DEM, humilhando o aliado, que percebeu o desconforto ideológico que causava.

O Twitter de Jefferson uniu o DEM. E as próximas horas definirão o destino da aliança: se efetiva ou burocrática, limitada a acordos regionais sem envolvimento da militância.

A declaração de Dias, de que desiste para pacificar, e o gesto de Pilatos de Serra, dizendo-se alheio à decisão, indicam que tudo pode voltar à estaca zero.

Guerra versus Jarbas

As coisas não vão bem entre o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e o senador Jarbas Vasconcelos, palanque de Serra em Pernambuco. Segundo interlocutores de ambos, eles não conversam há mais de dois meses. Uma das razões é que o PSDB não quer indicar a segunda vaga ao Senado (a primeira é do DEM, Marco Maciel). Guerra está irritado com a influência do DEM na campanha, através da boa relação entre Jarbas e o presidente do partido no Estado, Mendonça Filho.

Pesquisa inclui Álvaro Dias

Para complicar mais um pouco a crise com o DEM, o próximo Datafolha já vem com Álvaro Dias como vice de Serra. O instituto protocolou sexta-feira no TSE a pesquisa, cujo resultado deve sair no próximo fim de semana. Na rede Twitter, o veneno ontem era de que o Datafolha soube antes do DEM que o vice seria Álvaro Dias.

A novidade é que o questionário apresentado pelo instituto inclui perguntas sobre o candidato a vice-presidente. Numa delas, o eleitor é questionado se sabe quem é o vice e se ele influencia o voto no candidato. Amadorismo

Desabafo de um senador tucano, antes do vazamento do nome de Dias para vice de Serra. "A campanha está mambembe, tudo é improvisado, há amigos fazendo tarefas por favor, no lugar de profissionais contratados". Um exemplo, segundo ele, é a agenda do candidato, cuja definição depende da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS). Reclamou também da concentração das decisões e das informações, e que jamais recebeu um briefing da campanha, que deveria ser diário.

Dilma em Minas

Enquanto o PSDB exibe desorganização, o presidente Lula e sua candidata, Dilma Rousseff, preparam um desembarque glorioso na convenção do PMDB, em Belo Horizonte, na próxima quarta-feira, para lançar a candidatura de Hélio Costa ao governo, com Patrus Ananias de vice. À frente de uma caravana do PMDB, Michel Temer, vice de Dilma.

Folha 27/06 - - Ferreira Gullar: A arte de enganar

Vejo Lula como o oposto de tudo o que seu partido prometia trazer à vida política brasileira

