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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Estadão 31/08 - - Dora Kramer

Inépcia ou dolo

A Polícia Federal não divulga o nome e mantém sob sigilo a profissão, mas localizou em São Paulo um suspeito de comandar esquema que se utiliza de informações da Receita Federal obtidas a partir da delegacia de Mauá, para extorquir dinheiro de gente que tenha algum tipo de problema com o Imposto de Renda.
A pessoa em questão está sendo vigiada e, com autorização da Justiça, tem suas conversas telefônicas gravadas pela PF. De posse dos dados, o homem procuraria os contribuintes que tiveram sigilo violado identificando-se como funcionário da Receita e se ofereceria para "resolver o problema" mediante uma quantia a combinar.
Essa é uma das linhas de investigação do caso descoberto quando informações fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, foram parar numa papelada que faria parte de um dossiê elaborado por petistas para tentar atingir a campanha presidencial dos tucanos.

O problema dessa versão - que em alguma medida até explicaria o silêncio das pessoas (não políticos) que tiveram seus sigilos violados na delegacia da Receita em Mauá - é que acaba parecendo conveniente demais para o PT, pois tiraria conotação político-eleitoral do episódio e o colocaria exclusivamente no campo criminal.

Tudo certo, caso a Receita tivesse alguma vez nos últimos dois meses aludido à hipótese de as acusações que assombravam o comitê de campanha de Dilma Rousseff nada terem que ver com a disputa eleitoral, pois as investigações da PF apontavam para crime comum.

O PT e a candidata falaram primeiro em inexistência de quebra de sigilo e depois em "factoide" da oposição.

Mas nestes mais de 60 dias de inquérito aberto, só agora, depois de conhecida a violação de mais três pessoas ligadas a José Serra, aparecem versões sobre extorsão. Como quem tem uma boa ideia depois de ver reportagens sobre a venda de informações sigilosas em CDs no centro de São Paulo.

Não é impossível que a PF tenha realmente um suspeito em vista, mas está parecendo que foram misturados alhos com bugalhos por conveniência.

Com base no histórico de casos anteriores, se for isso mesmo logo aparecerá o nome de um culpado para ser punido e encerrado o assunto.

Mas desta vez é mais complicado, pois quando um santo é vestido, livrando a campanha da suspeita de espionagem, outro é posto nu ao deixar patente que o Estado ou é inepto ou criminoso: não assegura a privacidade do cidadão e ainda esconde da sociedade os fatos.

Olhar estrangeiro. Enquanto a academia brasileira de um modo geral se abstém de analisar o quadro, de fora de quando em vez aparecem diagnósticos proveitosos.

Em entrevista ao jornal Folha S. Paulo, o diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard, Ricardo Hausmann, diz que o Brasil tem ótimo potencial de crescimento, um setor privado muito forte, mas que o governo, apesar de ter administrado bem a crise econômica mundial de 2008, comete equívocos fatais com base em sucessos pontuais interpretados como sinal de êxito total.

Segundo ele, o Brasil é dos países que ficam arrogantes quando as coisas começam a parecer bem encaminhadas. "Parecem acreditar num mundo de fantasia."

Por exemplo: "Só porque o País teve por um trimestre uma taxa de crescimento de 7%, o Brasil é agora a nova China, Lula é o gênio das finanças e nenhum dos problemas anteriores existe mais."

O economista elogia o cuidado de Lula em 2002 de ter transmitido confiança ao setor privado, mas critica a atitude atual, menos cuidadosa e "mais ideológica". Para ele, a administração "macro" é insustentável por um defeito comum ao que conduz também a linha da política externa.

"Agora que o País é grande pode ir para a cama com Ahmadinejad ou hospedar Manuel Zelaya na embaixada em Honduras. É uma atitude de que o Brasil agora é diferente e, portanto, pode confrontar o senso comum. Esse tipo de arrogância tem sido desastrosa na política externa e pode ser desastrosa para a administração macroeconômica."

Globo 31/08 - - Receita: sigilo era quebrado por encomenda

Corregedoria manda para o MP representação contra Addeilda, que operava o esquema de vazamento de dados
Fábio Fabrini

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A Corregedoria da Receita Federal enviou ontem ao Ministério Público Federal representações que apontam a servidora Addeilda dos Santos, da Delegacia de Mauá (SP), como a principal responsável pelos vazamentos de dados fiscais protegidos por sigilo. Os dados de quatro tucanos ligados ao presidenciável José Serra teriam ido parar em suposto dossiê montado por integrantes da campanha da petista Dilma Rousseff, que nega.

Fontes ligadas à investigação dizem que as provas evidenciam que Addeilda operava de seu computador o esquema, classificado pelo corregedorgeral, Antônio Carlos Costa DÁvila, como um balcão de venda de sigilos.

O método de acesso às informações é uma das principais evidências contra Addeilda, cedida pelo Serpro. A corregedoria apurou que, antes de as declarações de IR de políticos, celebridades e empresários serem acessadas com a senha da analista Antônia Aparecida Rodrigues dos Santos Neves, a de Addeilda era usada para entrar no CPF das mesmas pessoas, e visualizar informações mais simples, como endereço e filiação.

A corregedoria concluiu que o acesso era sempre feito periodicamente e em pacotes, o que indica ação por encomenda. É o caso do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e mais três pessoas ligadas a Serra, cujos sigilos foram violados por 16 minutos, em 8 de outubro do ano passado.

Eduardo Jorge acusa o comitê da candidata Dilma Rousseff de envolvimento na violação.

O advogado de Addeilda, Marcelo Panzardi, informou que a senha de sua cliente não permitia acesso mesmo a informações mais simples.

Mesmo assim, o fato de a senha pessoal dela ter sido usada não quer dizer que foi por ela. Addeilda deixava o computador ligado no sistema da Receita quando saía explicou.

Corregedor nega convite para depor no Senado As conclusões foram para o procurador da República Vinícius Alves, que já investiga o caso. O inquérito corre em segredo de Justiça.

O corregedor-geral da Receita recusou-se a comparecer hoje a audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para dar explicações sobre o caso. Os senadores devem ouvir o técnico Demétrius Sampaio Felinto, que acusa o Palácio do Planalto de sumir com fitas que registrariam um encontro de Dilma com a ex-secretária da Receita Lina Vieira. Segundo Lina, a então ministra da Casa Civil teria tentado favorecer o senador José Sarney (PMDB-AP).

Deve depor hoje no Senado Gerardo Santiago, ex-assessor da presidência da Previ, o fundo de pensões dos funcionários do Banco do Brasil. Ele sustenta que o fundo foi transformado numa fábrica de dossiês na gestão de Sérgio Rosa, também convidado pela CCJ.

Antônia Aparecida negou ter participado do vazamento e afirmou estar se sentindo uma vítima em todo esse processo, em carta divulgada pelo Sindicato Nacional das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil (Sindireceita).

Ela disse que compartilhamento de uma de suas senhas para acessar o sistema de dados foi em função do volume de trabalho.

Globo 31/08 - - Serra tenta colar na dupla Anastaécio

Em Minas, tucano diz que enfrenta "batalha dura e difícil"; Aécio e Anastasia se comprometem a pedir votos
Flávio Freire
Enviado Especial

VARGINHA (MG). O candidato do PSDB a presidente, José Serra, fez campanha ontem no interior de Minas Gerais numa tentativa de ligar seu nome ao da dupla Anastaécio o ex-governador Aécio Neves, que disputa o Senado, e o candidato tucano ao governo mineiro, Antonio Anastasia.

Em abril, a candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, propôs que os eleitores do candidato de Aécio também votassem nela, formando a chapa Dilmasia, o que causou desconforto no PMDB, que tem como candidato Hélio Costa, e no PSDB.

No último fim de semana, o Ibope divulgou uma pesquisa mostrando que Anastasia ultrapassou Costa e tem 35% das intenções de voto, contra 33% do ex-ministro das Comunicações.

A pesquisa do Ibope ouviu 1.806 eleitores, foi encomenada pela Rede Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) com o número 65090/2010 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 26113/2010. Se formos bem em Minas, vamos bem no Brasil Se semanas atrás a direção do partido exigia a presença de Serra em Minas Gerais para alavancar a candidatura local, ontem foi a vez de o presidenciável pregar um discurso de união entre as campanhas regional e nacional. Em Varginha, no Sul de Minas, Serra, ao dizer que estava no meio de uma batalha dura, disse que Minas e Brasil devem caminhar juntos.

Nós estamos numa batalha nacional dura e difícil. Se formos bem em Minas Gerais, nós vamos bem no Brasil e vamos caminhar juntos para a vitória.

E vamos governar juntos com Minas Gerais, porque Minas é Brasil e Brasil é Minas disse ele, de cima de um carro de som, de mãos dadas a Anastasia e Aécio.

No meio de um calçadão no centro da cidade, repleto de militantes com bandeiras gritando o jingle da campanha estadual, Anastasia também pediu para os eleitores mineiros votarem em Serra: Estamos aqui juntos e precisamos que vocês (eleitores) votem também no Serra.

Ainda em avaliação, a agenda do presidenciável prevê pelo menos mais quatro passagens por Minas Gerais, até a eleição. Aécio Neves foi taxativo ao afirmar que Anastasia pode ajudar Serra: O crescimento do Anastasia pode ajudar que Serra avance mais disse ele, alegando que pretende acompanhar o candidato em novas incursões.

Estarei com Serra onde ele precisar disse o ex-governador tucano.

Aécio acompanhou a passagem de Serra também por Itajubá, na mesma região. Antes, no entanto, o ex-governador disse que o PSDB deveria ter uma comunicação mais ousada.

O mais importante é que sua comunicação para o país inteiro tenha de ser um pouco mais ousada, apontando diferenças mais claras em relação ao atual governo.

Indagado a transferência de votos do presidente Lula à Dilma seria hoje seu principal obstáculo para reverter o quadro das pesquisas, ele voltou a evocar a parceria com Minas.

O importante é que estou ao lado do Anastasia e do Aécio.

E, com eles, vamos seguir juntos.

Globo 31/08 - - A pane do impostômetro

Painel falha na visita de Serra
Silvia Amorim

SÃO PAULO. A ideia de aproveitar o impostômetro, que acompanha a marca de impostos arrecadados no Brasil, para um evento de campanha tornou-se uma saia justa para o presidenciável tucano, José Serra. Com o candidato a governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu vice, Guilherme Afif Domingos (DEM), ele foi de manhã para a entrada da Associação Comercial de São Paulo, onde fica o equipamento, para acompanhar pelo impostômetro a marca recorde de R$ 800 bilhões em impostos arrecadados neste ano. Os três aguardavam na calçada a virada dos números no painel eletrônico quando, faltando poucos minutos para chegar à cifra esperada, uma pane apagou o equipamento.

Diante do problema, Serra improvisou uma caminhada pelos calçadões do Centro da cidade e parou para tomar um café. A mulher de Serra, Mônica, que também acompanhava o evento, foi embora assim que houve a pane. O presidenciável brincou com o episódio: Nem o impostômetro suportou a carga tributária.

Afif, pouco depois, disse que havia uma suspeita de ação de hackers.

O sistema, em seus cinco anos de funcionamento, nunca caiu garantiu ele, que evitou responsabilizar adversários eleitorais quando perguntado se poderia ser uma ação do PT.

Cerca de 15 minutos depois, o painel eletrônico voltou a funcionar, e Serra retornou ao local já com a marca dos impostos superada, para acusar o governo Lula de manter a alta carga tributária para compensar o desperdício de dinheiro público.

Significa R$ 1,2 trilhão até o final do ano em impostos.

É muito dinheiro, e esse dinheiro não é bem gasto.

A Cide arrecadou até agora quase R$ 6 bilhões.

Esse dinheiro não vai para as estradas, como deveria.

Simplesmente fica na mão do governo. É um exemplo típico de desperdício afirmou, referindo-se ao imposto cobrado na venda de combustíveis.

Serra prometeu reduzir impostos de investimentos privados e de bens de consumo dos mais pobres, sem mudar a Constituição.

Globo 30/08 - - Dilma: Quem sentou na cadeira foi FH

Petista reage a Serra e diz que não está cantando vitória antes da hora
Leila Suwwan

SÃO PAULO. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, reagiu ontem às declarações do seu adversário tucano, José Serra, que a acusou de estar sentando na cadeira antes da hora ao falar como se já tivesse vencido as eleições. Ela afirmou que tal atitude é típica do PSDB: Não só é injusto como ele está passando para mim uma característica do PSDB. Quem literalmente sentou na cadeira foi o ex-presidente FHC, que ele esconde sistematicamente disse ela, referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que, na véspera da eleição em que foi derrotado por Jânio Quadros, na disputa pela prefeitura paulistana, tirou foto na cadeira de prefeito. Não só não sento na cadeira, porque acho um desrespeito com o eleitor, como também acho que dá azar. E não quero ser azarada como certos líderes políticos que governaram este país.

