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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Folha 07/07 - - São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Dilma em versões

SÃO PAULO - O programa de governo entregue anteontem de manhã por Dilma Rousseff à Justiça Eleitoral previa, entre tantas coisas, a taxação das grandes fortunas, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, o controle social dos meios de comunicação, a revogação da lei que torna propriedades invadidas por sem-terra indisponíveis para a reforma agrária.
No final da tarde, o PT voltou ao TSE para trocar o documento original por um resumo bem mais light do que sua candidata pretende fazer no poder. O que parecia "polêmico" sumiu. Em qual dos papéis deve-se acreditar? No matutino ou naquele registrado ao anoitecer? Provavelmente, em nenhum deles.
José Serra, por exemplo, nem se deu ao trabalho de disfarçar: mandou embrulhados ao TSE os dois discursos em que se lançou candidato. Como quem diz: o programa sou eu! E depois ironiza "Luís 14"...
Mas o que incomodou mesmo foi o jogo de esconde de Dilma. A substituição de um programa mais "à esquerda" por outro mais "concessivo" atenderia a conveniências da campanha. Afinal, para que "épater le bourgeois" à toa?
O episódio, no entanto, tem aspectos que vão além do teatro eleitoral. Talvez seja o caso de ver aí um ato falho da campanha petista: a troca de uma peça por outra traz à tona a figura da candidata enigmática, que ninguém sabe exatamente o que fará no poder, ou cuja capacidade de liderança não se conhece.
No caso, o risco -se faz sentido falar assim- reside menos no fantasma de um governo "radical", que venha açular a luta de classes, e, muito mais, na possibilidade real da "sarneyzação" de Dilma.
A sombra de Lula, as pressões do PT, a gula do PMDB, as demandas sociais, a máquina sindical, a turma do dinheiro, enfim... O condomínio do poder que se reorganiza em torno de Dilma é imenso e, à distância, pode lembrar o ambiente da Nova República, quando o presidente estava muito aquém do pacto político e social que deveria liderar.

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