ÉTICA NA política é coisa rara, qualquer que seja o partido. É surpreendente, no entanto, que o partido que nasceu empunhando a ética como bandeira tenha se tornado a expressão da antiética. Certamente, haverá, no próprio PT, exemplos louváveis de políticos que não se deixam seduzir, seja pela esperteza, seja corrupção, mas não são estes que dão as ordens na equipe do presidente Lula.
Não quero cometer injustiças mas, se não é mera impressão minha, vejo o presidente Lula como o oposto de tudo o que seu partido prometia trazer à vida política brasileira. Posso estar enganado, mas, se bem o percebo, ele, com a sua esperteza sindicalista, induz os que atuam sob seu comando a pôr de lado todo e qualquer escrúpulo: manipulam informações, falseiam a verdade dos fatos, forjam dossiês com falsas acusações, acusam vítimas de os estarem caluniando. Esses são alguns dos procedimentos comuns ao governo do atual presidente.
Os exemplos não faltam. Todos sabem que um dos objetivos de Lula, no plano internacional, é conseguir, para o Brasil, um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Em face de sua desastrada aliança com Ahmadnejad, de que resultou o isolamento do país, uma repórter perguntou ao ministro Celso Amorim se esse isolamento não inviabilizaria aquela pretensão do governo brasileiro.
A resposta dele não foi própria à de um ministro de Estado, que tem a obrigação de prestar contas à opinião pública. Disse ele: "É engraçado, os que consideravam tolice do governo pretender um lugar no Conselho de Segurança, agora lamentam a possibilidade de o perdermos". Ora, não importa o que certas pessoas pensavam da pretensão do governo; importa, sim, que o governo pretendia alcançar aquele objetivo e o inviabilizou por se ter aliado a uma ditadura belicista. Admiti-lo seria aceitar que errara e Lula, claro, não erra...
Mas assim é esse governo, só assume como coisa sua o que lhe dê prestígio, ainda que sua não seja, como no caso da defesa do meio ambiente. Alguém já viu, no plano internacional, uma comédia semelhante à representada por Lula e Dilma durante a reunião do clima em Copenhague?
O país todo sabe que Marina Silva deixou o Ministério do Meio Ambiente porque Dilma, então ministra da Casa Civil, seguindo as ordens de Lula, impunha a aprovação, a toque de caixa, dos projetos do PAC, ainda que atentassem contra a preservação do meio ambiente. No entanto, em Copenhague, ambos, apareceram como defensores da preservação ambiental. O tema é tão distante das preocupações de Dilma que ela, num ato falho, soltou uma frase reveladora do que realmente pensa da ecologia.
Nesse terreno da farsa descarada, um dos últimos episódios foi o do novo dossiê que o PT preparava para caluniar o candidato José Serra, mais um dentre outros, como aquele que foi escandalosamente flagrado num quarto de hotel, em São Paulo, quando a polícia apreendeu, em mãos de uma quadrilha petista, uma montanha de dinheiro. Em face de tão incontestável flagrante, Lula imediatamente chamou os responsáveis pela falcatrua de "aloprados", ou seja, tendo de admitir que era gente sua, tratou de desqualificá-los, como se agissem por conta própria. Como sempre, ele e seu partido nunca sabem de nada, desde que vire escândalo.
Surgiu, recentemente, outro dossiê e, de novo, contra Serra. Um dos convidados a armar a falcatrua abriu a boca e a denunciou, voltando a confirmar a denúncia numa CPI da Câmara de Deputados. A reação de Lula e seu partido não podia ser outra: afirmam que o dossiê foi inventado para acusar o PT e, assim, mais uma vez, o vilão se torna vítima e a vítima, vilão.
Um exemplo, para concluir. A equipe econômica do governo afirmara que, se aprovado pelo Congresso, o aumento de 7,7% para os aposentados comprometeria o equilíbrio orçamentário do país.
Mas Lula, que só pensa na eleição de Dilma, contrariando a opinião de seus ministros, sancionou o aumento e alegou: "Não é isso que vai levar o país à bancarrota". Só que ninguém afirmara tal coisa.
Como sempre, ele responde a uma afirmação que ninguém fez, para escamotear a verdade. A verdade é que esse aumento eleitoreiro agrava o déficit da Previdência, que já chega a R$ 50 bilhões.

sábado, 26 de junho de 2010

26/06 - - Merval Pereira

Quem é o vice?

De repente, quando ninguém queria ser o vice de José Serra, abre-se uma crise na coligação oposicionista justamente devido à disputa pelo posto. Os últimos dias foram gastos em reuniões infindáveis para analisar o que estaria acontecendo no Sudeste para permitir a ultrapassagem da candidata oficial logo na região onde a oposição tinha mais possibilidade de se impor ao governo.

As pesquisas recentes confirmavam que o país está dividido, desde a eleição de 2006, mesmo com a alta popularidade do presidente Lula, e que as questões regionais têm mais preponderância na escolha do voto que ideologias.

Toda a estratégia oposicionista está baseada em garantir as regiões “tucanas” e tentar reduzir a diferença nas dominadas pelo “lulismo”.

Na mais recente pesquisa do Ibope, em que surgiu pela primeira vez a candidata oficial, Dilma Rousseff, à frente de Serra, o candidato tucano melhorou no Nordeste (27% para 30%) e no Norte/ Centro Oeste (31% para 34%), cumprindo assim com sucesso a estratégia.

Mas caiu justamente nas duas regiões em que predomina o eleitorado “tucano”. No Sul, caiu de 46% para 42%, mas ainda lidera a disputa. E, no Sud e s t e , registrou se a maior reviravolta: Serra caiu 5 pontos, indo para 36%, e Dilma cresceu 4 pontos, alcançando um empate técnico.

Numa visão otimista, é melhor que essa mudança tenha se registrado em regiões onde o PSDB e aliados são fortes, pois indicaria que há condições de reverter esse processo.