Dilma ainda defendeu seu antecessor na Casa Civil, o deputado cassado José Dirceu, do banimento social, mas negou que ele venha a assumir um cargo, se ela for eleita. Ao defender um julgamento mais rápido do processo do mensalão, no qual Dirceu é réu, ela cometeu um gafe e pediu uma rápida condenação.

Acho que, no Brasil, é importante que as pessoas que estejam na situação de José Dirceu sejam condenadas (sic) rapidamente.

Para a gente não aplicar aqui uma espécie de banimento social da pessoa. Não concordo que seja assim, não está previsto na legislação brasileira a condenação ao banimento. Repudio integralmente isso.

Globo 31/08 - - Disputa por espaço

Merval Pereira



O presidente Lula está utilizando sua força eleitoral para transferir aos estados a mesma expectativa de poder que conseguiu no plano nacional, no qual, antes mesmo de sua candidata oficial aparecer na frente das pesquisas, já havia uma percepção generalizada entre os eleitores de que ela acabaria sendo a vencedora.

A estratégia eleitoral do presidente Lula, que vem sendo vitoriosa em relação à campanha presidencial com sua candidata se colocando com folga à frente do candidato oposicionista , se desdobra agora na fase regional, onde o objetivo não é fazer a maioria dos governadores, mas, sim, garantir uma maioria sólida no Senado.

Um senador vale por três governadores, avisava bem antes da reta final da eleição o próprio Lula, justificando ter aberto mão de disputar muitos governos estaduais em favor de aliados em melhores condições.

Até o momento, no entanto, as pesquisas indicam que, além de mais governadores, a oposição e os independentes dos partidos aliados estão conseguindo manter um equilíbrio de forças dentro do Senado.

O PSDB hoje aparece com possibilidade de eleger nada menos que dez governadores, sendo que está na liderança das pesquisas do Ibope nos dois maiores colégios eleitorais, São Paulo, com Geraldo Alckmin, e Minas Gerais, com Antonio Anastasia.

Pode vencer ainda em Goiás, com Marconi Perillo; no Paraná, com Beto Richa; no Piauí, com Sílvio Mendes; em Rondônia, com Expedito Júnior.

Além disso, tem boas chances no Amapá, com Jorge Amanajás; no Mato Grosso, com Wilson Santos; em Roraima, com José Anchieta Júnior; e em Tocantins, com Siqueira Campos.

O DEM lidera no Rio Grande do Norte, com Rosalba Ciarlini, e tem chance de vencer em Santa Catarina, com Raimundo Colombo, e em Sergipe, com João Alves. No Distrito Federal, por enquanto, a liderança está com Joaquim Roriz, do PSC.

No Senado, das 27 cadeiras que estão fora da disputa, por seus detentores terem mais quatro anos de mandato, nada menos que 14 são de oposicionistas ou de independentes: Marconi Perillo (Goiás) que pode se eleger governador e colocará seu suplente Ciro Miranda Junior, também do PSDB ; Elizeu Rezende (DEM); Marisa Serrano (PSDB); Jaime Campos (DEM); Mario Couto (PSDB); Cícero Lucena (PSDB); Jarbas Vasconcellos (PMDB); Álvaro Dias (PSDB); Francisco Dornelles (PP) que terá seu caráter independente reforçado pela chegada ao Senado de Aécio Neves; Rosalba Ciarlini, do DEM que deve ser eleita governadora do Rio Grande do Norte e colocará em seu lugar o pai do senador Garibaldi Alves ou Ivonete Alves da Silva; Mozarildo Cavalcanti (PTB); Pedro Simon (PMDB); Raimundo Colombo (DEM) que pode ser eleito governador de Santa Catarina e colocará em seu lugar o suplente Casildo Maldaner, do PMDB independente; Maria do Carmo Alves (PSDB); Katia Abreu (DEM).

Na nova safra de senadores a serem eleitos este ano, são os seguintes os senadores da oposição ou independentes que podem se eleger: Heloisa Helena (PSOL); Arthur Virgílio (PSDB) que disputa a segunda vaga com Vanessa Grazziotin, do PCdoB ; Cesar Borges (PR); Tasso Jereissati (PSDB); Cristovam Buarque (PDT); Maria Abadia (PSDB) que disputa a segunda vaga do Distrito Federal com Rodrigo Rollemberg, do PSB ; Demóstenes Torres (DEM); Lucia Vanbia (PSDB); Aécio Neves (PSDB); Itamar Franco (PPS); Valéria Pires (DEM); Antero Paes e Barros (PSDB).

Outros prováveis futuros senadores são Cassio Cunha Lima (PSDB da Paraíba; é o favorito, mas luta no Supremo para não ser considerado fichasuja), Efraim de Moraes (DEM) que disputa uma vaga com Vital do Rego Filho, do PMDB;Marco Maciel (DEM) que disputa a vaga com Armando Monteiro Filho, do PTB ; Mão Santa (PSC); Cesar Maia (DEM); José Agripino Maia (DEM); Ivo Cassol (PP); Ana Amélia Lemos (PP); Germano Rigotto (PMDB); Luiz Henrique (PMDB); Albano Franco (PSDB); e Orestes Quércia (PMDB) que disputa uma vaga com Netinho, do PCdoB.

Como se vê, o equilíbrio real de forças no Senado continuará sendo grande, com uma pequena vantagem governista, que não garante a aprovação de questões polêmicas, e, muito menos, mudanças constitucionais que exigem quórum de 3/5 dos senadores.

Ao mesmo tempo, a presumível força eleitoral com que o PMDB sairá das urnas deve eleger a maior bancada da Câmara e do Senado e grande número de governadores está fazendo com que tanto governo quanto oposição comecem a negociar alianças para neutralizá-lo.

O PMDB pode eleger até nove governadores, sendo que dois deles André Pucinelli, do Mato Grosso do Sul, e José Fogaça, do Rio Grande do Sul são independentes e não estão envolvidos na campanha de Dilma Rousseff.

O partido deve eleger ainda Roseana Sarney no Maranhão, Sinval Barbosa no Mato Grosso, José Maranhão na Paraíba, Sérgio Cabral no Rio de Janeiro e Carlos Gaguim em Tocantins.

E tem chances também em Minas Gerais, com Hélio Costa, e em Rondônia, com Confúcio Moura.

Esse poder todo está movimentando não apenas a base petista, que sabe que vai ter que dividir realmente o poder, inclusive a distribuição de cargos, com o PMDB, mas também a base governista mais ampla, que teme que não sobrará espaço para mais ninguém com a disputa entre PT e PMDB.

O PSB, que deve eleger pelo menos três governadores Cid Gomes no Ceará, Eduardo Campos em Pernambuco e Renato Casagrande no Espírito Santo , é o mais preocupado em ganhar espaço para negociar e já propõe uma união entre PT, PSDB e PSB para se contrapor ao PMDB.

O ex-governador Aécio Neves que terá sua liderança reforçada se conseguir eleger seu candidato Antonio Anastasia prevê que a polarização com o PT continuará, e pretende fazer uma aliança do PSDB com PDT, PSB, PPS, DEM e mais PP, PTB e parte do PMDB, para disputar com o PMDB oficial e o PT o comando do Senado.

Pode ser que uma onda governista altere esse quadro, mas até o momento isso não aconteceu.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Folha 29/08 - - Dilma parece "menos crua'

DAVID MATSUMOTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nesta semana, analisei pequenos trechos do debate realizado pelo UOL e a campanha eleitoral pela TV. Pela primeira vez, vi a candidata Marina Silva (PV) e posso dizer que ela tem expressões muito negativas.
Ela apresentou algumas microexpressões de desgosto e de raiva, tanto no debate quanto na TV. Passa uma imagem um tanto desagradável e isso, obviamente, dificulta a impressão que as pessoas podem ter dela e de suas ideias.
Marina parece ter o hábito de usar o músculo que expressa desgosto quando fala. E isso faz com que ela pareça estar se sentindo assim sempre, apesar de talvez não estar.
José Serra (PSDB) continua não muito emocional, principalmente no debate, quando falou sobre algumas questões que eram, de fato, bastante sensíveis. Num certo momento, percebi que ele estava até mesmo sorrindo quando era inapropriado ou pouco adequado para a situação.
Esse tipo de inconsistência me faz pensar se ele estava verdadeiramente engajado no que estava falando. Ele realmente acredita no que está dizendo? Não tenho muita certeza. Seus sinais não eram muito honestos.
Já Dilma Rousseff (PT) estava bastante emocional nas duas situações. As expressões foram consistentes em relação à sua fala. Ela realmente parece preocupada quando diz estar, o que transmite genuinidade e a faz parecer sincera e confiável. Seus sinais são honestos.
Acho que existe uma diferença grande entre o primeiro vídeo que analisei e o de agora. No primeiro, da estreia da campanha na TV, Dilma estava mais crua. Parecia estar tentando controlar suas emoções, possivelmente emoções negativas de raiva. Porém, neste novo vídeo, ela parece mais honesta com seus sentimentos. Continua emocional, mas com menos controle disso e menos irritação contida.

Em depoimento a FERNANDA EZABELLA, em Los Angeles
DAVID MATSUMOTO é professor de psicologia da Universidade de San Francisco (EUA) e fundador da Huminell, empresa de serviços para análises de comportamento não-verbal

Estadão 30/08 Editorial: A nova cena venezuelana

Uma combinação tóxica de retrocesso econômico, inflação acelerada e criminalidade incontida deverá subtrair do caudilho Hugo Chávez nas eleições legislativas de 26 de setembro próximo o controle absoluto que exerce desde 2005 sobre a Assembleia Nacional, o Parlamento venezuelano. Naquele ano, a oposição cometeu o erro monumental de boicotar a votação, para não conferir legitimidade à disputa nem ao colegiado que dela resultaria, com previsível maioria chavista.

Com isso, o autocrata pôde contar quantas vezes quis com o endosso parlamentar aos seus projetos de edificação do regime bolivariano sobre as ruínas do estado democrático, ou, como ele diria, o entulho das liberdades burguesas. Por exemplo, a Assembleia transformou em letra morta o resultado - adverso aos desejos de Chávez - do plebiscito de 2007 sobre a reforma constitucional que lhe daria a oportunidade de se tornar presidente vitalício, ao permitir que se recandidatasse indefinidas vezes.

Objetivamente, o lado bom disso - embora não para o aqui e agora dos venezuelanos - foi a comprovação de que, à vontade para mandar e desmandar, Chávez apenas conseguiu empilhar desastres nas mais diversas áreas de atuação do governo. De tal modo devastou as finanças públicas que foi obrigado até a cortar gastos com os programas sociais que seriam o porta-estandarte do seu pretenso socialismo do século 21.

A deterioração da economia e da infraestrutura venezuelanas, com a destruição da capacidade produtiva nacional, a falta de alimentos e o racionamento de energia - em um país que flutua sobre um mar de petróleo -, se exprime em números devastadores. As reservas internacionais venezuelanas, em queda acentuada, não passam hoje de US$ 13,1 bilhões. A Venezuela vive o segundo ano consecutivo de recessão, sem indícios de retomada à vista.

À queda de 3,28% do PIB em 2009 deverá se somar um novo naufrágio, estimado entre 3% e 6% negativos, na contramão da maioria das economias emergentes. O que aumenta na república chavista são a inflação e a violência. No ano passado, os preços subiram 25%. A previsão para 2010 é de 40%. A criminalidade - a maior preocupação dos venezuelanos - supera a de qualquer outro país da América do Sul. No decênio terminado em 2009, o número de assassínios por ano praticamente quintuplicou, chegando a 19 mil.

De janeiro a julho último, Caracas registrou a média de 140 homicídios por 100 mil habitantes. Em São Paulo, para se ter ideia, a proporção é da ordem de 11. Calcula-se que 1 em cada 5 policiais está mancomunado com o crime. Em meio a tantas desgraças, não admira que a lona do circo chavista esteja cedendo. A popularidade do caudilho caiu de 70% em 2008 para 36% essa semana. A sua aprovação é ainda majoritária apenas na classe E, no piso absoluto da pirâmide social. Quase 60% dos venezuelanos de todas as classes culpam Chávez pessoalmente por suas agruras.

Em tese, esse quadro deveria mudar acentuadamente a distribuição das 163 cadeiras da Assembleia Nacional. Nas pesquisas, entre os eleitores que já firmaram a sua intenção de voto nas eleições de 26 de setembro, a Unidade Democrática, uma coalizão de 16 partidos antichavistas, somada às legendas independentes, bate o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), do governo e seus aliados, por 14 pontos. Na realidade, essa vantagem pode não se traduzir na relação de forças das bancadas parlamentares.

