Troca do G8 pelo G20 é importante, mas simbólica; alavancas de poder ainda são controladas como em 1944
COMO MOSTRA A DIPLOMACIA BRASIL-TURQUIA, UM MUNDO MULTIPOLAR AJUDARÁ A REDUZIR O RISCO DE GUERRA
MARK WEISBROT
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os esforços do Brasil e da Turquia para encontrarem uma solução negociada do impasse em torno do programa nuclear do Irã precisam ser vistos dentro do contexto de um desafio crescente à ordem política internacional.
Desde o final da 2ª Guerra Mundial, essa ordem política vem sendo dominada pelos Estados Unidos, com a Europa como parceira subordinada. A substituição do G7 (ou G8) pelo G20 é uma mudança importante, mas simbólica.
As alavancas do poder -como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial- ainda são controladas mais ou menos como eram quando foram criadas em 1944: pelo Departamento do Tesouro dos EUA, com alguma participação de potências europeias.
Do mesmo modo, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que têm poder de veto sobre as decisões mais importantes das Nações Unidas, ainda são os aliados vitoriosos da 2ª Guerra, mais a China.
Após breve período de diálogo, a gestão Obama reverteu à política externa da administração Bush com relação ao Irã -e já o fez com relação à América Latina. Trata-se de uma política de ameaças e sanções aumentadas contra o Irã, o que intensifica o risco de confronto.
Contrastando com isso, Brasil e Turquia continuaram pelo caminho anterior e breve de diplomacia propugnado por Washington e fecharam um acordo semelhante ao que foi defendido/proposto pelos EUA em outubro.
Pelo acordo, o Irã enviaria 1.200 kg de urânio pouco enriquecido à Turquia. Após um ano, o Irã receberia 120 kg de urânio para seu reator de pesquisas médicas.
Segundo a Federação de Cientistas Americanos, as diferenças entre o acordo mediado por Brasil e Turquia e o proposto em outubro são pequenas. Apesar disso, a administração Obama está seguindo adiante com seu plano de aumentar as sanções contra o Irã.
Contrastando com isso, na sexta-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse esperar que o acordo "possa abrir a porta para uma solução negociada". Brasil e Turquia já conquistaram uma vitória importante pelo fato de terem assumido a liderança nesta questão. Mostraram ao mundo que é possível obter avanços por meio da negociação.
É claro que, como dizemos em Washington, nenhuma boa ação passa impune. A mídia ocidental, incluindo a maioria dos grandes veículos de mídia da América Latina, tende a fazer a cobertura das relações internacionais desde a perspectiva dos EUA.
Como Washington vem satanizando o Irã, a mídia ocidental apresenta uma visão exagerada e unilateral do país, mostrando-o como ameaça ao mundo. Aqueles que apoiam um mundo mais multipolar são acusados de serem "antiamericanos".
Mas, como mostra a diplomacia Brasil-Turquia, um mundo multipolar ajudará a reduzir o risco de guerra. É como passar de uma ditadura para uma democracia. E, na arena internacional, ela está abrindo a porta a um papel maior do Estado de direito, da diplomacia e a um maior progresso social.
MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (www.cepr.net) e também presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org).
Tradução de Clara Allain
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
terça-feira, 25 de maio de 2010
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