BARBARA GANCIA
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É claro que mal não faz para o Brasil Lula ser reconhecido pela revista "Time" como líder de personalidade
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SEMPRE que é publicada a edição da revista "Time" com a "Pessoa do Ano", título antes conhecido como "Homem do Ano", algum chato de galocha faz questão de lembrar de que Adolf Hitler, o aiatolá Khomeini e/ou George W. Bush já foram contemplados com a homenagem.
Note que o Führer foi Homem do Ano em 1938 por ter forçado a mão no Pacto de Munique, que permitiu à Alemanha anexar parte da Checoslováquia com a benção do maria-mole do primeiro ministro britânico Neville Chamberlain, e por ter mostrado os dentes para a Áustria e tê-la feito correr choramingando para baixo da cama.
E Hitler só não foi Homem do Ano da "Time" direto de 1939 a 1945, porque o pessoal não tinha lá muita concentração para ler e fazer revistas enquanto bombas alemãs caiam sobre suas cabeças.
Meu nobre leitor há de me desculpar se divago do assunto que me traz aqui hoje, mas se tem um indivíduo que me tira do sério é esse Bento 16, digo, Adolf Hitler. Perdão, troquei de alemães. Foi um lapso Kantiano. Pronto, fiz de novo. Note que nunca digo Daimler Motoren Gesellschaft no lugar de Auto Union Rennabteilung, não sei o que está acontecendo comigo hoje.
Será que tem algo a ver com a notícia de que Lula foi considerado pela "Time" como um dos 25 líderes mais influentes do mundo? Só pode ser isso. Afinal, quem de nós está acostumado a ver um presidente tapuia ter seu nome lembrado pela imprensa internacional? O sucesso de Lula mexeu comigo.
Tudo bem que a "Time" está numa decadência vertiginosa, de prestígio e circulação, e que a cada dia que passa se parece mais com sua publicação irmã, a "People". Mas ainda é uma revista presente no mundo inteiro e o Nicolas Sarkozy, a Angela Merkel e o troglodita do Gordon Brown não estão lá entre os citados, estão?
Mesmo assim, chega a comover gente grande como nos envaidece esse tipo de reconhecimento, não é mesmo? Bastou um estrangeiro dizer "Pelé", "Romário" ou "Ronaldo" na hora de dar uma pista de que sabe um mínimo sobre o Brasil, que a gente já sai comemorando, abraçando e fazendo sinal de positivo. Como se o fato de que o cara gosta de futebol significasse necessariamente que ele admira nosso país.
Ah, e como a gente precisa que gostem de nós! Norte-americano não está nem aí se o resto do mundo quer ver os EUA riscados do mapa; suíço, holandês, canadense, belga, sueco e finlandês tampouco estão se lixando se você aprovou ou não o país dele. Já o italiano faz questão de criticar a Itália junto com você. E só os mais humildezinhos, digamos, uma Honduras, uma Gana, uma Nigéria, um México, uma Venezuela ou... um Brasil têm aquele patriotismo rasgado, de chorar pela pátria quando toca o hino.
É claro que mal não faz para o país Lula ser reconhecido pela "Time" como líder de personalidade. De fato é positivo para ele e para nossa imagem institucional.
Mas essa necessidade de aceitação que faz o fato se tornar destaque em todos os portais e todas as rádios e todas as TVs do país como manchete principal, dá a medida do tamanho da insignificância que precisamos deixar para trás.
Mostra que ainda vai demorar para saírmos da fase: "O que achou da mulher brasileira?" e "Do you like caipirinha?".
barbara@uol.com.br
www.barbaragancia.com.br
Esse é um blog de Clipping de Miguel do Rosário, cujo blog oficial é o Óleo do Diabo.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Lula, the guy
Lula, the guy
SÃO PAULO - Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela "Time"? Havia ontem uma intensa discussão a respeito do lugar que foi destinado ao presidente brasileiro. Seria mesmo "o primeirão"? Ou era apenas um dos "25 eleitos" pela publicação americana na categoria "líderes"? Conforme a própria revista depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta.
Mas, afinal, que diferença faz? A discussão serviu apenas para pôr em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que fabrica. Todo ranking, no fundo, é só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo.
A lista é tola, mas não significa que seja "arbitrária". Já houve coisas muito piores. Na década de 70, a própria "Time" fez uma relação de quem seriam os 150 líderes mundiais no fim do milênio. Brasileiros? Havia dois. Um era o então deputado Célio Borja. O outro, o ministro da Agricultura de Ernesto Geisel, Alysson Paulinelli. Sim, acredite.