Isso porque, além do sistema de voto distrital adotado no país, que tende a distorcer a relação entre sufrágios recebidos e cadeiras conquistadas, Chávez espertamente fez aprovar uma reforma eleitoral - na verdade, um casuísmo - que modificou a composição das circunscrições eleitorais e reduziu a representação parlamentar dos oito Estados mais populosos, governados pela oposição. Com isso, ainda que não recorra à fraude, o autocrata poderá ter no Congresso a maioria que lhe faltar nas urnas.

De todo modo, tudo indica que não reterá a maioria absoluta dos assentos com a qual tem podido aprovar as emendas constitucionais que dão um simulacro de legitimidade ao seu projeto totalitário. Um ano antes da próxima eleição presidencial, isso significa muito.

Folha 30/08 - - Fernando Rodrigues: Oposição em 2011

BRASÍLIA - Enquanto as pesquisas mostram o favoritismo de Dilma Rousseff (PT) na eleição presidencial, há dúvidas sobre como será a configuração da oposição a partir de 2011. Não está ainda claro o tamanho da derrota de José Serra (PSDB), se vier mesmo a ser confirmada nas urnas.
Uma coisa é perder no segundo turno, dando trabalho ao concorrente direto. Outra, bem diferente, é levar uma sova acachapante e humilhante já no primeiro turno.
Se Serra de fato perder no primeiro turno, terá dificuldades para continuar a comandar o PSDB. Nessa configuração, o partido tem opções incertas sobre quem será seu líder nacional -e comandante da oposição. A rigor, os tucanos parecem cada vez mais confinados apenas a uma parte do Sul, do Sudeste e ao Estado de Goiás.
Por ora, há mais certeza de vitória do PSDB nas eleições estaduais em São Paulo (com Geraldo Alckmin) e Paraná (com Beto Richa). Em Minas Gerais e em Goiás, a disputa continua intensa e incerta.
Do ponto de vista do peso político nacional, São Paulo e Minas Gerais -os dois maiores eleitorados do país- são preponderantes. Assim, a liderança do PSDB estará entre o paulista Geraldo Alckmin e o mineiro Aécio Neves. É difícil imaginar as seções tucanas do Paraná ou de Goiás influindo de maneira decisiva nos rumos da oposição ao eventual futuro governo Dilma.
Nas últimas semanas, o candidato do PSDB ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia, reagiu. Está virando uma "Dilma do Aécio" entre os mineiros. Já Aécio está prestes a se eleger como um campeão de votos para o Senado.
Com essas tendências se materializando em 3 de outubro, Dilma terá o melhor dos mundos. Uma oposição debilitada e fracionada por dois estilos de comando. Não há nada tão diferente no PSDB como as formas de atuar de Aécio e Alckmin. O PT e Lula nunca sonharam com cenário tão edulcorado.

Folha 30/08 - Fernando de Barros e Silva: Cultura de salão

SÃO PAULO - Estreia hoje à noite o novo "Roda Viva", apresentado por Marília "Gabi" Gabriela. Como você, também não vi. As objeções, aqui, não se referem à perfomance, mas a princípios. Importa menos saber se a multiapresentadora está sóbria ou descolada, cool ou afetada. A questão é anterior.
"Eu sou Marília Gabriela, jornalista. Acredito no Brasil como a Vivo acredita". Até outro dia, a campanha estava no ar. Gabriela empresta (ou vende) seu prestígio, e o associa à condição de jornalista, para promover a empresa de telefonia. A mesma Gabriela empresta seu talento para comandar aquele que foi (não é mais, já faz tempo) o principal programa de debate e política na principal emissora pública do país (talvez não seja mais).
Você não vê William Bonner e Fátima Bernardes vendendo lançamentos imobillários nos jornais ou margarina na TV. Já Faustão, que não é mais jornalista, mas animador das massas, faz de seu programa um camelódromo. A Globo, no entanto, é uma emissora privada.
Qual o modelo de Marília Gabriela? E quais, sobretudo, são os parâmetros da "nova" TV Cultura?
João Sayad é uma figura ilustre da sociedade civil progressista, um banqueiro-intelectual de extração tucano-petista, com bons serviços prestados para ambos os lados.
Estranha foi a maneira com que ele chegou à presidência da TV Cultura, desalojando Paulo Markun, de quem foi chefe, numa espécie de golpe palaciano. Mais estranhos, porém, são os rumos da emissora, que parece associar vícios estatais e tentações mercadistas, em prejuízo do que é propriamente público.
A pergunta "para que serve a Cultura" deve se desdobrar, à maneira nietzscheana, em outra: a quem serve a TV Cultura? Acumulam-se evidências de que ela tenha se tornado uma confraria do tucanato, um tipo de sinecura ou abrigo para fidalgos decadentes. Não será contratando a Tina Turner do jornalismo local para afetar um ar modernoso que a Cultura vai recobrar prestígio ou relevância pública.

Folha 30/08 - - A democracia que não veio

Vladimir Safatle



O real desafio é criar mecanismos de ampliação da democracia direta

DESDE QUE a campanha eleitoral começou, vemos os candidatos mais bem posicionados ensaiarem a defesa da reforma política. Isso significa que, ao menos no discurso, todos reconhecem um certo déficit democrático nas estruturas de poder da sociedade brasileira.
No entanto, é interessante perceber como a maioria das propostas (quando elas, de fato, aparecem) resume-se à discussão de questões que não tocam o fundamento do problema.
Voto obrigatório ou facultativo, existência ou não do Senado, adoção ou não do voto distrital: todas essas questões, embora relevantes, não têm a força para desbloquear o processo de constituição de uma democracia efetiva entre nós.
Neste sentido, talvez fosse o caso de dirigir a atenção para dois pontos pouco explorados no debate eleitoral. Primeiro, vivemos um processo de esgotamento do chamado "presidencialismo de coalizão".
O Brasil deve ter o único Parlamento no mundo em que é impossível a um partido ter a maioria absoluta das cadeiras. Desde a redemocratização, apenas o PMDB de 1986 conseguiu alcançar essa marca.
Isso faz com que o Congresso seja um verdadeiro "balcão de negócios", no qual um Executivo sempre fragilizado (já que necessita de alianças heteróclitas com vários partidos para governar) sai perdendo.
Só seria possível mudar tal situação através de uma reforma política que permitisse situações eleitorais nas quais o vencedor leva tudo.
Isso pode significar que uma parte das cadeiras deva estar vinculada, necessariamente, ao partido vencedor, a fim de permitir que ele possa fazer maioria congressual mais facilmente (ou, ao menos, uma minoria qualificada).
No entanto, toda discussão a respeito de nosso deficit democrático deve partir da constatação da baixa participação popular nos processos decisórios de governo.
A democracia parlamentar liberal quer nos fazer acreditar que a participação popular deva se resumir, em larga medida, à criação de coeficientes eleitorais em épocas de eleição. Ela não percebe que o verdadeiro desafio democrático consiste na criação de mecanismos de ampliação da democracia direta, seja através da generalização de plebiscitos, seja através da regionalização dos processos de decisão sob a forma de conselhos populares.
Tal criação é a condição para o engajamento da população nas práticas sociais de gestão. Só uma patologia própria ao pensamento conservador pode defender que o aumento da participação popular equivale a um risco à democracia. Como se a boa democracia fosse aquela que conserva o povo a uma distância segura através dos mecanismos de representação.
Contra isto, talvez seja o caso de dizer claramente que a verdadeira democracia é medida pela possibilidade dada ao poder instituinte popular para manifestar-se, mesmo que seja criando novas regras e instituições.
Pois há uma plasticidade política própria à vida democrática que só aqueles que temem a construção de uma democracia efetiva compreendem como "insegurança jurídica".

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP

Globo 30/08 - - Ricardo Noblat

PT Fisco

A senha para decifrar a história da violação do sigilo fiscal de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, e de mais três pessoas ligadas ao partido pode estar no livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que, segundo ele mesmo, detonaria as pretensões de José Serra de se eleger presidente da República.

E cadê o livro? Sumiu. O gato comeu.

Em maio último, quando a revista Veja publicou que setores da campanha de Dilma Rousseff haviam montado um dossiê contra Serra e outros tucanos emplumados, o PT se apressou em dizer que não havia dossiê algum.

O que a Veja chamara de dossiê seria um livro inacabado de Amaury com o título provisório de Porões da Privataria.

A reportagem da Veja provocou a demissão do jornalista Luiz Lanzetta, responsável pela assessoria de imprensa da campanha.

Juntamente com Amaury, ele procurara em Brasília o ex-delegado da Polícia Federal Onézimo Sousa para lhe propor que espionasse Serra e alguns membros da própria campanha de Dilma.

Foi o que confirmou Onézimo em depoimento no Congresso. Lanzettanega.

Blogs simpáticos ao PT e a Dilma anunciaram então que o livro de Amaury acabaria divulgado na internet a cada semana, um capítulo.

Mas até aqui só foi divulgada a apresentação do livro que irá descrever os porões da privatização na era FHC.

Entre as figuras de destaque na narrativa de Amaury estão o ex-tesoureiro de campanhas de Serra e de Fernando Henrique, Ricardo Sérgio de Oliveira, e mais Verônica, Alexandre Bourgeois e Gregório Marin Preciado, respectivamente filha, genro e primo de Serra. Todos eles teriam se envolvido com negócios suspeitos.

Sabe-se agora que Ricardo Sérgio e Gregório Marin, além de Eduardo Jorge e Mendonça de Barros, o exministro do governo FHC encarregado das privatizações, fazem parte da lista de 140 pessoas cujos sigilos fiscais foram violados em outubro do ano passado na delegacia da Receita em Mauá, no ABC paulista.

O PT controla o sindicato dos auditores da Receita desde o final dos anos 90.

Com a eleição de Lula em 2002, tentou emplacar um dos seus simpatizantes, Deomar Moraes, na época chefe do serviço de inteligência da Receita, no poderoso cargo de secretário da Receita, até então ocupado pelo economista Everardo Maciel, ligado ao ex-PFL.

Foi Antonio Palocci, antes mesmo de tomar posse como ministro da Fazenda, que não deixou. Deomar escreveu uma carta agradecendo o apoio do sindicato.

Everardo foi substituído por Jorge Rachid, um dos quatro secretários adjuntos.

Mal sentou na cadeira, Rachid passou a ser alvo de ataques do que é conhecido na Receita como o PT Fisco.

Suportou seis meses de intenso tiroteio. Por fim, ganhou a confiança de Lula.

Mas perdeu o lugar depois que Guido Mantega sucedeu a Palocci no ministério.

Lina Vieira, a nova secretária da Receita, foi indicada por Nelson Machado, fundador do PT, fiscal do estado de São Paulo e atual secretárioexecutivo do Ministério da Fazenda.

Lina escancarou as portas da Receita para o PT Fisco.

Presenteou-o com todos os cargos de chefia. Mas durou pouco. Foi vítima do mau desempenho de sua equipe e da crise econômica que provocou a queda da arrecadação. Saiu atirando em Dilma, a quem acusou de ter intercedido em favor da família Sarney, investigada pela Receita.

Otacílio Cartaxo, o atual secretário da Receita, é um técnico sem alinhamento partidário. Por ordem superior, admitiu a gravidade do episódio de Mauá e se disse perplexo. Não esperem, porém, que ele vá além disso. Antes de tudo, Cartaxo preza a própria carreira e detesta entrar em bola dividida.

No que depender governo, pois, jamais se saberá se o MauáGate serviu em parte para engordar o dossiê do PT contra Serra ou o inédito livro de Amaury. Assim como jamais se desvendou o caso dos aloprados que em 2006 montaram o primeiro dossiê contra Serra.

São histórias que terminaram sem nunca ter chegado ao fim.

domingo, 29 de agosto de 2010

Folha 29/08 - - Sob o tráfico de sigilos

Janio de Freitas



O caso das quatro pessoas ligadas a Serra presta-se à exploração eleitoral; mas o caso verdadeiro é de milhões




É GRANDE A possibilidade de que você esteja com seus dados confidenciais à disposição de qualquer um. Ou já em mãos de quem você nem imagina existir, mas que tanto pode desinteressar-se de usar os seus dados, como pode dar-lhes as mais diferentes utilidades. E nisso não estão apenas os seus dados entregues ao mal denominado sigilo da Receita Federal.

Os fatos já conhecidos são alarmantes, na transformação da "confidencialidade oficial" em instrumento de crime lucrativo, fácil e sem limites. Por uma quadrilha enorme, com ramificações já antigas em diversos setores da administração pública, ou por várias quadrilhas com ação paralela -não se sabe, e talvez não se venha a saber.

