Merval Pereira
A primeira coisa que se avalia na cúpula do PMDB sobre as informações de que tanto o PT quanto o PSDB estariam se articulando para neutralizar a força política presumida do partido num futuro governo Dilma é que essas movimentações são uma constatação de que o PMDB será uma força real no futuro governo.
Justamente por isso o PMDB está tentando definir qual será o seu papel e a sua cara no futuro governo. Estão saindo desta eleição mais unidos do que em qualquer momento recente, e a tendência é que apostarão em um projeto conjunto com o governo Dilma, como já apostaram no governo Lula, o que se mostrou muito bom para o partido.
A tendência é que o PMDB saia desta eleição com um resultado muito bom para o Congresso e governos dos estados, como já havia saído muito bem na eleição municipal, o que pode significar para o PMDB um processo de crescimento.
Vai chegar uma hora em que o partido terá que decidir que atitude tomar na formação do novo governo: ou usa sua força para arrancar nacos de poder e contenta todos os segmentos, cada um com seu espaço; ou se vincula a uma agenda de poder.
Há um certo drama existencial dentro do PMDB. Na definição do ex-governador Moreira Franco, representante do partido na elaboração do programa de governo, há uma decisão majoritária no PMDB de mudar a sua prática, porque nos incomoda muito ter essa imagem de fisiológico.
Há riscos nas duas opções.
Negociar fisiologicamente, como vem acontecendo, reduz a perspectiva do partido, que não participará da orientação do governo.
Vincular-se a um projeto político, porém, aumenta seu risco. A avaliação é que o PMDB correu mais riscos ao apoiar Dilma do que em qualquer outro momento recente da história do partido. E um futuro governo Dilma é uma aposta renovada.
O partido tem tido uma preocupação grande de não começar agora a discussão sobre o novo governo. Inclusive porque o quadro eleitoral não está claro ainda, e o PMDB tem expectativas de se sair muito bem, o que aumentará seu cacife para negociar mais adiante.
Existe também um processo em curso de quebrar estranhamentos com o PT, e por isso não seria recomendável que se antecipe uma disputa que pode ser resolvida mais adiante, com todas as cartas na mesa.
O PMDB sabe muito claramente que ele assusta e preocupa o PT. Quando o presidente do partido e candidato a vice Michel Temer disse que estava disposto a repartir o pão com as bases do partido, houve quem no governo tenha comemorado, pois a frase foi vista como um movimento que assustava os demais partidos da base governista com o apetite do PMDB.
Uma coisa que preocupa o PT é a possibilidade de os partidos de centro-conservador que fazem parte da base aliada, como o PP e o PR, se aliarem ao PMDB.
Os satélites de esquerda, como o PSB, o PCdoB e o PDT, sairão fortalecidos das eleições, especialmente o PSB, e também começam a se mexer para neutralizar o PMDB. A visão do PT é que ele precisa formar uma maioria dentro da maioria, o que vai contra o PMDB.
Outro complicador, onde fatalmente as forças estarão se contrapondo, é o comando das duas Casas do Congresso. Na Câmara, a disputa se dá em torno de dois políticos muito importantes e representativos dos dois campos.
O candidato do PMDB é o deputado federal Henrique Eduardo Alves, que é muito ligado a Michel Temer e foi fundamental para que o partido assumisse formalmente a candidatura Dilma.
Ele estará no seu décimo mandato de deputado federal seguido, tornando-se o mais antigo da Câmara, e quer marcar o fato presidindo-a.
Do outro lado há o Cândido Vaccarezza, que é um deputado que cresceu muito dentro do PT, muito bem articulado com o Palácio do Planalto.
A solução pacífica desse embate seria repetir a fórmula do segundo governo Lula, quando o PMDB, embora tendo a maior bancada, deixou que o PT presidisse a Câmara com o Arlindo Chinaglia, para depois haver um revezamento e Michel Temer assumir a presidência.
Desta vez, o PMDB quer ter a prioridade.
A questão-chave é saber qual será a função do Michel Temer num eventual governo Dilma. Visto como uma ameaça, existirá o receio de que ele poderá usar sua capacidade de articulação no Congresso para tentar pressionar o governo.
Visto como um recurso, significará que o governo Dilma poderá usá-lo como um articulador político, e ao usálo nessa dimensão o governo estará emitindo um sinal de que confia no PMDB. Se isolálo no papel inócuo de vice, o sinal será de desconfiança.
Moreira Franco diz que hoje o PMDB está praticamente inteiro no apoio a Dilma, e os dissidentes estão isolados. A percepção no PMDB é de que o partido acabará a eleição num grau de unidade que só obteve quando se uniu em torno da candidatura de Tancredo Neves à Presidência, o que levaria ao fortalecimento de um projeto nacional que resgataria o papel do antigo PMDB.
Nossa geração passou a vida lutando por isso, diz Moreira Franco, que relembra a luta do antigo PMDB pela liberdade de imprensa, de opinião, de organização, pelos direitos civis. Não há hipótese de haver um retrocesso nesse campo, garante, ressaltando a maturidade da sociedade brasileira e as novas tecnologias que dão às pessoas hoje um canal de expressão que é impossível calar.
A relação entre PT e PMDB, portanto, está por ser construída. A relação evoluiu muito. Não apenas o PMDB deu um apoio a Dilma que nunca havia conseguido anteriormente, em unidade e envolvimento, como o Lula entregou ao PMDB parcelas de poder político de que o PT nunca abrira mão antes, como, por exemplo, não ter candidatos aos governos do Rio e de Minas.
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
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