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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Folha 23/09 - - Força e espuma da onda vermelha

Renata Lo Prete



A se confirmarem os números das pesquisas, o PT não sofrerá nenhum revés relevante na eleição

A POPULARIDADE do presidente da República já havia apagado o desenho no qual os brasileiros se dividiam em três fatias mais ou menos iguais: os pró-Lula, os anti-Lula e os que se moviam ao sabor da conjuntura. Desde 2008, a parcela que o reprova não chega a um décimo.
A novidade de 2010 é que também o PT pode dar um salto e derrubar a tese de que possui piso e teto semelhantes, cada um em torno de um terço do eleitorado.
A se confirmarem os números das pesquisas, o partido não sofrerá nenhum revés significativo em 3 de outubro. Perderá apenas onde já esperava perder. Ganhará também onde não esperava ganhar.
É o caso das disputas para governador, que a legenda não tratou como prioritárias -por decisão de Lula, em vários Estados aliados foram privilegiados em troca de apoio à candidatura de Dilma Rousseff.
Ainda assim, o PT, que hoje controla quatro unidades da federação, poderá ficar com cinco ou seis.
Diferentes institutos dão como certas as vitórias no primeiro turno de Jaques Wagner (Bahia), Marcelo Déda (Sergipe) e Tião Viana (Acre).
E como prováveis as de Tarso Genro (Rio Grande do Sul) e Agnelo Queiroz (Distrito Federal).
As dificuldades para a reeleição de Ana Júlia, no Pará, não chegam a surpreender, tantos foram os erros no primeiro mandato -mesmo assim, sobrevive a possibilidade de uma arrancada na reta final.
Surpreendente é a dianteira de Tarso, que conseguiu atrair mais adesões do que o insosso -e por isso mais palatável- PMDB gaúcho.
Ou o resultado consagrador que se avizinha na Bahia, não obstante os adversários de peso.
No Senado, o PT poderá pular dos atuais 8 para até 15 representantes.
Lidera, de maneira isolada ou em situação de empate técnico, em colégios eleitorais importantes, como São Paulo (com Marta Suplicy), Rio de Janeiro (Lindberg Farias), Pernambuco (Humberto Costa), Bahia (Walter Pinheiro) e Paraná (Gleisi Hoffmann). À exceção da ex-prefeita, os demais estão superando as expectativas.
Os únicos candidatos a senador com desempenho aquém do programado são justamente os que foram sacrificados pelo partido.
Fernando Pimentel (MG) paga o preço do jamais assumido pacto de não agressão entre o Planalto e Aécio Neves (PSDB) em benefício do voto "Dilmasia". Já Paulo Paim (RS) sofre por ter atuado durante oito anos à margem e eventualmente contra os interesses do governo.
Na Câmara, nem o PMDB contesta a estimativa de que a onda vermelha elegerá a maior bancada, com mais de cem deputados.
E há Dilma, hoje na frente em todos os Estados pesquisados pelo Datafolha, inclusive nos redutos tucanos: tem o dobro da intenção de voto de Serra em Minas e, ainda que na vizinhança da margem de erro, segue à frente em São Paulo.
Daí a preocupação do PT com os mais recentes escândalos da campanha. Tráfico de influência na Casa Civil, propina nos Correios, violação de sigilo na Receita: esses episódios não alvejam exclusivamente Dilma. São também um teste de estresse da nova fase do relacionamento entre o partido e o eleitor.

RENATA LO PRETE é editora do Painel

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