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terça-feira, 18 de maio de 2010

Globo 18/05/2010: A discussão na rádio CBN

Como aconteceu com o tucano José Serra, Dilma também discutiu com a jornalista Míriam Leitão, que participou da entrevista:

MÍRIAM: A grande dúvida em relação à senhora é que a senhora nunca demonstrou apoiar políticas que garantiriam a estabilidade da moeda.

Por exemplo, controle de gastos.

Quando os ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo propuseram reduzir e zerar o déficit público, a senhora considerou a ideia rudimentar. E eles estavam certos. Tanto estavam certos, que a dívida pública, de lá para cá, passou de R$ 1,2 trilhão para R$ 2,2 trilhões. Agora, a senhora tem defendido estabilidade da moeda.

Como a senhora mudou de ideia?

DILMA: Oh, Míriam, deixa eu te falar uma coisa: a nossa visão naquela época de ajuste de longo prazo, ela não estava completa. Não estava completa porque a questão do ajuste fiscal de longo prazo é algo que você constrói em relações complexas. Nós mantivemos sempre a trajetória e perseguimos... Aliás, eu queria te esclarecer: eu sou integrante da Junta Orçamentária, era. Todos os cortes de gastos aprovados por este governo foram aprovados com o meu acordo.

Todos os superávits primários, e as metas de superávit primário, foram aprovados com o meu acordo. Aliás, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mostra da nossa parte uma maturidade maior, porque não posso prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais alto e acaba mais baixo. É o inverso. Tenho que prever um plano de ajuste fiscal de longo prazo em que o PIB começa mais baixo e passa para um patamar mais alto. O próprio plano de ajuste fiscal é um fator de elevação do nível de crescimento...

MÍRIAM: Ministra, eu tenho que te interromper. Porque a minha pergunta não está sendo respondida.
Está indo por um outro caminho...

DILMA: Estou tentando viu, Míriam.

Estou fazendo o melhor dos meus esforços para te responder.
No caso do PAC, nós trabalhamos com metas de superávit primário, de queda do déficit nominal e de taxa de juros. Tanto é assim que só porque o valor do PAC, o primeiro valor, R$ 500 e poucos bilhões, era consistente com essa trajetória e você há de convir comigo que o único governo nos últimos (anos) que perseguiu quedas sistemáticas do endividamento foi o governo do presidente Lula...

MÍRIAM: Ministra, os números mostram o contrário. A dívida pública cresceu...

DILMA: É isso (falando alto). Houve queda sistemática do déficit fiscal.

É isso que é ajuste fiscal de longo prazo... Você está falando a bruta.

MÍRIAM: A bruta que é a mais importante.

DILMA: Então, vamos discutir porque a dívida bruta cresceu...

MÍRIAM: Deixa eu terminar minha pergunta. O governo Lula, a partir do momento que a senhora assume, e o ministro Palocci sai, começa a aumentar muito os gastos públicos. A senhora estava errada quando atropelou a proposta do ministro Palocci?

DILMA: Me desculpa, Míriam.

Você está falando uma coisa que não é correta.

MÍRIAM: Por que não é correta? DILMA: O momento (em) que nós fizemos o maior superávit primário, tão grande que nós podemos constituir o fundo soberano, foi em 2008. Você está errada no que se refere a números. Além disso, você falou em dívida bruta, sabe por que cresceu? A nossa dívida líquida, você concorda que é cadente? Nós fizemos um pequeno desvio diante da crise, muito necessário para a gente poder sair da crise sem grandes consequências.

Aliás, o Brasil tem um dos menores déficits nominais, é uma das menores dívidas/PIB, a relação dívida líquida sobre PIB.

MÍRIAM: A senhora estava errada quando atropelou o ministro Palocci, a minha pergunta inicial?

DILMA: Só um pouquinho, me desculpa, eu acho que você está errada no conceito. Não houve essa questão. Nós temos perseguido cada vez mais, aprimorado, a nossa política de ajuste de longo prazo. Tanto é assim que, no caso da dívida bruta, as razões pelas quais ela cresce são o fato de a gente ter construído US$ 250 bilhões em reservas. Você sabe tão bem quanto eu que, se eu quiser reduzir a dívida, as reservas têm liquidez imediata, o compulsório que nós liberamos US$ 100 bilhões. O Banco Central liberou US$ 100 bilhões para os bancos e, ao fazê-lo, isso foi diante de crise. E por fim liberamos US$ 180 bilhões para o BNDES, um pouco menos do que isso, a título de garantir empréstimo e investimento de longo prazo e impedir que as empresas brasileiras tivessem menos oferta de crédito. Então, não se pode discutir dívida bruta no Brasil sem dizer por que ela aconteceu. Senão, é como a gente lançar plumas ao vento. Eu digo que a dívida bruta subiu e não digo porque ela é, por exemplo, completamente diferente da dívida bruta da Grécia, que está quebrando. Nós não estamos quebrando, estamos cada dia mais robustos. Agora, que é importante entender, você está pegando uma discussão de 2005, que era como faremos. Sabe como fizemos? Colocamos o investimento na ordem do dia, mantivemos talvez nessa trajetória a maior queda nos últimos tempos da dívida líquida sobre PIB, e do déficit nominal. Fomos interrompidos pela crise? Fomos. Para sairmos de 3,6%, 3,3% do superávit primário e só fizemos 2,1%. Este ano, estamos repondo. A mesma coisa houve também no déficit nominal. Nós estávamos numa trajetória de queda do endividamento.

Acho que a grande conquista fiscal do Brasil foi desindexar a dívida externa brasileira das moedas externas. Foi altamente relevante.

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