Os prognósticos são de uma vitória avassaladora da aliança governamental, capitaneada pelo PT e pelo PMDB. A eleição presidencial está praticamente decidida, salvo se houver algum fato novo que prejudique seriamente a candidatura de Dilma. O episódio da Receita Federal, embora grave do ponto de vista da cidadania, não terá efeito eleitoral forte se não atingir um grão-petista diretamente envolvido na campanha presidencial. Não parece ser esse o caso mais provável.
No que diz respeito à representação parlamentar, as oposições certamente perderão posições. O caso mais emblemático é o do Senado, onde lideranças oposicionistas encontram dificuldades para a reeleição, disputando, acirradamente, a segunda posição. Se esses prognósticos se confirmarem, torna-se evidente o enfraquecimento das oposições.
Poder-se-ia dizer que elas estariam arrasadas, colocando o problema de uma revisão de suas posições e, mais concretamente, de uma eventual reconfiguração partidária.
O PT e a base aliada, capitaneada por Lula, estão dando um espetáculo de competência. É bem verdade que o atual presidente agiu para lá do que seria recomendável para alguém no exercício de seu mandato, não tendo conseguido representar o papel de um estadista.
A questão, no entanto, não está aqui, mas na incompetência das oposições, que sucumbem a seus próprios erros e concepções.
Uma oposição que procura se colocar como herdeira da situação exibe a sua própria falta de ideias. Serra, em sua propaganda eleitoral, esconde o expresidente Fernando Henrique e exibe Lula em imagens televisivas. Se o eleitor prefere Lula, é evidente que ele votará em Dilma, que é a sua candidata. O expresidente Fernando Henrique, por sua vez, é tratado como se tivesse uma doença contagiosa, quando ele é, também, o responsável por vários empreendimentos bem-sucedidos do atual governo, como a política macroeconômica, o Bolsa Família, a Lei de Responsabilidade Fiscal e o saneamento dos bancos.
O PT, sem reconhecê-lo, adotou uma política neoliberal.
Acontece, contudo, que o próprio expresidente não escondeu a sua satisfação quando foi sucedido por Lula. Para além das questões pessoais, estava em jogo uma questão de cunho, digamos, doutrinário, como se o poder, enfim, estivesse passando de uma esquerda socialdemocrata para uma esquerda sindical, que, progressivamente, se social-democratizaria, aliando-se à sua predecessora no poder. A aliança não ocorreu, tendo o PT feito um governo pragmático em várias áreas, apesar de não ter efetuado nenhuma revisão de suas concepções. Com efeito, o atual governo loteou partes do Estado para as tendências mais radicais do partido e para os ditos movimentos sociais, que são verdadeiras organizações revolucionárias.
É o caso do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Incra, Funai, Itamaraty, de partes do Ministério da Educação e do Desenvolvimento Social.
Outro resultado desse processo foi, inclusive, o não surgimento de uma direita moderna, defensora do estado de direito, da economia de mercado, da livre iniciativa, do direito de propriedade, dos contribuintes e da democracia representativa. Os democratas chegaram a trilhar esse caminho, mas terminaram se colocando a reboque do PSDB.
Para se viabilizarem eleitoralmente, deveriam ter tido um candidato próprio nesta eleição, uma cara nova, que criaria uma alternativa e teria um recall para as próximas eleições.
Os tucanos não estão numa situação muito melhor, apesar de poderem conquistar estados importantes como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Acharam, anteriormente, que deter estados importantes seria uma sólida alavanca para as eleições presidenciais. O prognóstico não se confirmou, entre outras razões, porque o PSDB segue sendo um partido basicamente paulista, sem visão e inserção nacionais. Logo, não deveria surpreender que o atual pleito presidencial tenha três candidatos petistas e um tucano, todos se reivindicando da esquerda. Dilma é PT, Marina foi PT até ontem, Plínio de Arruda Sampaio se reivindica das bandeiras históricas do PT e Serra é fruto desse mesmo imaginário político-social.
Ademais, o PT cooptou a direita mais oligarca, fisiológica, como os grandes caciques do Nordeste e do Norte do país. A direita está dentro da aliança governamental de esquerda. Quem não se espelha nessa concepção não tem em quem votar! Criou-se, assim, uma grande preocupação no que diz respeito ao projeto hegemônico do PT, como se a democracia estivesse efetivamente ameaçada em nosso país. É bem verdade que existe uma ameaça real quando um partido se apodera de postoschaves do Estado, aparelhando-o e reduzindo as oposições a uma posição subalterna. Convém, porém, salientar que as próprias oposições são igualmente responsáveis por essa situação.
O PT, por sua vez, não pode ser tratado ideologicamente como um bloco, abrigando tanto tendências reformistas e democráticas quanto revolucionárias e antidemocráticas. É forçoso reconhecer que o partido seguiu todas as regras democrático-representativas, apesar de procurar enfraquecê-las, por exemplo, com o controle social da mídia, a democracia dita participativa, os ataques ao direito de propriedade e a leniência com os ditos movimentos sociais, chegando a financiá-los. O desfecho dessa luta interna em muito dependerá de nossas instituições e do papel que a oposição vier a desempenhar.
Por último, a vitória do PT não é só do PT, mas da aliança governamental, sobretudo do PMDB. Embora esse partido seja uma soma de partidos regionais de nítidos interesses fisiológicos, o seu projeto não consiste em uma abolição da democracia representativa.
Mesmo para a conservação do seu pior lado, a democracia representativa deve ser preservada. Quero dizer com isto que o PMDB poderá vir a exercer um importante papel de moderação no próximo governo, compondo com o PT e com as oposições. E da renovação dessas últimas, dependerá a consolidação da democracia no país.
DENIS LERRER ROSENFIELD é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
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