O caso de Lula é evidentemente distinto. Um líder operário que chega à Presidência de um país como o Brasil e no final do mandato reúne mais de 70% de aprovação popular.
No perfil que escreveu do petista, o documentarista Michael Moore diz platitudes, mas é certeiro ao afirmar: "O que Lula quer para o Brasil é o que nós costumávamos chamar de sonho americano".
Um mundo de consumidores banais e felizes. Uma sociedade remediada na sua selvageria pela força integradora do dinheiro. Do socialismo, nem o cadáver. Esse é o horizonte em que se movem Lula e sua utopia mundana. Moore viu o que muito petista ainda não entendeu.
Pelos prêmios já acumulados e pelo conjunto da obra, a "Time" deveria ter incluído Lula na lista dos "artistas". E Dunga talvez esteja pensando se não há um lugarzinho para "o cara" na sua seleção.
SÃO PAULO - Lula, escolhido o líder mais influente do planeta pela "Time"? Havia ontem uma intensa discussão a respeito do lugar que foi destinado ao presidente brasileiro. Seria mesmo "o primeirão"? Ou era apenas um dos "25 eleitos" pela publicação americana na categoria "líderes"? Conforme a própria revista depois esclareceu, essa última interpretação é a mais correta.
Mas, afinal, que diferença faz? A discussão serviu apenas para pôr em relevo o aspecto frívolo e bizantino da própria lista. Ela diz menos sobre as personalidades que supostamente ilumina do que sobre as taras e misérias de um mundo que precisa a todo instante se reconhecer no espelho das celebridades que fabrica. Todo ranking, no fundo, é só uma forma de alimentar o bovarismo da sociedade do espetáculo.
A lista é tola, mas não significa que seja "arbitrária". Já houve coisas muito piores. Na década de 70, a própria "Time" fez uma relação de quem seriam os 150 líderes mundiais no fim do milênio. Brasileiros? Havia dois. Um era o então deputado Célio Borja. O outro, o ministro da Agricultura de Ernesto Geisel, Alysson Paulinelli. Sim, acredite.
O caso de Lula é evidentemente distinto. Um líder operário que chega à Presidência de um país como o Brasil e no final do mandato reúne mais de 70% de aprovação popular.
No perfil que escreveu do petista, o documentarista Michael Moore diz platitudes, mas é certeiro ao afirmar: "O que Lula quer para o Brasil é o que nós costumávamos chamar de sonho americano".
Um mundo de consumidores banais e felizes. Uma sociedade remediada na sua selvageria pela força integradora do dinheiro. Do socialismo, nem o cadáver. Esse é o horizonte em que se movem Lula e sua utopia mundana. Moore viu o que muito petista ainda não entendeu.
Pelos prêmios já acumulados e pelo conjunto da obra, a "Time" deveria ter incluído Lula na lista dos "artistas". E Dunga talvez esteja pensando se não há um lugarzinho para "o cara" na sua seleção.
Globo: 'Time' premia Lula com 'roteiro' de Michael Moore
Presidente é incluído na lista dos 25 líderes mais influentes do mundo; cineasta passa ao largo de escândalos
RIO, NOVA YORK e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi incluído pela revista "Time" na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo em 2010. A seleção da "Time" é dividida em quatro categorias: líderes, heróis, artistas e pensadores. Lula está entre os 25 líderes mais influentes, assim como o presidente americano, Barack Obama; o primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama; e o locutor da Fox News e comentarista político conservador Glenn Back.
O ex-presidente Bill Clinton está na lista dos heróis; Lady Gaga, na de artistas; e, entre os pensadores, há um brasileiro, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-governador do Paraná.
No Brasil, sites divulgaram inicialmente que Lula tinha sido eleito o mais influente do mundo, mas a revista esclareceu em seguida que ele está entre os 25 líderes - não há um primeiro entre os 25.
Cineasta ainda cita Fome Zero
Não é a primeira vez que Lula é homenageado pela imprensa internacional. A própria "Time" já havia incluído seu nome em 2004. Este ano, a apresentação de Lula foi escrita pelo cineasta americano Michael Moore, que destaca o Fome Zero, hoje substituído na prática pelo Bolsa Família.
Michael Moore, plantonista da crítica ao capitalismo americano, afirmou: "Aqui há uma lição para os bilionários do mundo: Deixem as pessoas terem boa assistência à saúde, e elas não lhes causarão muitos problemas". Mas Moore, diretor de "Sicho - $O$Saúde", uma contundente crítica ao sistema de saúde dos EUA, não explica as razões que o levaram a sustentar a tese sobre Lula e o Brasil.