Por isso, o caso dos sigilos de quatro pessoas ligadas a José Serra é muito mais complexo do que as acusações feitas pelo próprio Serra e pelo PSDB. Além disso, deixa distante da realidade a posição manifestada a respeito pela Receita Federal, mesmo admitindo finalidade comercial na quebra dos sigilos. O problema é muito maior.

Os quatro nomes figuram entre duas centenas de sigilos cuja quebra está revelada com as identidades das vítimas. Duas primeiras indicações graves: as quebras não se limitam aos quatro com ligações políticas, estendendo-se por centenas e incluindo grande empresário, e a precisa escolha dos quatro.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, posto por Serra na presidência do BNDES e depois, já como ministro das Comunicações no mesmo governo Fernando Henrique, descoberto pela repórter Elvira Lobato em viagem sigilosa à Espanha para encontro com dirigentes da Telefónica espanhola, tida como beneficiária das artimanhas na privatização das telecomunicações. Ricardo Sérgio de Oliveira, à época diretor do Banco do Brasil, tesoureiro de campanhas de Fernando Henrique e Serra, foi parte destacada na manobra que impediu a Votorantim de adquirir a Vale do Rio Doce e dirigiu-a para Benjamin Steinbruch e outros.

Eduardo Jorge Caldas Pereira, secretário da Presidência no mesmo governo, é ligado a Joaquim Roriz, licenciou-se do Planalto para ajudá-lo em sua última eleição para governador do Distrito Federal, e foi o intermediário da participação de Fernando Henrique naquela campanha do hoje declarado "ficha suja". Gregório Marin Preciado, contraparente de Serra, esteve presente no noticiário quando revelada a sociedade de ambos em um imóvel.

A quebra não incluiu pessoas como José Gregori, Arnaldo Madeira ou algum dos outros peessedebistas atingidos por suspeitas e inquéritos. A escolha foi precisa. Com ou sem venda, seu fim político é a hipótese mais lógica. A escolha e a quebra, porém, tinham possibilidade dupla de destinação. Para o PT, como resposta a citações do mensalão e dos "aloprados". Para a campanha de Serra e o PSDB, a utilidade de atribuir ao PT mais uma "trapalhada criminosa", agora sob a responsabilidade da suposta beneficiada Dilma. Nada recomenda que uma das duas linhas possíveis seja abandonada antes de investigação séria e correta. E para lá de improvável.

A conclusão da Receita no sentido de venda do sigilo é certa. A negação de fins políticos, não.

Tudo isso é muito grave, sem dúvida. Mas eis o que se pôde ler em um texto do "Globo" de quarta-feira passada: (...) "adquiriu por R$ 95 outro CD com informações de mais de seis milhões de contribuintes da Receita Federal", de "São Paulo, Rio, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas e Espírito Santo."

"Adquiriu" e "outro CD" porque o repórter Lino Rodrigues já comprara dois, por R$ 200, "com dados completos de aposentados da Previdência Social (...) e do Denatran contendo informações de milhares de proprietários de veículos em todo o país". Além dos setores mencionados, há referência ao Serpro, o serviço de processamento de dados oficiais, e à oferta de outros CDs, entre eles o dos correntistas de um dos maiores bancos. A segunda compra foi feita para comprovar que, depois da primeira publicação, "o comércio de dados pessoais sigilosos continua livremente no Centro de São Paulo". A zona franca da quebra de sigilo é a rua Santa Efigênia. Com as adjacências. Negócio ali ativo, segundo a indicação biográfica de um dos expoentes do ramo, há mais de dez anos.

O caso dos quatro presta-se muito bem à exploração eleitoral. Mas o caso verdadeiro é de milhões, que nem se supõem quantos milhões são. Como não se sabe a que está sujeita cada pessoa que integra esses incontáveis milhões de devassados pelo tráfico de sigilos.

Folha 29/08 - - Dilma diz que estenderia a mão a tucano

"A gente desarma o palanque e estende a mão para quem for pessoa de boa vontade e quiser partilhar desse processo de transformação. Eu não sei se ele [Serra] quer. Se ele quiser, perfeitamente", disse a petista ontem, em Brasília.

Folha 29/08 - - Serra diz que não dá para "terceirizar" o governo do país

Tucano afirma que é "ingenuidade" achar que Lula vai deixar a Presidência e continuar a administrar "de fora"

Ex-governador diz que violação de sigilo de 4 pessoas ligadas ao PSDB é "crime" para ajudar candidatura de Dilma

DE RIBEIRÃO PRETO
DO ENVIADO ESPECIAL A CASCAVEL

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem em Ribeirão Preto (SP) e em Cascavel (PR) que um "presidente não governa terceirizando". "É uma ingenuidade de muitos achar que o Lula, terminando o mandato, saindo do Palácio do Planalto em 1º de janeiro, vai governar o país de fora."

Ele fez uma analogia com o futebol. "Imagine um técnico de futebol que vai bem em um time e depois resolve sair para o exterior, mas diz à torcida que vai orientar um substituto em todas as partidas. Não tem cabimento. Isso é o que está colocado no país", disse, em Ribeirão.

Serra disse que a quebra do sigilo fiscal de quatro pessoas ligadas ao PSDB por funcionários da Receita Federal foi um "crime contra a Constituição" em "benefício da campanha [de Dilma]".

"O governo usa a máquina para invadir a vida íntima de qualquer brasileiro. Como disse a Marina Silva [candidata à Presidência pelo PV], se estão fazendo isso na campanha, imagine como será depois da eleição", afirmou.

Questionado em Cascavel sobre o passado de Dilma, o tucano se disse preocupado com o ela "pensa hoje".

"Sou sincero, me preocupa muito mais a Dilma de hoje que seu passado. Ora ela fala a favor do aborto, ora não se define. Ora prega a liberdade de imprensa, e sua campanha faz jogo sujo . Não consigo entender qual o projeto de Brasil dela, o que ele pensa sobre a agricultura, por exemplo", afirmou.

Dilma tem dito ser "pessoalmente" contra o aborto, mas que, se for eleita, tratará o tema como "caso de saúde pública".

(ARARIPE CASTILHO E JOSÉ MASCHIO)

Folha 29/08 - - Dilma já vendeu bugigangas e "Cavaleiros do Zodíaco" no Sul

Sob o nome Pão & Circo, empresa da petista vendia artigos trazidos por ela do Panamá

FERNANDA ODILLA
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Nem só de política e cargos públicos viveu a presidenciável Dilma Rousseff (PT). Entre uma função e outra no Rio Grande do Sul, ela investiu no mundo empresarial com uma loja de bugigangas importadas do Panamá.
O negócio, que durou um ano e cinco meses, fechou em julho de 1996 e é omitido de sua biografia oficial.
Com o nome fantasia de Pão & Circo, inspirado na estratégia romana para calar as vozes insatisfeitas, a empresa foi registrada para comercializar confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco, bijuterias, flores naturais e artificiais, vendidos a preços módicos.
O forte, porém, eram os brinquedos, particularmente os dos "Cavaleiros do Zodíaco", animação japonesa sobre jovens guerreiros que fez sucesso nos anos 1990.
Na biografia oficial de Dilma na web, que exalta a fama de boa gerente da candidata, não há menção ao período em que ela foi sócia-gerente da Pão & Circo. Nem mesmo quando defendeu a criação de um ministério para pequenas e médias empresas, em maio, mencionou o fato.
A Folha procurou a candidata por telefone e por e-mail para que ela falasse dessa experiência. Por meio da assessoria, Dilma confirmou que a empresa existiu e fechou há cerca de 15 anos -e que não falaria mais sobre isso.

SÓCIOS
A empresa tinha sede e filial em Porto Alegre e importava artigos de bazar de Colón, no Panamá, para revender no atacado e no varejo.
Além da agora candidata e da ex-cunhada Sirlei Araújo, participavam da sociedade o ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, e um sobrinho, João Vicente. Carlos foi dirigente da VAR-Palmares, uma das organizações de esquerda das quais Dilma participou durante a ditadura militar.
Segundo Sirlei, ela e Dilma viajaram ao Panamá "umas duas ou três vezes" para escolher as mercadorias, que eram despachadas de navio até Imbituba (RS) e seguiam depois por terra até a capital gaúcha. "Era mais bazar e brinquedos", diz a ex-sócia.
A sede foi inaugurada em fevereiro de 1995, numa sala na região central de Porto Alegre. Quatro meses depois, Dilma abriu uma filial no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha.
Os comerciantes mais antigos do Olaria se lembram de Dilma, dos contêineres e da lojinha. "A gente esperava uma loja com artigos diferenciados, mas, quando ela abriu, era tipo R$ 1,99. Eram uns cacarecos", afirma Bruno Kappaun, dono de uma tabacaria no local.

PREJUÍZO
A simplicidade da loja e o baixo movimento de clientes também estão na memória dos comerciantes. "A loja era mal-acabada, com divisórias de tábua, um troço rústico. E, claro, não entrava ninguém ali", diz Ênio da Costa Teixeira, dono de pizzaria, lembrando que dois funcionários ficavam na loja e Dilma aparecia eventualmente.
Um terceiro comerciante, André Onofre, dono de um café no Olaria, acha que a loja não teve viabilidade econômica porque as "bugigangas" eram "muito baratas". "Foi uma experiência. Acho que ela não era do ramo."
Sirlei afirma que o negócio não foi um fiasco: "Até que deu bem certo". Diz que Dilma cuidava sobretudo da contabilidade e das vendas.
A empresa ficou aberta por apenas 17 meses, entre 1995 e 1996, segundo registro na Junta Comercial e na Secretaria de Fazenda do RS. Os quatro sócios fecharam a filial primeiro, em 1996, e extinguiram a empresa oficialmente em dezembro de 1998.
"Durou bem pouco tempo. Dilma sempre foi muito envolvida com a política. Não dava tempo para ela conciliar. Eu sozinha não conseguia", justifica Sirlei.
O período em que Dilma esteve à frente da Pão & Circo coincide com o tempo em que ela ficou afastada de cargos de confiança no governo do Rio Grande do Sul.
A ex-sócia diz que a decisão de fechar o negócio foi tomada em conjunto, pois Dilma se preparava para assumir o cargo de secretária de Minas e Energia na gestão Olívio Dutra (1999-2002).
Questionada sobre o silêncio da petista em relação à experiência de microempresária, Sirlei diz que tanto Dilma quanto a família dela preferem a discrição. Quando ouve que Dilma prometeu um ministério específico para o setor, ela não se surpreende: "É porque ela tem bastante experiência".

Imagem de Dilma perante o eleitor mostra avanço além da tutela de Lula

MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

Na última pesquisa Datafolha, Dilma Rousseff (PT) abriu 20 pontos de vantagem sobre José Serra (PSDB) na disputa pela Presidência. Ela ampliou seu alcance a todos os segmentos sociais, tornou-se mais conhecida, cristalizou o vínculo com Lula e começa a transmitir, de acordo com os dados publicados hoje, que tem luz própria.
A simpatia pela candidatura petista espraiou-se inclusive em redutos sagrados do tucanato, como o Estado de São Paulo, sua capital e os segmentos mais elitizados do eleitorado. E essa evolução, principalmente em território inimigo, dá-se mais pela imagem da criatura do que pela tutela de seu criador.
O grupo de eleitores que quer votar na candidata de Lula, mas não o faz por desconhecer Dilma, é hoje residual. Dos oito pontos que a ex-ministra ganhou no último mês, apenas três vieram do estrato fiel ao presidente. A maior parte chegou de subconjuntos que não são totalmente favoráveis a Lula.
A petista conseguiu, nesse espaço de tempo, comunicar a segurança da continuidade e associar sua imagem à capacidade técnica necessária para assumir o cargo que pleiteia, sem o contraponto de uma oposição clara e contundente a essas mensagens.
Sem considerar a cobertura jornalística, com entrevistas e agenda em horário nobre, e projetando-se apenas os 35% de brasileiros que dizem ter visto a propaganda petista na TV, tem-se cerca de 47 milhões de eleitores.
Eles viram a petista em seu momento mais confortável, sem o ruído negativo de, por exemplo, alguma pergunta incômoda. E para a maioria, segundo o Datafolha, Dilma é a candidata com melhor desempenho na TV.
O saldo é a percepção predominante, neste momento, de que a petista é a mais preparada para manter a estabilidade econômica, defender os pobres, combater a violência, cuidar da educação, combater o desemprego e até a mais simpática.
Sobraram a Serra, até aqui, o alento de sua experiência política, o recall da área da saúde e a pecha de defensor dos ricos.
Dizer que Dilma não é Lula é insuficiente. Neste momento, pode até ser positivo para a petista. A Dilma, por outro lado, basta manter a aura conquistada. A ex-ministra deve provar que não é efêmera, como qualquer moda impulsionada pelo marketing.

