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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Globo 09/08 - - 'Então fique com Lula'

Jorge Bastos Moreno

É desonestidade intelectual afirmar que o Partido dos Democratas é sucedâneo das legendas que sustentaram a ditadura militar. Melhor dizer que são cacos recolhidos da camisa de força do bipartidarismo e do ajuntamento de experiências que se frustraram no meio do caminho. Oficialmente, o DEM é sucessor do PFL, que foi Frente Liberal extraída da espinha dorsal da ditadura, o PDS, este, sim, sucedâneo da - ufa! - Arena.

Criada pela ditadura, com o MDB, a Arena consolidou-se na presidência de Filinto Müller e ficou famosa na gestão do Francelino "Que país é este?!" Pereira, muso inspirador do Legião Urbana.

Depois veio José Sarney, que foi também o presidente do PDS - até hoje não se sabe ao certo se foi o Sarney que acabou com o PDS, criando a Frente Liberal, ou se foi o PDS que acabou com Sarney, criando a candidatura de Maluf contra Tancredo Neves.

A verdade é que o PFL foi criado e procriou no governo Sarney. Fortaleceu-se, sob o comando de Jorge Bornhausen no governo Fernando Henrique, mas vem definhando no governo Lula e pagando caro pelo que investiu no governo distrital de José Roberto Arruda - foi o primeiro governador a despachar a fórceps de um distrito policial.

José Serra, que chegou a alimentar um namoro impossível com Michel Temer, hoje vice da Dilma, pegou o DEM aos cacos e presidido pelo "aecista" Rodrigo Maia. Na outra candidatura Serra, em 2002, o partido tinha o nome de PFL e era dirigido a manu militari por Jorge Bornhausen.

Rodrigo é o primeiro presidente do DEM e assumiu no embalo da renovação das oligarquias dos próprios Maia ---- êta família grande -, do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte; dos Magalhães, da Bahia; e dos Bornhausen, em Santa Catarina. E também na esteira do surgimento de um líder escoteiro em São Paulo, Gilberto Kassab, atualmente mais tucano do que o ex-governador Aécio Neves.

Enfim, é esse o principal partido da aliança do Serra. Só que Serra, por causa da opção "aecista" de Rodrigo Maia, não fala com o presidente do DEM, apesar de ter uma relação cheia de altos e baixos com Cesar Maia, pai do "alevino", que é como ele sempre se referiu a Rodrigo.

É totalmente esquisito um candidato à Presidência da República ter uma aliança com um partido e ser rompido com o presidente desse partido. Em se tratando de Serra, isso é possível porque isso é Serra. "Nada que vem de Serra é esquisito, além dele mesmo", costumava brincar o ex-presidente FH.

Mesmo rompido, Serra, nesta campanha, já falou duas vezes por telefone com Rodrigo Maia. Mas para brigar.

A mais recente aconteceu na quarta-feira da semana passada, quando o candidato exigiu que Rodrigo Maia desmentisse uma declaração publicada na coluna "Painel", da "Folha de S. Paulo", na qual o presidente do DEM afirma que o maltratado Gabeira prometeu dar "banana" para o Serra e não para ele.

A íntegra do diálogo, com impublicáveis trocas de gentilezas, foi passada ao GLOBO por puro acaso e por uma pessoa mais distante da campanha do que Fernando Henrique Cardoso.

Rodrigo Maia nega não só o diálogo como também a existência do próprio telefonema e ameaça divulgar nota oficial desmentindo qualquer publicação a respeito.

O deputado só não explica por que, então, depois de convidado para acompanhar Serra ao debate da Bandeirantes, no dia seguinte, tenha respondido:

- Depois do que ele me fez ontem?

O presidente do DEM só desmente a briga porque está engessado pelo candidato, que, a interlocutores, disse ontem que Rodrigo Maia só fala ... - e aí deu uma lista de nomes de repórteres e colunistas de GLOBO, "Folha" e "Veja". Maia deve pensar que, se confirmar o bate-boca, Serra vai achar que foi ele que vazou a parte publicável da conversa:

Serra: - Sua declaração foi infeliz. Aliás, não é nem declaração, é provocação. Você tem que desmentir o "Painel" da "Folha".

Rodrigo: - Eu não. Eu falei apenas uma verdade. Você prometeu coisas para o Gabeira e não cumpriu.

Serra: - Então, no mínimo, o que você tem que fazer é ligar para o Gabeira.

Rodrigo: - Mas isso é o que não farei de jeito nenhum.

Serra: - Então fique com Lula!

E aí, e aí... a ligação caiu!

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