No texto de apresentação, Moore parece estar escrevendo o esboço de um mais um documentário polêmico, mas, do Brasil real, no qual apenas uma pequena parte da população é atendida pelos planos privados de saúde, enquanto os demais sofrem no falido sistema público de saúde, Moore nada fala. Nenhuma referência às filas madrugais nos ambulatórios e nem à escalada dos preços dos medicamentos.
Para chegar onde quer, o cineasta exalta a origem humilde de Lula, o fato de sua primeira mulher ter morrido num hospital público, e passa por cima dos escândalos políticos, como o mensalão do PT, por exemplo. Elogia Lula pelos "planos para melhorar a educação oferecida aos membros da classe trabalhadora do Brasil". Mas não diz que, segundo o próprio Ministério da Educação, ainda há 4,1 milhões de brasileiros, entre 4 e 17 anos de idade, fora da escola. Isso sem falar nos professores, que são mal remunerados, e no vagaroso processo de inclusão digital dos alunos.
RIO, NOVA YORK e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi incluído pela revista "Time" na lista das 100 personalidades mais influentes do mundo em 2010. A seleção da "Time" é dividida em quatro categorias: líderes, heróis, artistas e pensadores. Lula está entre os 25 líderes mais influentes, assim como o presidente americano, Barack Obama; o primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama; e o locutor da Fox News e comentarista político conservador Glenn Back.
O ex-presidente Bill Clinton está na lista dos heróis; Lady Gaga, na de artistas; e, entre os pensadores, há um brasileiro, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ex-governador do Paraná.
No Brasil, sites divulgaram inicialmente que Lula tinha sido eleito o mais influente do mundo, mas a revista esclareceu em seguida que ele está entre os 25 líderes - não há um primeiro entre os 25.
Cineasta ainda cita Fome Zero
Não é a primeira vez que Lula é homenageado pela imprensa internacional. A própria "Time" já havia incluído seu nome em 2004. Este ano, a apresentação de Lula foi escrita pelo cineasta americano Michael Moore, que destaca o Fome Zero, hoje substituído na prática pelo Bolsa Família.
Michael Moore, plantonista da crítica ao capitalismo americano, afirmou: "Aqui há uma lição para os bilionários do mundo: Deixem as pessoas terem boa assistência à saúde, e elas não lhes causarão muitos problemas". Mas Moore, diretor de "Sicho - $O$Saúde", uma contundente crítica ao sistema de saúde dos EUA, não explica as razões que o levaram a sustentar a tese sobre Lula e o Brasil.
No texto de apresentação, Moore parece estar escrevendo o esboço de um mais um documentário polêmico, mas, do Brasil real, no qual apenas uma pequena parte da população é atendida pelos planos privados de saúde, enquanto os demais sofrem no falido sistema público de saúde, Moore nada fala. Nenhuma referência às filas madrugais nos ambulatórios e nem à escalada dos preços dos medicamentos.
Para chegar onde quer, o cineasta exalta a origem humilde de Lula, o fato de sua primeira mulher ter morrido num hospital público, e passa por cima dos escândalos políticos, como o mensalão do PT, por exemplo. Elogia Lula pelos "planos para melhorar a educação oferecida aos membros da classe trabalhadora do Brasil". Mas não diz que, segundo o próprio Ministério da Educação, ainda há 4,1 milhões de brasileiros, entre 4 e 17 anos de idade, fora da escola. Isso sem falar nos professores, que são mal remunerados, e no vagaroso processo de inclusão digital dos alunos.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Coluna Noblat - 12/04/2010
Ricardo Noblat
- Quanto mais mentiras eles disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles- José Serra, pré-candidato a presidente
O destino de Serra
Ninguém duvida que o Brasil possa mais, como disse José Serra ao se lançar candidato do PSDB a presidente da República. A dúvida é se Serra desta vez poderá mais. Dos que aspiram suceder a Lula, ele é de longe o mais preparado para governar o País. Mas isso não importa muito. Serra detinha tal condição em 2002. E, no entanto, foi derrotado.
Esta será uma caminhada longa e difícil, antecipou Serra diante de seis mil entusiasmados correligionários reunidos no último sábado em um centro de convenções de Brasília. A frase nada tem de original. Está em muitos discursos que marcaram o início de campanhas. Talvez com uma diferença: Serra valeu-se dela porque está perfeitamente consciente das dificuldades que enfrentará para se eleger.