Folha 29/08 - - Quebra de sigilo é fruto de "banditismo", diz Mendes

MINISTRO E EX-PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CRITICA "PARADIGMAS SELVAGENS DA POLÍTICA SINDICAL" E CONDENA USO DE CARGOS PÚBLICOS PARA BENEFÍCIO PARTIDÁRIO

FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, 54, afirmou que a quebra de sigilo fiscal de pessoas vinculadas a tucanos é fruto de "banditismo político" e revela "paradigmas selvagens da política sindical".
Em entrevista anteontem à Folha, ele disse que "o servidor público não pode usar button", numa referência àqueles que usam o cargo em benefício de seus partidos.
Mendes criticou o aparelhamento político do serviço público brasileiro, ao dizer que se trata de "uma anomalia que se normalizou". "Os funcionários públicos precisam entender que não estão a serviço de uma instituição partidária", declara.
Segundo ele, o episódio do vazamento da Receita Federal é algo típico de "partidos clandestinos que utilizavam dessas práticas como um instrumento de defesa contra um regime ditatorial".
No comando do STF (2008-2010), o ministro ficou conhecido por críticas que fez ao que chamou de Estado policial e "espetacularização das prisões" pela Polícia Federal, que, segundo ele, estava fora de controle.



Folha - Como o sr. avalia esse vazamento de informações sigilosas da Receita Federal?
Gilmar Mendes - É algo assustador e lamentável. Sobretudo quando ocorre em uma instituição profissionalizada e profissional como a Receita Federal.

O sr. vê alguma relação com o grande número de cargos em comissão?
Claro. O aparelhamento de instituições é algo grave e nocivo ao serviço público do país. Os funcionários públicos precisam entender que não estão a serviço de uma instituição partidária. Quando fazem isso, estão descumprindo o princípio democrático.

Esse aparelhamento é tratado como algo natural no Brasil?
O servidor não pode usar button e isso é algo que se transformou em cultura ao longo do tempo. É uma anomalia que se normalizou.

Mas não existe só na Receita. É algo que se generalizou?
Para atender a interesses partidários, os interesses democráticos são desrespeitados. Isso acontece em qualquer órgão [aparelhado]. É o funcionário da Receita que quebra sigilo fiscal. É o funcionário de um banco que quebra o sigilo bancário.

Como combater isso, já que, como o sr. mesmo diz, se normalizou?
É preciso punir gravemente essa cultura de dossiês no país. Os partidos que se utilizaram disso têm que pedir desculpa. Têm que fazer um mea culpa. Porque isso é típico de partido da clandestinidade e não pode ocorrer em um regime democrático.

O aparelhamento é uma característica genuinamente brasileira?
Em outros países democráticos é pequeno o número de funcionários com ligações partidárias porque existem poucos cargos em comissão.
Aqui costumamos ver funcionários públicos a serviço de siglas partidárias. É coisa de partido clandestino que atuava contra regimes autoritários. Mas é preciso entender que não vivemos mais sob tais condições. Vivemos em um regime democrático e isso é inadmissível.

O sr. atribui o vazamento na Receita apenas à cultura de clandestinidade partidária?
Não. A cultura do vale-tudo da política sindical também pode estar ligada a tudo o que vem acontecendo. Não se pode transpor ao mundo político institucional os paradigmas selvagens da política sindical. Também vejo isso como outra fase do patrimonialismo. Aqueles que estão no poder acham que podem fazer tudo por estarem lá.

E eles podem?
Hoje a Receita Federal pode, por exemplo, quebrar sigilo bancário em procedimentos administrativos sem uma autorização judicial. Isso é permitido por uma lei complementar [a 105 de 2001] que inclusive foi contestada no Supremo [Ação Cautelar 33, atualmente sob um pedido de vista da ministra Ellen Gracie]. Mas quem confiará em um órgão que age dessa maneira?

Por episódios como esse, é possível que o Supremo derrube essa lei?
O Supremo pode discutir isso e deve fazer. Mas, como eu venho dizendo, é preciso que se edite uma lei de abuso de autoridade para punir quem age dessa maneira. Neste caso, porém, o fenômeno é ainda mais grave. É preciso punir tanto aquele que passa as informações como aquele que recebe. Porque quem pega essas informações e as utiliza está estimulando esse tipo de prática.

E como é possível punir aquele agente partidário que recebe as informações?
É como no crime de receptação. Tanto participa do crime aquele que furta como aquele que compra o objeto furtado. Por isso que as agremiações políticas também devem ser responsabilizadas por receber essas informações. Ou então devem ir a público e repudiar esse tipo de prática de banditismo político. Porque isso não tem nada a ver com política partidária.

O sr. vê o PT envolvido nesse vazamento?
Isso eu não posso dizer, mas é preciso verificar quem está por trás disso. Se for partido de governo é algo ainda mais grave. Quando a Receita é aparelhada, os Correios são aparelhados, quem é que vai confiar nessas instituições? E quando elas ficam desacreditadas, abre-se espaço para aventuras antidemocráticas.

Folha 29/08 - - Eleitor vê Dilma como mais preparada

Candidata do PT ultrapassa José Serra na sondagem sobre quem reúne maior número de habilidades para governar

Petista é tida como mais capacitada para tratar de violência, educação, emprego e economia; tucano lidera na saúde

SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO

Em três meses, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, passou a ser vista pelo eleitorado como a "mais preparada" para governar o país e administrar áreas como educação, economia e segurança. É o que aponta o detalhamento da última pesquisa Datafolha.
O levantamento feito nos dias 23 e 24 deste mês mostra que a exposição da petista gerou mudanças significativas na visão do eleitor.
Dilma hoje é considerada "mais preparada" para ser presidente por 42% dos entrevistados, contra 38% de José Serra (PSDB). Na última pesquisa a incluir essa questão, em maio, Serra tinha 45%, ante 29% dela.
Seu desempenho evoluiu no Sudeste (+ 14 pontos), no Nordeste (+ 18 pontos) e entre os mais jovens, de 16 a 24 anos (+ 17 pontos).
Ela passou o tucano nos quesitos de melhor nome para combater a violência (38% a 30%), cuidar da educação (41% a 31%), manter a estabilidade econômica (49% a 28%) e lutar contra o desemprego (46% a 28%).
Serra mantém a dianteira (47% a 33%) na saúde, área em que concentra sua propaganda eleitoral e da qual foi ministro no governo FHC.
O salto nos índices de Dilma está ligado à TV: 71% dos que acham a propaganda dela melhor a têm como mais habilitada para o cargo.
Apesar da subida de Dilma em todos os quesitos, Serra é apontado como mais experiente (51% a 31%) e inteligente (36% a 34%). Mas ele perdeu 13 pontos em "experiência", e ela ganhou 14.
Dilma é avaliada como mais autoritária (37% a 30%), porém mais simpática (37% a 26%) do que Serra.
Para 41% dos eleitores, Serra defenderá mais os ricos, ante 17% de Dilma. Já 45% dizem que ela governará mais para os pobres, contra 20% do tucano.
Marina Silva (PV) perdeu pontos em todas as áreas. Seu melhor desempenho é sobre defesa dos pobres (13%) e simpatia (14%).

Folha 29/08 - - Brasília - Eliane Cantanhêde: Ideia fixa

BRASÍLIA - De Lula: "Eu acho que o empresariado aprendeu muito, o governo aprendeu muito, os sindicalistas aprenderam muito. Acho que a imprensa vai precisar aprender um pouco ainda, porque nunca vi gostar tanto de notícia ruim".
Tradução: ele "deu um jeito" nos que poderiam incomodar. Deveria ter incluído bancos, movimentos sociais, a direita e a oposição. Botou uns no bolso e todos no seu devido lugar: o lugar de dizer amém.
Só não conseguiu ainda "ensinar" a imprensa. Mas avança nessa direção, depois de arrastar Dilma para a Presidência e os aliados em massa para os governos estaduais e para o Congresso, onde a previsão é de uma maioria como nunca antes neste país. Exceto com a Arena, na ditadura.
Os escândalos contra tudo e todos surgiram da parceria do Ministério Público, da imprensa, de funcionários exemplares (ou contrariados) e do PT, até desembocarem em CPIs. No poder, o PT tentou explodir os velhos parceiros. E as CPIs?
Já no primeiro ano, 2003, o PT lançou a Lei da Mordaça contra o MP. Depois, o Conselho de Jornalismo contra a imprensa e, por fim, o projeto contra funcionário que fala ou vaza documento. Não vingaram, mas devem estar adormecendo por trás das investidas de Lula.
Ele é um fenômeno sob vários aspectos. Tem 80% de popularidade, sua candidata caminha para comemorar uma votação histórica, e o novo governo vai assumir com a perspectiva de mais de 7% de crescimento econômico. Logo, com tudo para dar certo. Basta não errar.
Em vez de estar leve, feliz, deliciando-se diante da estrondosa vitória que se avista, Lula está armado, atiça os cães da internet e mira a imprensa, para desqualificar o último reduto do contraditório, da crítica, da investigação.
O que pretende com isso? Unanimidade? Nelson Rodrigues dizia que a unanimidade é burra. Em política, tende a ser perigosa. Bem não faz, e pode fazer muito mal. Inclusive subir à cabeça.

Folha 29/08 - - São Paulo - Clóvis Rossi: O PC soviético, o PSDB e FHC

SÃO PAULO

- O PSDB age, em relação a Fernando Henrique Cardoso, como o Partido Comunista da extinta União Soviética: lá, os dirigentes caídos em desgraça eram apagados das fotos oficiais, por mais relevantes que tivessem sido os cargos por eles ocupados.

Aqui, a imagem de FHC é apagada (no sentido de não exibida) de toda e qualquer propaganda eleitoral desde que terminou o seu mandato, exatamente o mais relevante jamais conquistado pelo partido.

Parece uma paródia da frase ("esqueçam o que eu escrevi") que se atribui ao ex-presidente, mas que ele nega ter pronunciado. No caso do PSDB, fica "esqueçam que ele existiu" -exatamente como os comunistas de antanho faziam até com amigos de infância quando caíam em desgraça.

Confesso que eu acreditei na sabedoria convencional tucana segundo a qual FHC tira votos. Afinal, se quem é do ramo tem tanta certeza disso, eu, que não entendo nada de disputar eleições, não tenho o direito de duvidar.

Por isso mesmo, fiquei curioso com um dado da pesquisa Datafolha sobre a disputa pelo Senado em São Paulo, divulgada ontem: Aloysio Nunes Ferreira Filho foi o único dos tucanos candidatos a cargos majoritários (Senado, no caso dele) que subiu. Pulou de 5% para 9%.

O que tem a ver Aloysio com FHC? Tudo. Foi o único tucano que desafiou a sabedoria convencional e tascou fala do ex-presidente no horário de propaganda eleitoral. Suspeito até que foi o único a fazê-lo em todo o país.

OK, é um dado muito, mas muito, preliminar para se concluir que a sabedoria convencional é equivocada. De todo modo, está claro que não deu certo "apagar" quem foi parte da história do partido -a mais relevante, de resto.

O PSDB perdeu todas e, agora, corre até o risco de se tornar tão irrelevante como o PC soviético do qual copiou o método.

Globo 29/08 - - Perigosa fantasia


Proposta de Constituinte política é ingênua, impraticável e arriscada num contexto de concentração de poder no Executivo federal


Diante de tantos escândalos protagonizados por políticos e de tamanhas evidências do descompasso entre a sociedade e o sistema que a representa, compreende-se o desejo de uma Constituinte exclusiva ou de um Congresso revisor destinado a promover uma reforma política. Mas a ideia é ingênua, impraticável e, na presente conjuntura eleitoral, perigosa.

Ela parte do pressuposto de que um corpo legislativo eleito apenas para formular a reforma política seria diferente de qualquer Congresso habitual. Nada menos crível: os constituintes seriam eleitos pelos mesmos partidos e regras, e provavelmente seriam, na maioria, os mesmos parlamentares de hoje ou amanhã. É fantasia eleger uma assembléia de anjos, imunes aos vícios do sistema atual.

Mais grave do que isso, a proposta é inconstitucional. Para que deixasse de sê-lo, seria necessário que fosse autorizada, por plebiscito, a convocação de tal corpo legislativo, e que a reforma por ele produzida viesse a ser chancelada em novo referendo popular. É de imaginar o tumulto que esse esdrúxulo processo acarretaria à vida institucional.

Seu início dependeria de autorização dos congressistas a serem eleitos em outubro próximo. Estes dificilmente veriam com simpatia a instalação de um Congresso paralelo, que esvaziaria seu poder e ameaçaria seus privilégios. Para que nele pudessem ingressar, teriam de enfrentar nova eleição, algo sempre custoso e arriscado.

Como se não bastasse, a proposta se revela perigosa no atual período político. Tudo indica que o bloco instalado no poder federal alcançará vitória esmagadora nas eleições gerais que se aproximam.

