Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Teerã promete saída do labirinto

DO "FINANCIAL TIMES"

A OFERTA do Irã de depositar urânio enriquecido na Turquia, patrocinada pela própria Turquia e pelo Brasil, talvez prove ser uma saída do labirinto que é o jogo de negociação nuclear com Teerã.

Numa declaração conjunta dos ministros das Relações Exteriores dos três países, o Irã propõe transferir 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido ao território turco dentro de um mês, sujeito a monitoramento do próprio país persa e da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Em troca, o Irã espera receber 120 quilos de urânio mais enriquecido de potências globais, o qual precisa para isótopos médicos, dentro de um período não superior a um ano. A atual negociação carrega mais do que uma mera semelhança com um acordo supostamente acertado no ano passado, que rapidamente desmoronou. Sob tal acordo, o Irã enviaria dois terços de seu estoque de urânio pouco enriquecido à Rússia, em troca de isótopos médicos vindos da França.

Mais chances

Mas há três razões pelas quais o novo plano tem uma chance maior de funcionar. Primeiro, ele supera os inconvenientes do acordo anterior, de transferência indireta de urânio, e garante o retorno do urânio pouco enriquecido ao Irã no caso de que as potências globais não cumpram a sua parte da barganha.

Em segundo lugar, uma oferta por escrito -com novas concessões, como depositar o urânio pouco enriquecido em um único lote e abster-se de uma permuta simultânea em solo iraniano- sugere que a irritadiça política de Teerã, combinada com esforços renovados do Ocidente por novas sanções ao país, está fazendo com que os líderes iranianos enxerguem a importância de um acordo.
Mais importante é o papel assumido pela Turquia e, em menor grau, pelo Brasil. Ambos ocupam atualmente assentos temporários no Conselho de Segurança da ONU, onde têm resistido à crescente pressão por sanções ao Irã.

Responsabilidade

É de interesse dessas potências emergentes mostrar que elas podem oferecer uma alternativa. Ambas estão se posicionando como "players" independentes, fazendo a ponte entre a desconfiança do Ocidente e o mundo muçulmano (no caso de Ancara) e o mundo em desenvolvimento em geral (no caso de Brasília). Para o Irã, é claramente mais fácil tanto confiar quanto sair ileso ao lidar com a Turquia -país de maioria muçulmana, que, apesar de ser um Estado secular, tem atualmente um governo claramente islâmico (ainda que moderado).

Enquanto ninguém se surpreenderia se os volúveis aiatolás iranianos novamente fizerem birra e recuarem de uma posição aparentemente mais cooperativa, a oferta deve ser levada em conta seriamente. Se o Irã estiver sendo sério, esta é a melhor chance para prevenir um conflito militar com Israel, que resultaria em desastre para o Oriente Médio e todo o mundo.
O que é certo é que os acontecimentos dão à Turquia e ao Brasil uma responsabilidade maior em garantir um resultado pacífico -e dão ao Irã uma razão para não fazer esses países parecerem tolos ingênuos. Isso é, inegavelmente, uma mudança positiva.

Este editorial foi publicado na edição de hoje do jornal britânico "Financial Times"

Nenhum comentário:

Arquivo