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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Do you like caipirinha?

BARBARA GANCIA


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É claro que mal não faz para o Brasil Lula ser reconhecido pela revista "Time" como líder de personalidade
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SEMPRE que é publicada a edição da revista "Time" com a "Pessoa do Ano", título antes conhecido como "Homem do Ano", algum chato de galocha faz questão de lembrar de que Adolf Hitler, o aiatolá Khomeini e/ou George W. Bush já foram contemplados com a homenagem.
Note que o Führer foi Homem do Ano em 1938 por ter forçado a mão no Pacto de Munique, que permitiu à Alemanha anexar parte da Checoslováquia com a benção do maria-mole do primeiro ministro britânico Neville Chamberlain, e por ter mostrado os dentes para a Áustria e tê-la feito correr choramingando para baixo da cama.
E Hitler só não foi Homem do Ano da "Time" direto de 1939 a 1945, porque o pessoal não tinha lá muita concentração para ler e fazer revistas enquanto bombas alemãs caiam sobre suas cabeças.
Meu nobre leitor há de me desculpar se divago do assunto que me traz aqui hoje, mas se tem um indivíduo que me tira do sério é esse Bento 16, digo, Adolf Hitler. Perdão, troquei de alemães. Foi um lapso Kantiano. Pronto, fiz de novo. Note que nunca digo Daimler Motoren Gesellschaft no lugar de Auto Union Rennabteilung, não sei o que está acontecendo comigo hoje.
Será que tem algo a ver com a notícia de que Lula foi considerado pela "Time" como um dos 25 líderes mais influentes do mundo? Só pode ser isso. Afinal, quem de nós está acostumado a ver um presidente tapuia ter seu nome lembrado pela imprensa internacional? O sucesso de Lula mexeu comigo.
Tudo bem que a "Time" está numa decadência vertiginosa, de prestígio e circulação, e que a cada dia que passa se parece mais com sua publicação irmã, a "People". Mas ainda é uma revista presente no mundo inteiro e o Nicolas Sarkozy, a Angela Merkel e o troglodita do Gordon Brown não estão lá entre os citados, estão?
Mesmo assim, chega a comover gente grande como nos envaidece esse tipo de reconhecimento, não é mesmo? Bastou um estrangeiro dizer "Pelé", "Romário" ou "Ronaldo" na hora de dar uma pista de que sabe um mínimo sobre o Brasil, que a gente já sai comemorando, abraçando e fazendo sinal de positivo. Como se o fato de que o cara gosta de futebol significasse necessariamente que ele admira nosso país.
Ah, e como a gente precisa que gostem de nós! Norte-americano não está nem aí se o resto do mundo quer ver os EUA riscados do mapa; suíço, holandês, canadense, belga, sueco e finlandês tampouco estão se lixando se você aprovou ou não o país dele. Já o italiano faz questão de criticar a Itália junto com você. E só os mais humildezinhos, digamos, uma Honduras, uma Gana, uma Nigéria, um México, uma Venezuela ou... um Brasil têm aquele patriotismo rasgado, de chorar pela pátria quando toca o hino.
É claro que mal não faz para o país Lula ser reconhecido pela "Time" como líder de personalidade. De fato é positivo para ele e para nossa imagem institucional.
Mas essa necessidade de aceitação que faz o fato se tornar destaque em todos os portais e todas as rádios e todas as TVs do país como manchete principal, dá a medida do tamanho da insignificância que precisamos deixar para trás.
Mostra que ainda vai demorar para saírmos da fase: "O que achou da mulher brasileira?" e "Do you like caipirinha?".

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br

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