A se confirmarem esses prognósticos, a Presidência da República exercerá virtual controle sobre o Congresso e aumentará ainda mais sua influência sobre as demais instituições. Esquemas de incrustação partidária e sindical, que aparelham o Estado há oito anos, receberão novo estímulo. A oposição será dizimada, e o espaço de divergência e crítica tenderá a se estreitar.

Nessas circunstâncias, bastaria um passo temerário para que a ingenuidade da proposta de uma Constituinte exclusiva fosse convertida em perfídia, numa aventura em que o Executivo todo-poderoso se arrogasse a refazer o desenho constitucional do país para submetê-lo a seus desígnios.

Felizmente, esse não é um cenário provável. O Brasil é uma sociedade complexa e diversificada, e suas instituições democráticas parecem consolidadas o bastante para rechaçar com toda veemência um novo ciclo de autoritarismo, mesmo que dissimulado sob o manto de maiorias eleitorais.

Quanto à reforma política, em vez de soluções súbitas ou mágicas, a melhor forma de realizá-la é estimular a contínua vigilância pública, exigir o fim da impunidade e pressionar por mudanças progressivas. Trata-se menos de melhorar leis, do que de melhorar toda uma cultura.

Globo 29/08 - - Um centralizador que ficou no centro do fogo cruzado

Coordenador de comunicação de tucano é responsabilizado por queda nas pesquisas


Gilberto Scofield Jr.

SÃO PAULO. No olho do furacão desde que as últimas pesquisas de intenção de voto mostraram a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, com cerca de 20 pontos à frente do candidato do PSDB, José Serra, o jornalista paulistano Luiz Gonzalez, 57 anos, coordenador de comunicação e principal estrategista da campanha tucana, é um sujeito visivelmente irritado com as críticas que ele considera infundadas ao seu trabalho.

À frente de uma equipe de 300 pessoas e uma rotina que começa cedo e entra pela madrugada, por conta dos hábitos notívagos do seu candidato, o marqueteiro não dispensa opiniões, especialmente numa hora tensa como agora. Mas as quer respaldadas em fatos.

À tentativa de responsabilizálo pela queda de Serra, responde com fatos e números das campanhas das quais participou.

Os levantamentos de sua equipe não reproduzem a rejeição a Serra captada pelos institutos de pesquisa. O que significa que o rumo não muda por conta do escárnio petista, das avaliações de eventuais marqueteiros ou do fogo amigo de políticos do PSDB e aliados.

De tucanos, ele entende bem.

São 16 anos administrando campanhas do partido, desde que em 1994 fez a vitoriosa comunicação de Mario Covas na disputa pelo governo de São Paulo. Hoje, a Lua Branca, agência de propaganda tocada atualmente por seus dois filhos, cuida de contas do governo do estado e do município de São Paulo, contratos que ultrapassam os R$ 150 milhões.

Avesso a entrevistas formais, Gonzalez usa sua experiência de 20 anos de jornalismo e 21 anos em campanhas políticas começou em 1989, quando saiu do Departamento de Jornalismo da TV Globo para dirigir a campanha para a TV de Ulysses Guimarães à Presidência para mandar seus recados. Um deles, dizem integrantes do comando da campanha, é que o caminho até as eleições é longo, a imagem do candidato é construída passo a passo, o projeto mira o segundo turno e seu eixo estratégico o confronto dos currículos e das qualificações de Serra e Dilma permanece, mas será monitorado para que se façam acertos táticos.

Gonzalez cita pesquisas que, em agosto e setembro de 2006, previam vitória acachapante do então presidente Lula sobre o candidato Geraldo Alckmin, do PSDB, no primeiro turno. Os números variavam entre 50% e 51% para Lula e algo entre 25% e 29% para Alckmin. O primeiro turno das eleições terminou com 7 pontos percentuais de diferença.

Por isso, suas decisões são tomadas com os números que tem à mão, captados por pesquisas qualitativas diárias em oito estados, testes de reação com eleitores antes e depois da divulgação de cada peça, e 700 entrevistas por dia.

São oito produtos fechados por dia: dois programas de rádio, dois de TV, comerciais de rádio e TV, planos de mídia de rádio e TV, fora os fechamentos de impressos, jornais, reuniões de debates e respostas de entrevistas que o candidato precisa dar diz um integrante de sua equipe. Tudo é multiplicado por dois, pois estamos fazendo também a campanha de governador do Geraldo Alckmin.

Queixas pela falta de diálogo

Mas o trabalho aparentemente insano não ganha o perdão dos apoiadores de uma candidatura que perdeu votos até em estados em que tinha vantagens, como São Paulo, Minas Gerais e a região Sul. Os tucanos esperavam que a campanha na TV e no rádio de Serra virasse o jogo e nublasse a transferência, para Dilma, do prestígio acumulado pelo presidente Lula, um governante com um índice de aprovação de 79%. Não foi o que ocorreu até agora.

Gonzalez é centralizador e determinado, mas não burro diz o concorrente Paulo de Tarso, coordenador de comunicação da campanha de Marina Silva.

Lula tem a aprovação do Brasil, e o Gonzalez faz uma oposição comparada com Dilma. A entrada do Indio da Costa mudou o teor da campanha para uma estratégia de oposição clara, e muitos tucanos pedem agora que ela seja aprofundada.

Acho que Gonzalez tem feito um bom trabalho, mas Dilma é uma candidata vitoriosa desde o começo disse em seu videoblog outro concorrente, o marqueteiro Duda Mendonça, que em 2002 trabalhou para a eleição vitoriosa de Lula. O marqueteiro tem como profissão potencializar seu candidato, mas não decidir uma eleição.

Desde que o programa eleitoral gratuito no rádio e na TV começou, as críticas variaram do conteúdo ao estilo centralizador e à falta de diálogo de Gonzalez com os políticos na cúpula da campanha. Os petardos vieram de aliados, gente como o senador e líder do PSDB, Arthur Virgílio (Ele tem dificuldade de ouvir a opinião dos outros), o senador Álvaro Dias (Na medida em que se poupam as críticas, não se expõem os equívocos, falcatruas e a corrupção), o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (Se o Gonzalez ouvisse um pouco os políticos, não poria no ar uma favela fake, nem o bobajol do Zé).

Serra entrou na disputa em um cenário difícil, de popularidade altíssima do governo atual e de transferência real de votos de Lula para Dilma afirma o marqueteiro Nelson Biondi, veterano de campanhas que já foi sócio de Duda Mendonça e, em 2002, fez com Nizan Guanaes a campanha de Serra à Presidência contra Lula. Na hora da queda, a pressão e a tentação para as guinadas são enormes.

Como Gonzalez é centralizador, chamou para si o desagrado.

Mesmo políticos mais ponderados reclamam de barreiras na integração entre a política de Serra na mídia e a que se faz nas ruas.

A estrutura da campanha nas ruas, a cargo do senador Sérgio Guerra, não se comunica adequadamente com o Gonzalez, que não valoriza tanto este trabalho mais político diz o deputado tucano Márcio Fortes.

Apaixonado por motos, Gonzalez trabalhou por 10 anos como jornalista na imprensa escrita e outros 10 anos em televisão, em sua maior parte na Rede Globo, de onde saiu em 1989, quando fez a primeira incursão na política, ao coordenar a campanha de TV de Ulysses Guimarães.

Em 1991, com o também jornalista egresso da Globo Woyle Guimarães, fundou a produtora GW, que cresceu para três estados (São Paulo, Brasília e Paraná) e tem hoje 12 sócios.

Próximo a Serra desde 2004

Em 2003, Woyle e Gonzalez fundaram a agência de propaganda Lua Branca, cujo controle em 2006 foi assumido pelos filhos de Gonzalez. Ele é dono também da Campanhas, empresa de marketing político por trás de Serra e Alckmin. O marqueteiro se aproximou de José Serra em 2004, na disputa contra Marta Suplicy e Duda Mendonça pela prefeitura de São Paulo (Serra ganhou).

Quem conhece Gonzalez diz que ele não é pessoa fácil de pressionar, apesar do cenário.

Mas os políticos reclamam.

O que acontece sempre é o político esculhambar ou porque está por fora da situação, ou porque quer atingir alguém, ou porque quer alguma coisa. O interesse não é com o êxito da campanha. É pessoal. Sempre ligado a dinheiro ou disputa por espaço. Faz parte do jogo diz um integrante da campanha.

Estadão 29/08 - - Usurpação de cidadania

Dora Kramer


DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
De todos os casos cabulosos ocorridos no governo Luiz Inácio da Silva, o da quebra indiscriminada de sigilo fiscal na delegacia da Receita Federal em Mauá é o mais angustiante.


De Waldomiro Diniz à arquitetura de dossiês na Casa Civil na Presidência da República para atrapalhar o trabalho da CPI dos Cartões Corporativos; das urdiduras da direção do PT envolvendo empréstimos fraudulentos e desvios de recursos em empresas públicas (mensalão), à quebra do sigilo bancário de uma testemunha das andanças do ministro da Fazenda em uma casa de lobby de Brasília, todos tiveram objetivos específicos.

Pretendiam algo: Waldomiro, o homem encarregado pelo então chefe da Casa Civil, José Dirceu, de organizar as relações com o Congresso, cobrava propina de um bicheiro.

O dossiê com os gastos da Presidência quando ocupada por Fernando Henrique Cardoso pretendia (e conseguiu) inibir a atuação dos oposicionistas na comissão parlamentar de inquérito criada para elucidar as razões do aumento nos gastos dos cartões corporativos do governo todo e também para pedir acesso às despesas secretas da Presidência.

Os empréstimos simulados visavam a "lavar" dinheiro que financiava as campanhas eleitorais dos partidos aliados e mantê-los, por esse método, como integrantes da base parlamentar governista.

A quebra do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa na Caixa Econômica Federal deu-se com a finalidade de tentar desmoralizá-lo como a testemunha que desmentia o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no caso da casa de lobby. Palocci negou no Congresso e em pronunciamento que frequentasse a tal casa e Francenildo, caseiro do local, atestava que o via sempre por lá.

Os personagens eram conhecidos e os episódios por mais nebulosos que fossem eram compreendidos. Dava para entender sobre o que versavam. Era corrupção e/ou política.

Agora, o que assusta é inexistência de uma motivação específica claramente definida, a amplitude das ações, a multiplicidade de alvos e a tentativa do governo de abafar o caso dando a ele uma conotação de futrica eleitoral.

Evidente que Dilma Rousseff sabe do que se trata quando ouve dizer que 140 pessoas tiveram o sigilo fiscal violado numa delegacia da Receita em cidade das cercanias de São Paulo.

Sabe que estamos diante de algo que pode ser qualquer coisa, menos o que alega: mero factoide, "prova do desespero" da oposição.

Como "mãe do povo", coordenadora do governo e responsável por tudo de maravilhoso que há no Brasil, Dilma deveria ser a primeira - depois do presidente Lula - a se preocupar com o fato de 140 cidadãos terem tido sua segurança institucional violada numa dependência do Estado.

No lugar disso, só faz repetir o mantra da candidata ofendida. Pode ser conveniente, mas não é um acinte?

Assim como soa a provocação ao discernimento alheio a proteção da Receita Federal aos investigados e a tentativa de "vender" a versão fantasiosa sobre a venda de sigilo no mercado negro de informações.

A atitude do governo alimenta a suspeita de dolo. Natural seria que as autoridades se levantassem em defesa da preservação dos direitos e garantias individuais.

Nesta altura, embora seja relevante, não é realmente o mais importante a filiação partidária dos agredidos.

Eduardo Jorge, Ana Maria Braga, Ricardo Sérgio, a família dona das Casas Bahia, tanto faz.

Foram eles, mas poderia ser qualquer um de nós. Quem, aliás, garante que não seremos os próximos a constar de um rol de pessoas vilipendiadas nas mãos de um Estado leviano?

A questão vai muito além do ato eleitoral, é um caso grave de insegurança institucional, pois não se sabe de onde vem isso, aonde vai parar, quem são os responsáveis, como agem e o que pretendem com essa manipulação que cassa a cidadania e espalha insegurança.

