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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"Mercado financeiro está com Dilma"

João Villaverde, de São Paulo

"Nunca vi uma eleição tão chocha quanto a deste ano. Desde que nos redemocratizamos, essa é a eleição para presidente mais tranquila. Os dois principais candidatos, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), são muito parecidos, o que deixa a situação mais calma. Mas eu tenho medo da Dilma". A afirmação é de Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor da Quest Investimentos e ex-ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Palestrando em seminário promovido na sexta-feira em São Paulo pelo CFA Society of Brazil, braço nacional de um instituto de financistas e gestores de fundos de investimento, Mendonça de Barros foi categórico em qualificar um eventual governo Serra como "mais fiscalista e responsável" que um eventual governo Dilma. E disse à reportagem do Valor: "Não falo como tucano, mas como analista de conjuntura".

Segundo Mendonça de Barros, cerca de 80% dos agentes do mercado financeiro estão com Dilma e os outros 20% com Serra. "É uma inversão de papéis porque em 2002 foi o mercado financeiro, principalmente os operadores da BM&F, que fez Lula ceder às pressões dos radicais do PT. Agora, o mercado entende que Serra seria mais intervencionista e prefere a manutenção", avalia. O economista disse temer o aumento do Estado em eventual governo Dilma. "Uma coisa é recriar a Telebrás e dar de brinquedo para uns petistas. Outra coisa são operações como a do BNDES, que recebeu R$ 180 bilhões do Tesouro". O diretor da Quest afirmou que o risco, para Serra, é uma vitória da candidata petista no segundo turno. "Estava jantando na casa de um amigo, que é grande governador de um pequeno Estado, quando assistimos à entrevista de Dilma ao "Jornal Nacional". Ele disse uma coisa interessante: se a decisão chegar ao segundo turno, Serra deve ganhar, porque ele se dá muito melhor em debates que ela".

Na apresentação, Mendonça de Barros caracterizou o momento vivido pela economia como "amplamente favorável ao crescimento". A Quest avalia que o PIB deste ano terá expansão superior a 7% - a maior desde 1986 - e que a taxa de desemprego atingirá, em dezembro, 6,5% - a menor da série histórica. "O que precisamos agora é de maior rigor fiscal, algo que Dilma não tem", diz ele, que vê nos gastos públicos elevados o principal ponto de ajuste para o novo governo. "Ninguém vai cortar gastos públicos, isso não existe. Mas o Serra tem uma ideia interessante, que é baixar a alíquota de um determinado imposto aproveitando o excesso de arrecadação que tiver". Segundo o exemplo apresentado por Mendonça de Barros, se houver arrecadação adicional de R$ 5 bilhões em 2011, no ano seguinte haverá redução de "uns R$ 3 bilhões na PIS/Cofins, e assim sucessivamente, por quatro anos".

O problema do candidato do PSDB e de suas ideias, raciocina Mendonça de Barros, é que "Serra é mal amado". "Mas ele sempre teve maior rigor com o lado fiscal e escolheu as pessoas certas para tocar seus projetos. Veja o caso do atual secretário da Fazenda de São Paulo. Não me dou bem com ele, mas é um cara como o Serra, que tem atenção para os gastos. O sujeito é tão rigoroso com isso que Serra teve de mandar um avião da FAB pegar ele em Manaus na época em que era secretário da Zona Franca de lá porque as pessoas queriam matá-lo", diz o economista, em referência a Mauro Ricardo, secretário da Fazenda do governo paulista. Procurada pela reportagem, a secretaria não quis comentar as declarações.

Antes de ser ministro das Comunicações, em 1998, Mendonça de Barros foi, por três anos, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tendo atuado, ao longo do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), como articulador das privatizações de estatais como Vale e Telebrás. Pertencia, ao lado do irmão José Roberto Mendonça de Barros, então secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, e de José Serra, então ministro do Planejamento, ao grupo de economistas heterodoxos do primeiro governo FHC, que batia de frente com as diretrizes do ministro da Fazenda da época, Pedro Malan, e do então presidente do Banco Central, Gustavo Franco.

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