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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Folha 12/08 - - Menos influência, menos dinheiro

Candidato a vaga na Câmara terá de se empenhar mais para bancar campanha

EMBORA A primeira prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral tenha registrado arrecadação aquém da projetada pelas campanhas presidenciais, é ponto pacífico que não faltarão recursos a Dilma, Serra e Marina. Já os postulantes a uma cadeira na Câmara terão de rebolar mais do que em eleições anteriores em busca de financiamento.
Quem entende do assunto afirma que eleger um deputado federal por São Paulo neste ano custará no mínimo R$ 4 milhões. O candidato que ao final declarar gasto inferior a esse terá fatalmente recorrido a dinheiro "não contabilizado", como diria Delúbio Soares.
A soma pode chegar a R$ 15 milhões, a depender do grau de fidelização da base eleitoral. Se o posto de vice de Dilma não o tivesse livrado da necessidade de renovar o mandato, Michel Temer (PMDB), bom de articulação, mas ruim de voto, seria um dos que precisariam do orçamento tamanho GG.
Diante de metas tão ambiciosas, a principal atividade dos candidatos é passar o pires -em boa parte das vezes sem intermediários. "Está todo mundo louco", relata um observador da cena. "Esse modelo não aguenta mais uma eleição."
Para escapar do sufoco, o candidato precisa se encaixar em um de dois perfis. Há os que contam com a boa vontade da cúpula partidária, seja pelas circunstâncias, seja pela folha de serviços prestados. O outro grupo, minoritário, é o dos que dispõem de uma rede própria de financiadores.
Mesmo sem o chamado voto em lista, as cúpulas concentram cada vez mais poder para definir, operando a torneira de dinheiro, quem se elegerá e quem ficará pelo caminho. Para reduzir sua exposição e se proteger de cobranças futuras, as empresas preferem doar ao partido, não ao candidato.
Bancar uma campanha de deputado ficou difícil porque a Câmara perdeu importância para os empresários -o Senado ainda é um pouco diferente, pois ali há muita gente com chances de se tornar governador, prefeito ou ministro.
Na era do PAC, ninguém mais precisa de emenda parlamentar para garantir sua obra. Muito melhor obtê-la sem ter de passar pela Comissão de Orçamento, correndo o risco de ir parar no noticiário como personagem do próximo escândalo.
Com a economia rodando ao ritmo atual, o deputado perdeu também a função de "abrir portas" no Banco do Brasil. Elas já estão abertas.
Mais e mais, na percepção do empresariado, é no Executivo que as coisas se resolvem. E, como o atual grupo está no poder há oito anos -com perspectiva de ficar pelo menos mais quatro- dispensa-se o deputado como intermediário das "apresentações". Ao perder influência, o Congresso perdeu também a atenção de quem mais influencia o resultado nas urnas.

RENATA LO PRETE é editora do Painel

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