A "procuradora qualquer" a que Lula se referiu, Sandra Cureau é "colorada" em família gremista e adora trilhas e livros policiais
ELIANE CANTANHÊDE
VALDO CRUZ
FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
Nos corredores sisudos da Procuradoria-Geral da República, a entrada do gabinete da vice-procuradora-geral eleitoral Sandra Cureau, 63, chama a atenção pela faixa vermelha de mais de um metro do Internacional, time do Rio Grande do Sul.
"Foi meu primeiro ato de rebeldia", diz ela, gaúcha de Porto Alegre e de uma família de classe média que é gremista doente e costumava ir aos estádios todo domingo.
Por quê? "Porque eu detestava ir ao estádio quando criança. E porque o Grêmio era da elite e, na minha escola, todo mundo era Internacional, o time do povo."
Foi para Belo Horizonte, virou Atlético, "que também era mais popular". Chegou ao Rio, ficou com o Botafogo, que não é tanto assim. "Meu segundo marido era flamenguista, a filha caçula [Paula] decidiu ser Botafogo e ele ficou uma fera. Virei botafoguense para defender o direito dela de escolher o time."
Menina de colégio de freira, manteve os traços de rebeldia: integrou o diretório estudantil do Júlio de Castilho, colégio estadual de Porto Alegre, e tinha um programa na Rádio Princesa, "A Hora do Julinho".
Abandonou a militância "light" ao entrar na Faculdade de Direito da Universidade Federal do RS. Loura, olhos verdes, 1m58, acabou eleita rainha dos calouros.
Formou-se em 1970 e, seis anos depois, ingressou no Ministério Público. Atuou em Porto Alegre, Rio, Belo Horizonte e Brasília, até ser promovida a subprocuradora-geral da República, em 1997.
A primeira experiência de Cureau em eleições foi em 1986. Ela entrou com "toneladas de ações" contra o principal candidato à Câmara. Não deu em nada.
"Caí na real. Aprendi que não adiantam só provas robustas, há outras coisas envolvidas. Ele era campeão de voto e do partido do governador. E os juízes dependiam dos governadores até para serem promovidos."
Neste ano, está envolvida tanto na eleição quanto no doutorado em Buenos Aires.
Com isso, não tem tempo para se dedicar ao que mais gosta: viajar e fazer trilhas. Já foi para Machu Picchu, no Peru, e frequenta, em Goiás, a Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis e Cavalcante.
Seus hábitos são triviais. Mora com 3 dos 4 filhos, de dois casamentos, tem três cachorros, vai ao supermercado, gosta de cozinhar, tem uma pilha de DVDs e adora romances policiais. Tem perfis no Facebook e no Orkut.
De formação católica, reza toda noite e usa duas fitinhas no pulso: uma do Senhor do Bonfim (BA) e outra do Padre Donizetti (SP). Mas não é praticante e é a favor do aborto.
"Processo contra poderoso não dá em nada"
DE BRASÍLIA
Autora de ações que resultaram em multa contra o presidente Lula por campanha antecipada e chamada por ele de "uma procuradora qualquer", Sandra Cureau faz crítica à Justiça no Brasil. Segundo ela, "processo envolvendo pessoas poderosas não dá em nada".
Por afirmar que o elogio a Dilma Rousseff por Lula em evento público caracterizava uso da máquina, foi criticada pelo presidente e alvo de ameaça de ação pelo PT. Para ela, até aqui, não há nada que possa levar à impugnação de candidaturas presidenciais.
Folha - A sra. já foi filiada a algum partido?
Sandra Cureau - Nunca fui filiada a partidos. Meu coração já bateu por pessoas, não por partidos.
E está batendo por alguém?
Hoje, não. Lamento isso, mas não está.
Já votou no presidente Lula?
Votei no Lula em 89, no primeiro e no segundo turnos. Eu estava grávida, fui ao comício da Cinelândia, no Rio, e depois fiquei imprensada na multidão, no metrô. Votei nele de novo em 94 ou 98, não me lembro. Num ano votei no Lula e, no outro, no Fernando Henrique. Em 2002, votei no Lula de novo. Em 2006 não votei, estava trabalhando nas eleições como procuradora eleitoral.
A sra. não votou nele em 2006 por conta do mensalão?
Talvez seja. Talvez tenha sido impactada por essas confusões.
Em quem a sra. vai votar?
Tem hora que aparece alguém que desponta como uma esperança, tem hora que não aparece. Eu ainda não decidi.
Gostaria de votar numa mulher? Há duas disputando.
Gostaria que tivéssemos uma mulher presidente, mas não sei em quem votar.
O PT tem insinuado que a sra. está pendendo para o lado dos tucanos nessa eleição.
Eles não fazem contas? Estou representando contra todos. Estou analisando os dois casos. Estou esperando a gravação, não basta apenas notícia de jornal. Só então vou checar se pode ter havido uma campanha subliminar.
A sra. se arrependeu de ter votado em Lula?
Não. Eu o acho uma pessoa extremamente carismática, com uma capacidade enorme de interagir com o povo. É inegável.
Fez um bom governo?
Parece-me que sim. Tanto ele como o Fernando Henrique fizeram bons governos.
O presidente Lula chamou a sra. de "uma procuradora qualquer".
Ele não falou meu nome. Pode-se deduzir que sim, mas seria desonesto dizer que me deu uma cacetada.
Mas essa insinuação a respeito da sra. não incomoda?
O que me incomodou foi uma visão meio depreciativa do Ministério Público. Não sou nada, as pessoas podem achar de mim o que quiserem, mas a instituição...
Há dados para impugnar uma candidatura presidencial?
As multas aplicadas até aqui, sozinhas, não são capazes de impugnar. Não houve até aqui situações que possam caracterizar desequilíbrio das eleições. Teria de ter um ato que fizesse uma candidatura subir astronomicamente nas pesquisas. Isso não aconteceu. Quanto mais importante o cargo, mais cuidadoso você tem de ser, para não cair no golpismo.
Como assim?
Golpismo no sentido de alguém fazer uma artimanha para afastar o outro da eleição, pegar um ato apenas. Por isso tem de ser algo que desequilibre as eleições para levar a uma impugnação.
Quais os problemas da legislação eleitoral?
A multa é muito baixa. No Brasil, temos um exagero de recursos. Quem tem condição de pagar um excelente advogado pode se sustentar até cumprir o mandato ou, ao contrário, consegue prescrever ação penal e derrubar o adversário que ganhou. Processo envolvendo pessoas poderosas não dá em nada. Achava extremamente frustrante na área penal. Vamos ver na eleitoral. (EC, VC e FS)
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
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