Indústria prevê retomada das exportações
Vendas externas de manufaturados devem subir 21% e chegar a US$ 106,3 bi em 2010, segundo estimativa da Fiesp
Recuperação dos mercados consumidores deprimidos pela crise, em especial os EUA, é a principal explicação para crescimento
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras de produtos industrializados devem retomar, neste ano, a trajetória de nove anos de crescimento que a crise internacional de 2009 interrompeu, segundo as projeções da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Com uma elevação de aproximadamente 21%, as vendas de bens manufaturados para outros países alcançariam US$ 106,3 bilhões -o segundo melhor resultado da história, abaixo apenas do de 2008, quando o volume chegou a US$ 119,8 bilhões.
"Dessa maneira, recuperamos metade das perdas causadas pelas turbulências do ano passado, o que é muito bom", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade. "E o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro será afetado positivamente pela alta."
A previsão da Fiesp é apoiada em uma pesquisa com as maiores empresas exportadoras do país cuja base de operações fica no Estado de São Paulo. Como os contratos de vendas são fechados com antecedência de alguns meses, tais companhias já têm uma ideia bastante razoável de quanto efetivamente vão negociar ao longo de 2010.
O crescimento esperado explica-se, essencialmente, pela recuperação de mercados consumidores que se retraíram fortemente com a crise, como os EUA. Do início de 2009 para o de 2010, a participação dos americanos nas exportações do Brasil caiu de 16,5% do total para 13,8%. Essa fatia tende a se recompor. Ao mesmo tempo, outras regiões vão ganhando importância, como a Europa, que viu sua parcela subir de 21,8% para 23%, e a América Latina, que aumentou sua fração de 28% para 30,8%.
A retomada das exportações também tende a se dar de maneira espalhada entre os segmentos da indústria. As montadoras já comemoram uma elevação de 66,6% nas vendas de carros para outros países em fevereiro último ante o mesmo mês do ano passado -o destaque, entre os destinos, ficou com a Argentina. Nota-se, ainda, alta no comércio de máquinas, artigos de informática e produtos farmacêuticos. Os aviões, os produtos químicos e os calçados são os únicos que continuam deprimidos.
Estímulo
A manufatura brasileira reconhece que algumas medidas tomadas pelo governo durante a crise, como a concessão de empréstimos para as companhias, ajudou muito na passagem pelos tempos difíceis, mas pede outras providências para ajudar na reconquista do espaço perdido.
"Teve gente que comemorou o fato de os EUA terem diminuído a sua parte entre os compradores de mercadorias brasileiras, o que é um absurdo. Há anos, não foi apenas em 2009, estamos perdendo competitividade em mercados importantes, como o americano. Nessas regiões, quase sempre, o Brasil é ultrapassado pela China. Fica complicado, depois, ganhar de volta os consumidores", afirma Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Se não existem muitas esperanças de modificações na política cambial brasileira -o dólar desvalorizado ante o real é apontado como a principal desvantagem para os empresários do país-, os especialistas sugerem que a devolução dos empréstimos pagos pelas companhias na fabricação de itens que serão vendidos no exterior, como manda a lei, seja realizada com mais rapidez pelos governos federal e estaduais. "Falta boa vontade em todas as esferas, e aí se encontra um grande nó", comenta Francini.
De acordo com os cálculos de Almeida, a restituição correta e célere teria o mesmo efeito que uma apreciação de 8% da moeda americana ante a brasileira. "Não precisa inventar nada, é só fazer valer o que já está determinado. E pensar em diminuir a burocracia no país, que aumenta demais os custos de operação", afirma o professor.
Recuperação dos mercados consumidores deprimidos pela crise, em especial os EUA, é a principal explicação para crescimento
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras de produtos industrializados devem retomar, neste ano, a trajetória de nove anos de crescimento que a crise internacional de 2009 interrompeu, segundo as projeções da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Com uma elevação de aproximadamente 21%, as vendas de bens manufaturados para outros países alcançariam US$ 106,3 bilhões -o segundo melhor resultado da história, abaixo apenas do de 2008, quando o volume chegou a US$ 119,8 bilhões.
"Dessa maneira, recuperamos metade das perdas causadas pelas turbulências do ano passado, o que é muito bom", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade. "E o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro será afetado positivamente pela alta."
A previsão da Fiesp é apoiada em uma pesquisa com as maiores empresas exportadoras do país cuja base de operações fica no Estado de São Paulo. Como os contratos de vendas são fechados com antecedência de alguns meses, tais companhias já têm uma ideia bastante razoável de quanto efetivamente vão negociar ao longo de 2010.
O crescimento esperado explica-se, essencialmente, pela recuperação de mercados consumidores que se retraíram fortemente com a crise, como os EUA. Do início de 2009 para o de 2010, a participação dos americanos nas exportações do Brasil caiu de 16,5% do total para 13,8%. Essa fatia tende a se recompor. Ao mesmo tempo, outras regiões vão ganhando importância, como a Europa, que viu sua parcela subir de 21,8% para 23%, e a América Latina, que aumentou sua fração de 28% para 30,8%.
A retomada das exportações também tende a se dar de maneira espalhada entre os segmentos da indústria. As montadoras já comemoram uma elevação de 66,6% nas vendas de carros para outros países em fevereiro último ante o mesmo mês do ano passado -o destaque, entre os destinos, ficou com a Argentina. Nota-se, ainda, alta no comércio de máquinas, artigos de informática e produtos farmacêuticos. Os aviões, os produtos químicos e os calçados são os únicos que continuam deprimidos.
Estímulo
A manufatura brasileira reconhece que algumas medidas tomadas pelo governo durante a crise, como a concessão de empréstimos para as companhias, ajudou muito na passagem pelos tempos difíceis, mas pede outras providências para ajudar na reconquista do espaço perdido.
"Teve gente que comemorou o fato de os EUA terem diminuído a sua parte entre os compradores de mercadorias brasileiras, o que é um absurdo. Há anos, não foi apenas em 2009, estamos perdendo competitividade em mercados importantes, como o americano. Nessas regiões, quase sempre, o Brasil é ultrapassado pela China. Fica complicado, depois, ganhar de volta os consumidores", afirma Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Se não existem muitas esperanças de modificações na política cambial brasileira -o dólar desvalorizado ante o real é apontado como a principal desvantagem para os empresários do país-, os especialistas sugerem que a devolução dos empréstimos pagos pelas companhias na fabricação de itens que serão vendidos no exterior, como manda a lei, seja realizada com mais rapidez pelos governos federal e estaduais. "Falta boa vontade em todas as esferas, e aí se encontra um grande nó", comenta Francini.
De acordo com os cálculos de Almeida, a restituição correta e célere teria o mesmo efeito que uma apreciação de 8% da moeda americana ante a brasileira. "Não precisa inventar nada, é só fazer valer o que já está determinado. E pensar em diminuir a burocracia no país, que aumenta demais os custos de operação", afirma o professor.
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