U m processo , aliás , que teve início na ameaça de dissidência do Rio de Janeiro na chapa de Fernando Gabeira, com o PV e o PSDB reagindo a uma coligação com o DEM de Cesar Maia.

Por pouco a convenção para ratificar a candidatura de Gabeira não se realizou.

Por mais dificuldades que os parceiros tenham para caminharem juntos, é preciso fazer movimentos coordenados com os aliados, e não é isso o que está se vendo na escolha do vice.

O processo decisório começou com um equívoco político realmente sério, com a ideia de emplacar a vereadora Patrícia Amorim, do PSDB do Rio, c o m o c ompanheira de chapa de Serra.

Chegou a haver consultas sérias a respeito, e o melhor argumento a favor era o de que a vereadora, presidente do Flamengo, poderia levar para a candidatura um sopro popular no Rio de Janeiro, com reflexos em outros estados do país onde a torcida do Flamengo é grande.

Um argumento típico de quem está perdido na busca de um reforço em um dos estados da região Sudeste onde Serra perde terreno.

Apesar da pressa de alguns políticos imediatistas, que já cercavam a vereadora como se ela fosse a salvação da campanha, ao final de algumas consultas ficou claro que não era ali que estava a solução de uma questão política.

Já a escolha do senador Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, tem a vantagem de consolidar a presença da oposição no Sul do país, garantindo a adesão do senador Osmar Dias, seu irmão.

Mas se esqueceram de combinar com os russos, como diria Garrincha.

O DEM, parceiro de primeira hora do PSDB, já se sente em condições de reivindicar posição de honra na coligação, digerida a crise do mensalão de Brasília.

O PSDB, e o próprio Serra, não pensam desse jeito, e gostariam de manter a coligação, com os preciosos três minutos de propaganda de rádio e televisão, mas sem ter que sair de mãos dadas com o partido que, temem, ainda está com a reputação abalada pelo escândalo.

Mas, como não é possível explicitar tais sentimentos, o PSDB esperava que o DEM ficasseem uma posição recatada nas discussões, acatando qualquer decisão que surgisse de um suposto “comando de campanha” do qual o presidente de honra do DEM, ex-senador Jorge Bornhausen, e o presidente, deputado Rodrigo Maia, fazem parte, mas de cujas reuniões, se é que aconteceram, não foram convidados a participar.

O resultado da fatídica pesquisa do Ibope deu forças ao DEM para reivindicar seu lugar na chapa, colocando na balança seus minutos de propaganda eleitoral.

A discussão não é feita em termos tão crus, embora seja isso mesmo o que está acontecendo.

Os dirigentes do Democratas consultados mostraramse unidos na recusa em abrir mão do cargo, a não ser que fosse para o ex-governador mineiro Aécio Neves, e alegaram temer não terem condições de controlar suas “bases” na convenção marcada para o dia 30, prazo derradeiro para a definição oficial da coligação.

No mesmo dia , por exemplo, as regionais de Sergipe e Pernambuco farão suas convenções, totalmente fora do controle na direção nacional, se não houver o compromisso de que o partido ficará com a vice-presidência.

O deputado Ronaldo Caiado, por exemplo, que apoia de má vontade o senador tucano Marconi Perilo em Goiás, está doido para romper a aliança.

Em todas as conversas, a impossibilidade de garantira realização da convenção nacional do partido a tempo de formalizar a aliança é colocada na mesa, travando a decisão final.

Que já tem no senador Álvaro Dias um vice convidado e que aceitou, e está sendo vetado por um dos grupos aliados. Para quem não tinha vice nenhum, até que a confusão está de bom tamanho.

Estadão 26/06: Desinformação divide eleitorado em dois grupos opostos

Daniel Bramatti

O eleitorado brasileiro pode ser dividido em dois grupos absolutamente distintos, de acordo com seu grau de informação sobre a campanha: o dos 73% que sabem que Dilma Rousseff é a candidata apoiada por Lula e o dos 27% que ignoram esse fato.

No primeiro grupo, a petista tem 51% das intenções de voto, contra 30% para José Serra, segundo a pesquisa CNI/Ibope. No segmento desinformado sobre a opção presidencial de voto, é o tucano quem lidera por larga margem: 50% contra 11% para a petista.

