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terça-feira, 25 de maio de 2010

Folha 25/05/2010 - - Janio de Freitas: O salto

O Brasil fez uma incursão menos arriscada no caso do acordo nuclear com o Irã do que aparentou


A REAÇÃO inicial, por aqui, à oficialização do êxito brasileiro no acordo nuclear com Irã, ocorrida ontem com o documento iraniano entregue à Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU, pareceu deliberadamente contida, mais de contrariedade que de regozijo. Nesse episódio, afinal, a impressão da "torcida contra", a que Lula se refere tanto, ficou bastante clara.
Em vão. O êxito está aí.

O Brasil fez, no alto nível do jogo político internacional, uma incursão menos arriscada, porque mais preparada, do que aparentou. A incerteza, pode-se dizer, ficou nos limites do risco calculado.

A carta de Obama a Lula, em defesa da proposta a que Brasil e Turquia procurariam convencer o Irã, é uma evidência de articulações preparatórias importantes e subterrâneas. E a liberação para a agência Reuters de trechos da carta, imediatamente antes da data final de entrega do documento iraniano, só pode explicar-se pela finalidade de mostrar que o governo Obama, se aceitar o acordo como é esperável, não estará recuando: já adotava tal posição, originária da Agência Internacional de Energia Atômica.

O acordo, argumentam os opositores da iniciativa de Lula, nada garante em relação à ameaça representada pelo Irã. É certo. Porque assim são todos os acordos internacionais. Quem se lembre um pouco da história europeia do século passado tem o mais brutal exemplo da insuficiência dos acordos diplomáticos. Nem por isso os governos deixam de fazer acordos, dado que nem todos são traídos e, ainda que alguns venham a sê-lo, foram vistos ao menos como benefícios temporários.
No caso do acordo com o Irã, se levado à prática representará, no mínimo, uma trégua na delicada tensão em um ponto não controlável da vastidão incandescente que vai de Israel à Índia. E, logo depois, às Coreias.

O Brasil deu um salto. Nada, nenhum desagrado de política interna, nenhuma discordância com o acordo feito em Teerã, mudará tal fato. O provável é que tarde o desenvolvimento do salto inicial. E, ainda, que se conheça e compreenda o que o constituiu. Mas aí está ele, e negá-lo não ajuda a compreensão de coisa alguma.

Se esse salto é oportuno e proporciona perspectivas convenientes, ou se melhor seria estarmos ainda por um tempo só em nosso subcontinente, tão precisado de cuidados, isso sim, daria boa e útil controvérsia.

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