Chanceler espanhol elogia ação diplomática dos dois países, mas ressalta que próximo passo na crise deve ser do Irã
O espanhol Miguel Ángel Moratinos é o chanceler europeu há mais tempo no cargo. São seis anos à frente da política externa do governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero - o mesmo tempo que seu amigo Celso Amorim acumula no governo Lula, lembra ele. "Estamos os dois de cabelos brancos, só que ele tem mais cabelos do que eu", brinca. Em entrevista ao GLOBO no Hotel Marriott, antes do encerramento do Fórum Aliança de Civilizações, no MAM, o ministro elogiou os esforços de Brasil e Turquia na mediação com o Irã e defendeu a suada aprovação no Parlamento do doloroso plano de corte de gastos do governo espanhol para fazer frente à crise. Sobre Cuba, com quem prometeu reforçar laços com a Espanha na Presidência rotativa da União Europeia (UE), disse ver avanços, embora reconheça a lentidão das mudanças. "É preciso respeitar os ritmos".
Sabrina Valle
O senhor disse no fórum que a diplomacia é a única forma de resolver a crise nuclear com o Irã, e que Brasil e Turquia fizeram um excelente trabalho buscando o diálogo...
MIGUEL ÁNGEL MORATINOS: O esforço diplomático de Brasil e Turquia é louvável, mostrou-se que é possível avançar pela via diplomática. O Irã avançou nos últimos seis meses. É preciso lembrar que a possível aplicação de novas sanções no Conselho de Segurança também é um instrumento diplomático, não é uma invasão, uma solução militar. A combinação de ambos os esforços pode ser positiva.
Estamos num impasse. De onde deve vir o próximo passo?
MORATINOS: Do Irã. O Irã tem de explicar claramente para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) qual o seu programa nuclear, o seu compromisso sobre enriquecimento de urânio, e a troca na Turquia.
Como?
MORATINOS: A AIEA é que tem a capacidade de vigilância, de controle de todos os membros do Tratado Internacional de Não Proliferação Nuclear. É preciso dar acesso, permitir as inspeções. Não há confiança no Irã, e um organismo internacional precisa garantir essa confiança.
Essa mediação aproximou ou afastou o Brasil de sua ambição por um assento permanente no Conselho de Segurança?
MORATINOS: Acho que não afetou em nada. O Brasil não é mais uma nação emergente, é um grande país. Mostrou que tem capacidade de influenciar decisões. Não é por ser membro do Conselho que precisa concordar com todos os demais.
O governo Zapatero fez avanços sociais, mas se viu forçado a retroceder diante da crise econômica, congelando aposentadorias e cortando salários. Qual é o preço político do plano de austeridade para o governo socialista?
MORATINOS: Zapatero pensa no país, e não em seu futuro político pessoal. Não há preço político. As eleições acontecerão em 2012. Tenho certeza de que os cidadãos vão ter compreendido que as decisões tomadas hoje eram necessárias para o futuro econômico do país.
A agência Fitch acaba de rebaixar a classificação da Espanha. Como está o estado de espírito de Zapatero nestes dias críticos?
MORATINOS: Está muito forte, muito firme, muito animado e com muito sentimento de responsabilidade. Há momentos de muita satisfação e momentos difíceis. Também tivermos avaliações positivas das agências de classificação de risco. A Espanha está muito bem avaliada. Essas agências também já avaliaram outros grupos de forma equivocada. O importante foi a aprovação das medidas.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que, desde que Zapatero assumiu, a Espanha "deixou de ser uma angústia para a Venezuela para se transformar em esperança". Em 2008, por exemplo, houve a nacionalização do Banco de Venezuela (do Santander) e o desentendimento com o rei Juan Carlos I. Como estão as relações com a Venezuela?
MORATINOS: Estão muito boas. Todos os países da América Latina são essenciais para a Espanha, mas há 150 mil espanhóis residindo na Venezuela. É preciso ter cuidado com a palavra "nacionalização". O Santander já queria fazer a venda, e as autoridades venezuelanas quiseram comprar. O acordo final foi satisfatório, e o presidente do Santander ficou contente com a operação. Com o rei, o que houve foi um incidente verbal. O próprio Chávez e o rei já riram juntos disso. Dois meses depois, Chávez foi à Espanha e deu de presente ao rei Juan Carlos uma camiseta com a frase "Por que não se cala?". Os dois riram.
A Espanha assumiu a Presidência da UE planejando uma nova relação com Cuba. Houve avanços?
MORATINOS: As relações com Cuba estavam congeladas, não havia diálogo. Na Espanha, começamos com uma nova política de diálogo nos últimos cinco anos. Quando assumimos, havia 300 presos de consciência em Cuba, hoje creio que são 206. Continuamos trabalhando, mas sempre respeitando os ritmos e as decisões das autoridades cubanas. É esse mecanismo que tentamos levar à UE. Em 2003, eliminamos medidas contra Cuba. Em 2007, estabelecemos o diálogo político. Agora falta superar a chamada "posição comum" em relação a Cuba. Vamos discutir em junho e não sabemos qual será a decisão final, pois temos de ter consenso. Mas é uma posição que não tem razão de se manter. A política exterior da UE se estabelece por meio de acordos bilaterais, regionais. Essa é a única posição em comum que a UE tem com todo o mundo. Há quem defenda que é preciso ser mais duro. Mas esse caminho não serviu para alcançar nossos objetivos.
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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