Os números, além de enfatizar o papel central de Lula na campanha, indicam que sua importância tende a crescer. Ainda hoje há cidadãos que manifestam preferência por Serra e, ao mesmo tempo, dizem que votarão no candidato apoiado pelo presidente.

Com o início do horário eleitoral gratuito e o provável bombardeio de imagens de Lula com sua escolhida, os eleitores com um pé em cada canoa deixarão de turvar o cenário e se definirão - por um lado ou por outro.

Não há como prever se esse contingente, ao tomar conhecimento da opção de Lula, passará a se comportar como o restante da população e majoritariamente seguirá sua recomendação de voto. Mas é fato que os bolsões de desinformação, concentrados entre os mais pobres e nas regiões Nordeste e Norte/Centro-Oeste, são um território fértil para o presidente. É nesse eleitorado que o governo é mais bem avaliado e que as manifestações por continuidade da administração são mais eloquentes.

Se no presente a queda da desinformação joga a favor de Dilma, o fenômeno pode ter efeito inverso até outubro.

Hoje, os eleitores da petista sabem dela pouco mais do que o fato de ela ser representante de Lula na corrida presidencial. Um tropeço forte na campanha pode marcar negativamente sua imagem e corroer seus índices eleitorais, mesmo entre os lulistas.

Vem daí a cautela dos petistas com a exposição da candidata, e também a ansiedade de Serra em partir logo para os debates e confrontos diretos de biografias e currículos. Os dois lados sabem que não é desprezível o risco de que Dilma acabe perdendo para si própria.

É JORNALISTA DE "O ESTADO DE S. PAULO"
De Marcello Alencar, presidente do PSDB do Rio de Janeiro, na Folha 26/06/2010:

"O Gabeira está muito mais próximo de nós do que do PV", orgulha-se. "Ele já é um tucano de bico largo!

Folha 26/06: Dilma ganha entre os gays

Mônica Bergamo

VOTO GAY
Enquete promovida pelo site da revista gay "G Magazine" pergunta em quem o internauta vai votar para presidente. A candidata Dilma Rousseff (PT-RS) lidera a pesquisa com 40% das intenções, de um total de cerca de 180 mil votos. José Serra (PSDB-SP) e Marina Silva (PV-AC) empatam na casa dos 20%.

Folha 26/06 - - Painel

RENATA LO PRETE

Sujou geral

A cúpula do PSDB bem que tentou, ao longo do dia, minimizar a revolta do aliado DEM com a indicação do tucano Álvaro Dias para vice de José Serra e com a forma pela qual a notícia veio à tona -via Twitter do presidente do PTB, Roberto Jefferson. Mas o dano causado foi muito além do que o comando da campanha poderia supor. À noite, o entorno de Serra já discutia seriamente a possibilidade de rever a escolha.
Em meio à chuva de declarações iradas dos "demos", chamou a atenção o silêncio do deputado José Carlos Aleluia -justamente o nome do partido mais bem colocado na lista de possíveis vices de Serra.



Brincadeirinha Circula na praça uma teoria segundo a qual a escolha de Álvaro teria sido um "truque" para forçar seu irmão, Osmar Dias (PDT), a anunciar apoio aos tucanos no Paraná, abandonando o projeto de disputar o governo e dar palanque a Dilma Rousseff (PDT. O PSDB nega. "Nunca faríamos esta molecagem", diz um dirigente próximo a Serra.

Pêndulo Osmar, que durante o dia deu aos tucanos reiteradas garantias de que, com o irmão na vice, não seria candidato ao governo, saiu de reunião com representantes do "outro lado", no início da noite, pedindo mais um dia para pensar.

Novela Por tudo isso, Álvaro já está sendo chamado de "vice Porcina": o que foi sem nunca ter sido.

Calcanhar A militância petista já colocou na rede vídeo no qual Álvaro aparece como responsável, quando governador, pelo uso da cavalaria da PM para reprimir manifestação de professores.

Vuvuzela O aliado Roberto Freire (PPS) ironizou no Twitter: "Só o PSDB, com seu tino de marketing, para indicar vice em dia jogo do Brasil". Cesar Maia (DEM) alfinetou: "Não creio que o Paraná seja mais importante que o Brasil". O deputado Ronaldo Caiado (GO) foi além: "Senador sem voto e odiado pelos professores".

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