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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Editorial Folha 28/05 - - As duas faces de Obama

Brasil e Turquia deram um passo à frente ao obter do Irã um acordo sobre enriquecimento de urânio, há quase duas semanas. Se faltavam evidências para amparar essa conclusão, elas aparecem nos termos da carta enviada pelo presidente Barack Obama a seu colega brasileiro pouco antes da visita de Lula ao país persa, como revelou ontem a Folha.

A proposta apresentada a Mahmoud Ahmadinejad, vê-se agora, tinha também por objetivo atender às condições impostas pelos EUA para retomar o "processo diplomático construtivo" com o Irã.
O presidente norte-americano expõe, no documento, um modelo de "caminho a seguir" e detalha suas expectativas. Nenhum dos pontos mais importantes elencados por Obama deixou de ser contemplado no acordo.

Na carta, o mandatário democrata apoia expressamente o envio de 1.200 kg de urânio levemente enriquecido à Turquia, como a Agência Internacional de Energia Atômica já propugnara, em outubro de 2009. Disse isso há um mês. Mas, alcançado o acordo, mudou o discurso!

O montante de urânio trocado, afirmam agora os americanos, não oferece as mesmas garantias de sete meses atrás. Com um maior estoque remanescente, o Irã poderia fabricar a bomba.
O Itamaraty, ao que parece, não esperava de Obama uma posição pública distinta daquela manifestada a Lula. O erro de cálculo dos diplomatas brasileiros talvez fosse menor caso tivessem se fiado menos em palavras e mais nas circunstâncias políticas.

Sempre ameaçado pela pecha de fraqueza, que a oposição tenta lhe aplicar, e às vésperas de eleições legislativas, era improvável que Obama recuasse do processo por ele já lançado de infligir novas sanções ao regime iraniano. Além disso, a pressão sobre o Irã é moeda de troca do governo dos EUA para obter concessões de Israel em busca de algum entendimento com os palestinos.

A diplomacia brasileira foi subestimada nas negociações com o Irã -e ela própria não previu a reação norte-americana. Mas o pior desse episódio é a atuação de Obama -um presidente que age cada vez mais com duas caras.

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