Digno. Aloizio Mercadante indigna-se com os modos - de fato indignos - de Tiririca no horário eleitoral, mas convive sem indignação com as indignidades de companheiros de "base" no Senado.

sábado, 28 de agosto de 2010

Folha 28/08 - - Netinho sobe 7 pontos e se iguala a Quércia

Vereador do PC do B agora tem 24% e peemedebista oscilou um ponto e está com 26%; Marta (PT) lidera, com 32%

Base lulista ganharia hoje mais da metade das vagas em disputa; no Rio Grande do Sul, Ana Amélia lidera com 44%

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

O cantor, apresentador e vereador Netinho de Paula (PC do B) subiu sete pontos desde o início do horário eleitoral e já está empatado tecnicamente em segundo lugar com Orestes Quércia (PMDB) na disputa por uma vaga de senador por São Paulo.
Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 23 e 24, Netinho passou de 17% para 24% de intenção de voto, enquanto Quércia oscilou de 25% para 26%. A margem de erro para São Paulo é de dois pontos -nos demais Estados é de três, e no Distrito Federal, de quatro pontos.
A pesquisa mostra ainda que está dando certo a estratégia petista de privilegiar as candidaturas ao Senado, em detrimento até de disputas pelo governo dos Estados.
Se as eleições fossem hoje, a aliança que comporá a base de um eventual governo Dilma Rousseff (PT) ficaria com 9 a 12 das 16 vagas nos oito colégios eleitorais pesquisados, enquanto a aliança de eventual governo José Serra (PSDB) ficaria com 4 ou 5.
Em São Paulo, Marta Suplicy (PT) manteve o mesmo patamar de 32% e continua liderando a disputa paulista.
O senador Romeu Tuma (PTB), que tenta a reeleição, caiu para a quarta posição, com 16% (tinha 23%). Ciro Moura (PTC) aparece em quinto, com 13%, e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) cresceu quatro pontos e chegou à sexta posição, com 9%.

OUTROS ESTADOS
No Rio Grande do Sul, Ana Amélia (PP), que estava em terceiro lugar com 33%, subiu 11 pontos e assumiu a liderança. Seu partido declarou apoio informal a Dilma. O ex-governador gaúcho Germano Rigotto (PMDB) tem agora 42% (tinha 43%) e a seguir aparece Paulo Paim (PT), com 38% (tinha 35%).
Minas Gerais continua sendo o único Estado onde o cenário é amplamente favorável aos tucanos. Aécio Neves (PSDB), o candidato mais bem votado entre todos pesquisados pela Datafolha, lidera com 70% (ele tinha 68% no levantamento anterior).
Em segundo está o aliado Itamar Franco (PPS), com 44% (tinha 47%). Fernando Pimentel (PT) subiu cinco pontos e agora tem 25%.
No Rio de Janeiro, enquanto o senador Marcelo Crivella (PRB) caiu de 40% para 37%, Cesar Maia (DEM) oscilou de 33% para 32%, e Lindberg Farias (PT), de 22% para 24% de intenção de voto.
Os outros Estados pesquisados e o Distrito Federal têm aliados de Dilma na liderança.

Estadão 28/08 - - Dilma abre 24 pontos de vantagem sobre Serra na pesquisa Ibope

Crescimento da candidata petista foi de oito pontos porcentuais se comparado ao levantamento anterior feito pelo mesmo instituto

Daniel Bramatti - O Estado de S.Paulo
Após dez dias de exposição dos candidatos à Presidência no horário eleitoral, a petista Dilma Rousseff abriu 24 pontos de vantagem sobre o tucano José Serra. Se a eleição fosse hoje, ela venceria no primeiro turno, com 59% dos votos válidos.

Segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, Dilma chegou a 51% das intenções de voto, um crescimento de oito pontos porcentuais em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, feito às vésperas do início da propaganda eleitoral.

Desde então, Serra passou de 32% para 27%. Marina Silva, do PV, oscilou de 8% para 7%. Somados, os adversários da petista têm 35 pontos, 16 a menos do que ela.

A performance de Dilma já se equipara à de Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2006. Na época, no primeiro turno, o então candidato petista teve 59% dos votos válidos como teto nas pesquisas.

Geografia do voto. Dilma ultrapassou Serra em São Paulo (42% a 35%) e tem o dobro de votos do adversário (51% a 25%) em Minas Gerais - respectivamente primeiro e segundo maiores colégios eleitorais do País.

No Rio de Janeiro, terceiro Estado com a maior concentração de eleitores, a candidata do PT abriu nada menos do que 41 pontos de vantagem em relação ao tucano (57% a 16%).

Na divisão do eleitorado por regiões, Dilma registra a liderança mais folgada no Nordeste, onde tem mais que o triplo de votos do rival (66% a 20%%). No Sudeste, ela vence por 44% a 30%, e no Norte/Centro-Oeste, por 56% a 24%.

A Região Sul é a única em que há empate técnico: Dilma tem 40% e Serra, 35%. A margem de erro específica para a amostra de eleitores dessa região chega a cinco pontos porcentuais. Mas também entre os sulistas se verifica a tendência de crescimento da petista: ela subiu cinco pontos porcentuais na região, e o tucano caiu nove.

Ricos e pobres. A segmentação do eleitorado por renda mostra que a candidata do PT tem melhor desempenho entre os mais pobres. Dos que têm renda familiar de até um salário mínimo, 58% manifestam a intenção de votar nela, e 22% em Serra.

Na faixa de renda logo acima - de um a dois salários mínimos -, o placar é de 53% a 26%. Há um empate entre a petista (39%) e o tucano (38%) no eleitorado com renda superior a cinco salários.

Também há empate técnico entre ambos no segmento da população que cursou o ensino superior. Nas demais faixas de escolaridade, Dilma vence com 25 a 28 pontos de vantagem.

A taxa de rejeição à candidata petista oscilou dois pontos para baixo, mas se mantem praticamente a mesma desde junho, próxima dos 17%. No caso do candidato tucano, 27% afirmam que não votariam nele em nenhuma hipótese.

A disparada da candidata apoiada pelo presidente Lula disseminou a expectativa de que ela vença a eleição. Para dois terços da população, a ex-ministra tomará posse em janeiro como sucessora do atual presidente. Apenas 19% dos eleitores acham que Serra será o vitorioso.

Mulheres. Com boa parte de sua propaganda direcionada à conquista do eleitorado feminino - dando destaque à possibilidade de uma mulher assumir pela primeira vez a Presidência -, Dilma cresceu mais entre as mulheres (nove pontos) que entre os homens (cinco pontos).

Na simulação de segundo turno, a vantagem de Dilma entre as mulheres é agora praticamente a mesma que entre os homens, um fato inédito na campanha. O próprio Lula sempre teve mais votos entre os homens.

A pesquisa mostra que 57% dos eleitores já assistiram a pelo menos um programa do horário eleitoral.

Segundo o Ibope, 50% dos brasileiros preferem votar em um candidato apoiado pelo presidente, e 9% tendem a optar por um representante da oposição. Do total do eleitorado, 88% sabem que Dilma é a candidata de Lula.

O governo do presidente é considerado ótimo ou bom por 78% dos brasileiros. Outros 4% consideram a gestão Lula ruim ou péssima.

Globo 28/08 - - Merval Pereira

Pela causa
Merval Pereira

O secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, tem razões para se sentir constrangido e traumatizado, mas não tem sentido dizer que foi pego de surpresa. Ou melhor, só tem sentido se junto admitir que a repartição que chefia está completamente descontrolada, e pedir demissão. Colocado no cargo por um movimento corporativo para substituir a secretária Lina Vieira, aquela que disse que a então ministra Dilma Rousseff pediu para que aliviasse uma investigação sobre a família Sarney, Cartaxo tenta retirar qualquer cunho político do acontecido, mesmo que para isso se desmoralize, levando junto o órgão que comanda.

O aparelhamento do Estado faz a segunda vítima nos últimos dias, portanto, sendo a primeira a Empresa de Correios e Telégrafos que, entregue ao comando inepto de indicados pelo PMDB, está em franca decadência.

Na verdade, se pegarmos a relação de pessoas que tiveram o sigilo fiscal quebrado na agência da Receita Federal em Mauá, São Paulo, é um grande escândalo.

São mais de cem contribuintes, da apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga aos sócios das Casas Bahia, passando pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge Caldas e mais três pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

Isso mostra que havia um mercado de venda de sigilo fiscal. Mas não mostra, como quer apressadamente garantir Cartaxo e o corregedor da Receita, que não há interesse político por trás da quebra do sigilo dos contribuintes ligados ao PSDB.

Os interesses comerciais que predominaram na quebra do sigilo da maior parte das pessoas relacionadas como vítimas da ação de funcionários da agência da Receita Federal não retiram a gravidade da ação claramente política que aconteceu na mesma agência.

Tanto que os dados fiscais de Eduardo Jorge foram parar em documentos a que a Folha de S. Paulo teve acesso a partir de vazamento de informações do próprio comitê eleitoral da candidata oficial, Dilma Rousseff.

É muito forçada essa indignação toda da direção do PT, quando se sabe que anteriormente um caso que poderia ter tido consequências ainda mais graves foi desarmado também por denúncias da imprensa, desta vez da revista Veja.

O núcleo de comando do comitê da campanha de Dilma Rousseff, através do jornalista Luiz Lanzetta, entrou em contato com notório araponga para contratá-lo para missões de espionagem.

O escopo da missão abrangia não apenas pessoas ligadas ao candidato oposicionista, como o próprio José Serra, que teria seus telefones pessoais grampeados.

Para aproveitar o pacote, o araponga colocaria escutas também no próprio comitê, devido a uma disputa de poder interna entre o grupo que o contratava, ligado ao hoje candidato a senador em Minas Fernando Pimentel, e o grupo de assessores paulistas.

O fato de a agência da Receita Federal em Mauá ter se transformado num balcão de vendas de informações sigilosas não reduz a gravidade do caso nem despolitiza a questão, se essa foi a intenção dos dirigentes da Receita ao anunciarem seu constrangimento diante da descoberta.

O que pode haver de comum nos casos é que as informações podem ter sido conseguidas através de pagamento de propina.

Digo podem porque existe também a possibilidade de que as informações sobre as pessoas ligadas ao PSDB tenham sido conseguidas na base do amor à causa.

É natural que a corrupção se misture às atividades políticas ilegais, pois transpostas as barreiras da legalidade muitos veem nessas ações clandestinas também uma maneira de fazer um dinheirinho extra.

Logo após as denúncias contra o assessor do gabinete civil Waldomiro Diniz, flagrado apanhando propina do bicheiro Carlos Cachoeira para si e supostamente para campanhas políticas, fato revelado no início do primeiro governo Lula, o então presidente do PT, José Genoino, cunhou a seguinte frase: O erro pela causa o presidente aceita. O erro em causa própria, não.

Este é um exemplo clássico de critério ético elástico, que gera um movimento descontrolado.

Tudo pode ter começado pela causa, o que não justifica nada, e terminado em causa própria.

Outro caso exemplar desse descontrole é o do então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, responsável pela indicação de ocupantes dos principais cargos da República no início do governo.

Envolvido no escândalo do mensalão, o Tribunal de Contas da União apontou indícios de superfaturamento nos contratos da GDK com a estatal Petrobrás, onde Silvinho mandava e desmandava.

Descobriu-se no decorrer das investigações que a empresa dera um jipe Land Rover de presente ao ex-secretáriogeral do PT.

O mais grave de tudo é que mais uma vez investigações sobre desvios de condutas na órbita das instituições do Estado que foram aparelhadas pelo PT e partidos aliados parece que não darão em nada.

O caso dos aloprados da eleição de 2006, apanhados em flagrante pela Polícia Federal quando negociavam em um hotel em São Paulo a compra de um dossiê contra o então candidato ao governo do estado, José Serra, ainda hoje está insolúvel.

Aquela montanha de dinheiro, cuja fotografia vazou dos bastidores da Polícia Federal para contrariedade de seus comandantes e da cúpula do PT, ainda está até hoje sem uma explicação razoável de sua proveniência.

Não se sabe de ninguém que tenha sido preso pelo crime cometido.

O crime agora descoberto na Receita Federal tem a mesma destinação: produzir dossiês contra adversários políticos, uma baixaria a mais numa campanha eleitoral que vem sendo marcada pela ilegalidade, a começar pelo próprio presidente.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Estadão 27/08 - - Dora Kramer: Continuísmo

O presidente Luiz Inácio da Silva não se aguenta: morre pela boca, mas nunca deixa passar uma excelente oportunidade de ficar calado.

Na quarta-feira teve duas chances e aproveitou as duas. Na primeira, contou em público uma versão mentirosa de um episódio ocorrido há oito anos, em que posou de vítima de preconceito por parte do diretor editorial do jornal Folha de S. Paulo. Isso apesar de as testemunhas estarem bem vivas para contestar.

Na segunda vez, discursava aos militares sobre a nova lei que reforça a estrutura do Ministério Defesa quando do coração lhe brotaram as palavras de lamento - sempre "em tom de brincadeira" - por não ter enviado uma "emendinha" propondo ao Congresso "mais alguns anos de mandato".

Note-se que não se referiu a disputa, mas a extensão.

O presidente Lula não se segura. De vez em quando externa o que lhe vai às profundas da alma, coisas que jamais esquece: a derrota da CPMF e a impossibilidade de ter aprovada a chance de alcançar um terceiro mandato sem traumas institucionais.

