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terça-feira, 20 de julho de 2010

Editorial Folha 20/07/2010 - - Indio no ataque

Vice do candidato José Serra eleva o tom em declarações inoportunas, que apenas contribuem para baixar o nível da campanha eleitoral

Retirada do bolso do colete em meio a uma série de trapalhadas que ameaçava a aliança eleitoral entre democratas e tucanos, a indicação do deputado Indio da Costa para vice da chapa de José Serra apanhou todos de surpresa. Ilustre desconhecido no plano nacional, o político fluminense logo se tornou alvo de desconfianças, críticas e indefectíveis anedotas.
A seu favor no entanto pesavam a juventude -tem 39 anos- e o fato de pertencer a um Estado relevante, no qual o nome do ex-governador paulista sempre encontrou dificuldades para se firmar. Além disso, era providencial que tivesse atuado como relator do projeto Ficha Limpa, em contraponto ao envolvimento de seu partido no escândalo do mensalão do governo do Distrito Federal.
Não tardou para que o neófito despertasse o sentimento paternal do experiente tucano. No dia seguinte ao acordo com o DEM, Serra tratou de desmentir a suposta fama de mulherengo do novo escudeiro. "Ele me disse por telefone: "Não tenho amantes". Eu até disse: "Também não precisa exagerar". O que tem que ser é uma coisa discreta", declarou em uma sabatina promovida pela Confederação Nacional da Indústria.
Depois da lição pública sobre como comportar-se em matéria de relações íntimas, o peessedebista prescreveu ao vice a leitura de alguns livros para que se familiarizasse com o pensamento do líder. Recomendou quatro volumes, três de sua autoria e um no qual pontifica como entrevistado.
Não se sabe se Indio da Costa debruçou-se sobre a lição de casa. Certo é que se sentiu incentivado -ou pelo menos desembaraçado- para responder de maneira estridente uma provocação da rival Dilma Rousseff. A postulante petista havia declarado que seu vice, o deputado Michel Temer, do PMDB, não caíra do céu (algo de fato incontestável, sob qualquer ângulo que se queira analisar).
Indio sentiu-se ofendido e disse que a adversária era uma "ateia" a posar como "esfinge do pau oco".
Na sexta passada, em entrevista a militantes tucanos, no site Mobiliza PSDB, o deputado carioca deu mais um passo: afirmou que o PT mantém ligação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o narcotráfico. Alertou ainda para a possibilidade de Dilma, uma vez eleita, "dar um chute" no presidente Lula e governar com "as garras do PT".
É fato que militantes petistas mantiveram relações com as Farc, assim como é razoável acreditar que, eleita presidente da República, Dilma se distancie de seu mais famoso cabo eleitoral e constitua seu próprio grupo no governo.
Tais considerações não bastam para ocultar a evidência de que as palavras do vice pretendem apenas fomentar temores e animosidades ideológicas em tom tosco e ultrapassado, que contribui para rebaixar o nível da campanha.
Após uma coreografia de tucanos e democratas para conter os ânimos, Serra preferiu ontem apoiar a declaração do pupilo em vez de tentar recolocar a disputa nos trilhos da civilidade.

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