PT ampliará estratégia de combinar discurso de campanha com programas de Lula
Maria Lima e Gerson Camarotti
A estratégia petista de colar propaganda e eventos de governo ao discurso de campanha da pré-candidata à Presidência, Dilma Rousseff, será intensificada. Avaliação interna é de que essa associação foi essencial para que ela voltasse a subir nas pesquisas em maio, fazendo com tranquilidade a chamada "travessia no deserto", quando deixou o governo em abril e ficou mais distante do governo Lula.
A agenda governamental foi retomada de forma mais explícita em eventos recentes. Na sexta-feira, por exemplo, Dilma estava em Chapecó, no Oeste catarinense, como se ainda fosse do governo, como estrela do Encontro de Habitação de Agricultura Familiar, ao lado do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
Lá, os dois divulgaram o Programa Nacional de Habitação Rural, segurando uma maquete. Simultaneamente, o site de campanha de Dilma mostrava o evento. O Ministério das Cidades disse que o programa tem previsão de receber reforço de verbas no PAC-2, lançado por Dilma antes de sair do governo.
Em maio, após dar em seu site entrevistas sobre retomada da indústria naval, Dilma esteve ao lado de Lula no lançamento do navio petroleiro João Cândido, em Pernambuco. Desde então, Dilma vem falando sobre a ação do governo para recuperar a indústria naval. Especialistas ouvidos pelo GLOBO classificaram a estratégia como abuso de poder político, da máquina e dos meios de comunicação, por usar eventos custeados por verba pública para promoção eleitoral, beneficiando uma candidatura. Pelas análises, seria uma espécie de chantagem política, ao mesclar atos do governo e ações de campanha.
- O uso da máquina a serviço de um candidato caracteriza abuso de poder político e de autoridade - alertou o ex-presidente do TSE e ex-ministro do STF Carlos Velloso.
- Pela legislação, associação de governo e campanha é ilegalidade. A campanha da Dilma está fortemente promovida com a ligação ao governo Lula. Há intenção de mostrar que ela continua influenciando o governo - disse o professor de Ciência Política da UnB David Fleischer.
O mais contundente é o ministro do TSE Marco Aurélio Mello. Ao analisar o caso de Chapecó, advertiu para o risco de impugnação da candidatura petista, com base na lei complementar 64, que caracteriza abuso de poder político, da máquina e dos meios de comunicação. Rebate críticas de que seria golpe a impugnação:
- Não é golpe! (eventual impugnação). Quem planta colhe. A lei do mais forte não pode imperar. O colegiado no TSE é coeso. Se tivermos de aplicar a lei, vamos aplicar, seja para quem for.
"Tem de fazer associação das ações"
Mas o PT não pretende suspender a estratégia que fez Dilma voltar a crescer, mesmo com os riscos. A candidata bombardeia um tema em discursos, sites e agenda, e, em seguida, Lula anuncia um programa ligado ao assunto. Dilma falou do crack em entrevistas, e logo depois Lula lançou o programa de combate ao crack. O PT justifica:
- Com um governo bem avaliado, nossa tarefa é vincular o nome da Dilma ao governo do presidente Lula. Ela fez parte do governo. A campanha é simples. Não tem o que inventar. Dilma fala da recuperação da indústria naval porque Lula falava em 2002 - disse o presidente do PT, José Eduardo Dutra, negando vínculo eleitoral.
Também há o inverso: temas abordados por Lula no pronunciamento de 1º de Maio foram para o programa partidário do PT, em 13 de maio, e para entrevistas de Dilma ao site.
- É lógico que tem de fazer associação das ações. É positivo. A ideia é essa: afinar o discurso de governo com o da Dilma. Já a oposição está perdida: Serra fala uma coisa e os tucanos falam outra - rebateu o líder do governo e coordenador de campanha, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Oficialmente, Lula se engajará na campanha de Dilma somente a partir de julho, depois das convenções partidárias. Mesmo sem ainda aparecer nos palanques ou no horário eleitoral ao lado de sua indicada, Lula tem agido na condução dos passos de Dilma, dando ideias até mesmo no figurino da mãe do PAC. Não passa uma semana sem que o presidente e a candidata conversem. E com frequência ainda maior o comando da equipe de Dilma troca telefonemas ou se reúne com integrantes do governo.
A partir de 6 de julho, o presidente dedicará os fins de semana e pelo menos duas noites por semana à campanha de Dilma e dos aliados nos estados. Durante a semana, Lula poderá fazer campanha em locais próximos a Brasília, na região do Entorno do Distrito Federal, por exemplo, ou aproveitar as viagens oficiais para subir nos palanques aliados. Nas duas situações, sempre à noite, para evitar mais problemas com a Justiça Eleitoral.
COLABORARAM: Chico de Gois e Luiza Damé
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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