O problema com o imposto do cheque não é o dinheiro. Isso não faz falta ao governo. Lula não se conforma é com a derrota política que o fez perceber a impossibilidade de aprovar a emenda do terceiro mandato no Senado.

Assuntos sobre os quais nunca cogitamos não vêm à tona assim sem mais nem menos. Muito menos um tema como esse.

Ultimamente o presidente vem fazendo referências cruzadas a respeito. Lamenta o fim do segundo mandato, diz o quanto ficará saudoso do poder, insinua influência permanente no governo da "presidenta" que já considera eleita e ordena à tropa que empenhe todo esforço na eleição de uma bancada gigante de senadores.

De preferência derrotando todos aqueles que lhe fizeram oposição mais aguerrida. Não quer só maioria, quer vingança.

E para quê, se chega ao fim o seu tempo?

Aí é que está. Se realmente conseguir eleger Dilma a Lula parecerá que pode conseguir qualquer coisa. Maioria no Senado, voltar à Presidência em 2014, exercê-la de fato até lá com o beneplácito da "presidenta" de direito.

Por que tanta vontade de ter maioria no Senado, qual o projeto que indica essa necessidade?

No caso de Dilma não se aplica o preceito de que a criatura dá adeus ao criador tão logo assuma o poder. Ocorre quando o criador não tem o controle real das coisas, a começar pelo partido e pela figura que atua no imaginário popular.

Se ousar contra ele, a criatura sabe que a tempestade não lhe será leve.

Muito além. Não é (só) a liberdade dos humoristas que está sendo violada com as proibições impostas pela Lei Eleitoral. São as garantias de toda a sociedade, além da Constituição como fiadora da liberdade de expressão.

De onde é louvável a iniciativa da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão de entrar com ação direta de inconstitucionalidade contra o veto ao exercício da crítica política nos 90 dias que antecedem as eleições.

Lamentável é terem se passado 13 anos de (quase) total insensibilidade com a violência da lei, a despeito dos isolados reclamos.

Meta comum. Os caminhos são diferentes, mas o objetivo dos governos da Venezuela, da Argentina e do Brasil é o mesmo: tutelar a sociedade e assegurar trânsito livre de críticas aos respectivos projetos de poder, por intermédio do controle da informação.

O governo Lula ensaia, recua e insiste em manietar a imprensa por meio de instâncias colegiadas e sugestões corporativas. Os Kirchner alteram as leis para prejudicar os grandes grupos de comunicação.

Chávez é explícito. Hoje prende e arrebenta, mas nem sempre foi assim, embora caminhe nesse sentido desde o início. Os fascinados por "governos do povo" - os bem-intencionados, não os vendidos - é que não percebem o andar da carruagem do autoritarismo.

Só se dão conta e protestam quando suas vozes já não podem mais ser ouvidas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Globo 26/08 - - Serra: PT faz a 'mais pura' espionagem

Candidato tucano afirma que vazamento é uma "afronta à Constituição", e oposição cobra explicações de Dilma

Cristiane Jungblut, Gerson Camarotti e Paulo Francisco*

BRASÍLIA, SÃO PAULO e NATAL. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem em Natal que a quebra de sigilo fiscal de mais três pessoas ligadas a ele já era previsível, uma vez que o "PT faz espionagem e outras coisas gravíssimas":

- Isso é uma afronta à nossa Constituição: quebrar sigilo das pessoas ilegalmente.

Para Serra, a quebra de sigilo fiscal do vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e o acesso a dados fiscais do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, de Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, e de Gregório Marin Preciado é "pura espionagem", com o objetivo de tentar encontrar "armas eleitoras" contra ele:

- Não é a primeira vez, isso vem de muitos anos, de muitas coisas. Lembram o dossiê dos aloprados, do qual fui vítima - disse o candidato, quando fazia uma caminhada ontem no bairro do Alecrim, ao lado da candidata do DEM ao governo do estado, senadora Rosalba Ciarline, e do candidato ao Senado José Agripino Maia, que tenta a reeleição.

O tucano elogiou a atuação dos jornais nesse episódio, ressaltando a importância da imprensa no Brasil:

- É a imprensa que mostra as coisas e denuncia. Não é por menos que eles (o PT) vivem querendo coagir a liberdade de imprensa no Brasil.

Outros dirigentes tucanos também atribuíram ao PT e à sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, a responsabilidade pelo vazamento dos dados fiscais. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), cobrou explicações de Dilma sobre o fato.

- Não pode haver nada mais grave. Se nem a Receita Federal está protegida da tropa de choque do PT, imagine a sociedade. Vamos ver se ainda há determinação democrática para punir os responsáveis. Não venham com desculpas esfarrapadas. A ministra Dilma Rousseff tem que dar uma satisfação. Até porque ela é a candidata dessa turma que praticou o ato ilegal da quebra de sigilo. Mais do que ninguém, Dilma deve esclarecer tudo isso - disse Guerra.

"Eduardo Jorge não vai sossegar até descobrir"

Indagado se Dilma teria envolvimento com os vazamentos, Guerra, pouco antes de embarcar de São Paulo para Recife, foi enfático:

- Evidentemente, não foram nossos aliados que fizeram isso - afirmou. - O Eduardo Jorge não vai sossegar enquanto não descobrir quem foi (que vazou). Ele vai saber quem é, e nós vamos colocar na cadeia

Na mesma linha, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virílio (AM), disse que as informações são muito graves.

- Uma coisa é a Justiça suspeitar de alguma coisa. Outra coisa é alguém, que é dono da máquina, vasculhar A, B ou C. É um choque à ordem jurídica do país - disse Virgílio.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que há uma "banalização do crime" de elaborar dossiês. O tucano é autor do requerimento aprovado no último dia 11, na Constituição e Justiça do Senado (CCJ), para que o corregedor-geral da Receita Federal, Antonio Carlos Costa D"Ávila Carvalho, compareça à comissão na próxima terça-feira. Carvalho foi convidado a dar explicações sobre as declarações da servidora da Receita Federal Antônia Aparecida Rodrigues Santos Neves, de que sua senha foi usada indevidamente para acessar dados fiscais de Eduardo Jorge.

- Diante dos novos fatos, cresce em importância o depoimento do corregedor na terça-feira. O que fica provado é que havia nisso um interesse eleitoral. Em CPIs, eles também quiseram intimidar a oposição. Agora, são pessoas que tiveram vínculos com o governo do PSDB e foram escolhidas como forma de intimidar a oposição, de vasculhar informações. É uma banalização do crime, uma ameaça ao estado de direito - disse Dias.

Servidora suspeita recusou convite da CCJ do Senado

A servidora da Receita, que teve sua senha usada para investigar Eduardo Jorge, também foi chamada pela CCJ, mas, em carta, recusou o convite. Na carta, ela negou envolvimento no episódio e reiterou que não acessou os dados e que sua senha foi usada indevidamente.

Presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), lembrou que foi feito só um convite ao corregedor e que, em época eleitoral, é difícil prosseguir nas investigações. Para ele, o ideal seria uma CPI. Demóstenes ironizou a nova denúncia, afirmando que é essa uma prática antiga.

- É um negócio que está no sangue mesmo. É algo muito preocupante. E não é qualquer um, é gente que tem poder - disse Demóstenes.

* Especial para O GLOBO

COLABOROU Flávio Freire

Globo 26/08 - - A máquina

Merval Pereira

Agora ficamos sabendo, graças ao jornalismo da grande imprensa que o governo Lula tenta constranger justamente para que fatos como este não sejam divulgados, que o vice-presidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, não foi o único tucano a ter o sigilo fiscal quebrado dentro da Receita Federal. Outros três personagens, ligados de alguma maneira a José Serra, candidato tucano à Presidência da República, também tiveram seus dados acessados irregularmente no dia 8 outubro, em 16 minutos de atividades através de um mesmo computador e com a utilização da mesma senha.

O processo aberto na Receita Federal, que ainda não foi divulgado oficialmente, demonstra que, sem motivação profissional, as declarações de Imposto de Renda do ex-ministro das Comunicações do governo de Fernando Henrique Cardoso Luiz Carlos Mendonça de Barros, do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio e de Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de Serra, também foram acessadas.

A quebra de sigilo de "adversários" políticos é apenas uma faceta do aparelhamento do Estado posto em prática pelo governo.

Uma análise aprofundada dessa máquina está no livro "A elite dirigente do governo Lula", da cientista política Maria Celina D"Araujo, atualmente professora na PUC do Rio de Janeiro.

O próximo presidente da República vai herdar uma máquina pública "experiente e bem formada", com fortes vínculos políticos com o PT e a CUT, relação aprofundada no governo Lula.

Segundo o estudo, uma máquina formada por pessoas altamente escolarizadas, com experiência profissional, a maioria proveniente do serviço público, com fortes vínculos com movimentos sociais, partidos políticos, especialmente o PT, sindicatos e centrais sindicais, principalmente a CUT.

Na análise de Maria Celina, os integrantes das carreiras públicas estão majoritariamente filiados a sindicatos e têm preferencialmente adotado o PT, "de forma que mesmo que o governo seja de outro partido, a máquina pública irá refletir essa tendência".

Esse "sindicalismo de classe média", onde predominam professores e bancários, tem sua base no funcionalismo público, fundamental para reativar o sindicalismo brasileiro a partir da redemocratização nos anos 1980, e está na origem do Partido dos Trabalhadores.

Dados oficiais indicam que em julho de 2009 havia 47.500 cargos e funções de confiança na administração direta, autárquica ou em fundações, que podiam ser preenchidos discricionariamente pelo Poder Executivo federal.

É essa máquina, dominada pelos sindicalistas, que atua nas sombras para produzir dossiês ou comprá-los com dinheiro escuso de que até agora não se sabe a origem, como no caso dos "aloprados", de 2006, que pagaram com montanhas de dinheiro vivo um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, o mesmo José Serra que hoje concorre à Presidência da República.

Dossiês e insinuações contra Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio ou Gregório Marin Preciado surgem desde a campanha eleitoral de 2002, especialmente por conta das privatizações.

Mas Mendonça de Barros, o ex-presidente da Anatel Renato Guerreiro e dois ex-presidentes do BNDES, André Lara Resende e José Pio Borges, foram absolvidos, depois de dez anos de insinuações e acusações, que agora a Justiça diz serem infundadas.

O dossiê contra Eduardo Jorge foi descoberto pela "Folha de S. Paulo" e, no decorrer das investigações sobre o caso, descobre-se agora que mais pessoas foram "investigadas".

O comitê de campanha de Dilma Rousseff, onde circulava o dossiê sobre Eduardo Jorge, é o mesmo que se viu envolvido em espionagens e contratações de arapongas para grampear telefones de adversários da campanha de Serra, inclusive o próprio, segundo declaração de um policial que foi sondado para a tarefa.

O jornalista acusado de responsável pela tentativa de criar um núcleo de espionagem na campanha, Luiz Lanzetta, foi afastado do comitê, mas continua trabalhando na campanha de maneira indireta, em outra empresa.

Ao mesmo tempo, a campanha de Dilma contratou um jornalista "investigativo", Amaury Ribeiro Jr., que supostamente escreveu um livro com denúncias sobre o processo de privatização no governo Fernando Henrique. Depois do escândalo, ele também foi afastado do comitê.

Como não é a primeira vez que um órgão federal quebra o sigilo de "adversários" do governo - não se deve esquecer nunca o caso do caseiro Francenildo Pereira, que teve seu sigilo na Caixa Econômica Federal quebrado na tentativa de proteção do então ministro da Fazendam Antônio Palocci, hoje um dos coordenadores da campanha de Dilma -, seria preciso que a cidadania se escandalizasse com essa prática antidemocrática, que fere os direitos individuais.

São as "janelas quebradas" do sigilo de que falou o juiz Antônio Cláudio Macedo da Silva, que mandou abrir para Eduardo Jorge a investigação da Receita.

Mas nada mais espanta, nem causa constrangimentos aos donos do poder, que já se sentem nomeados para pelo menos mais quatro anos de governo, quem sabe mais oito, ou talvez mais 12 caso Lula reivindique para si a candidatura em 2014, assumindo o lugar que sua "laranja eleitoral" esquentou para seu retorno glorioso.

A vontade de permanecer, mesmo por interposta pessoa, é tamanha que o próprio Lula já se acha em condições de fazer piadinhas com o continuísmo sonhado. "Podia ter uma emendazinha para mais alguns anos de mandato", brincou ontem ao assinar a reorganização do Ministério da Defesa.

De brincadeira em brincadeira, mas levando muito a sério a missão de eleger sua escolhida, Lula demonstra um apetite pelo poder que tem reflexo na máquina partidária que está montada e em ação, trabalhando dentro do governo para garantir a permanência do grupo.

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