Examinemos a maior das dificuldades: o significado da candidatura dele. Os manuais de ciência política ensinam que os eleitores, aqui e em toda parte, costumam votar de preferência no candidato que represente a continuidade ou a mudança. Em algumas circunstâncias há espaço para uma terceira via. Mas esse não será o caso em outubro próximo. Não foi o caso em nenhuma eleição presidencial de 1989 para cá.
Dilma Rousseff é a candidata da continuidade. Serra e Marina Silva, do PV, da mudança. Em 1989, o eleitor pôde escolher entre 23 candidatos que prometiam varrer do mapa a desastrosa administração do então presidente José Sarney. Aquela foi uma eleição sem candidato de continuidade. O PMDB estava no governo. Mas até seu candidato, o deputado Ulysses Guimarães, fazia oposição a Sarney.
O candidato da situação é ungido por quem pode fazê-lo os que governam no momento. Sarney não teve candidato em 1989. Lula tem. E se deu ao luxo de escolhê-lo sem ouvir os que governam junto com ele. Do alto dos seus quase 80% de popularidade, obrigou-os a engolir Dilma. Nem mesmo o PT iria com ela se pudesse dizer não a Lula. Ou se tivesse coragem para dizer não a Lula.
Em 2002, Serra sabia que estava diante de uma caminhada longa e difícil. O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso chegou às portas das eleições com algo como 30% de aprovação. Menos de 10% dos brasileiros se diziam dispostos a votar em candidatos que mantivessem tudo como estava. Cerca de 40% diziam preferir candidatos capazes de mudar tudo.
Mesmo assim, Serra batalhou para ser candidato de um governo impopular do qual fora ministro do Planejamento e da Saúde. Por quê? Sempre fora contra a política econômica do governo. Estava convencido de que somente ele poderia mudá-la. Não via competência para isso em Ciro Gomes. Via no PT. Mas achava que Lula, uma vez eleito, não teria apoio político para mudar. Como não teve. E nem ousou buscar.
O medo do PT e de Lula abriria caminho para a passagem de Serra. Ocorre que o medo se evaporou. Não foi a esperança que o venceu. Foi a Carta aos Brasileiros, onde Lula se comprometia a conservar os fundamentos da política econômica. Banqueiros e empresários aflitos sossegaram. E foi também a feliz campanha do publicitário Duda Mendonça, o inventor de Lulinha paz e amor.
Pesquisas de intenção de voto confirmam que uma larga maioria de brasileiros quer a continuidade do governo de Lula. Como Serra imagina vencer? Apresentando-se como o dono de melhor currículo para continuar o que Lula fez e fazer mais? Confronto de currículos só empolga o eleitor quando ele quer mudar. A peleja entre a continuidade e a mudança desobriga as pessoas de pensarem muito a respeito.
Serra sabe disso. Então por que é candidato? Ora, porque às vezes você não tem escolha. Há mais de um ano e meio que ele lidera as pesquisas de intenção de voto. Governou o maior Estado do País. Era o nome natural do PSDB e de outros partidos para suceder a Lula. De resto, Presidência da República é destino, segundo Antonio Carlos Magalhães. E Serra acredita que o impossível é só aquilo que ainda não foi feito.
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eleições2010
Entrevista Dilma à Folha, Segunda-Feira 12 de abril de 2010
Não se pode reduzir juros "feito maluco", diz Dilma
Pré-candidata diz que manter política econômica é "mais do que compromisso"
Petista ironiza promessa de Serra de que vai "fazer mais", diz que adversário não pode se dissociar de FHC e que ela "carregou piano" no governo
MARIA CRISTINA FRIAS
COLUNISTA DA FOLHA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff diz que manter a política econômica do governo Lula "é mais do que compromisso" e que não pretende mudar a política monetária atual. "Você não pode sair por aí reduzindo os juros feito maluco", diz.
Ex-chefe da Casa Civil, responsável pelo PAC, Dilma rebate o discurso dos tucanos de que o ex-governador José Serra (PSDB) mostrará que é capaz de fazer melhor do que ela. "O que ele [Serra] foi? Ele não pode dizer que a biografia dele não passa pelo governo FHC. A minha biografia é o governo Lula. Eu carreguei o piano nesses cinco anos [na Casa Civil], eles não podem me tirar isso."
Dilma sugere que as empreiteiras desistiram do leilão de Belo Monte porque "o pessoal está estofadinho de obras", o que aumentaria o poder de escolha do empresariado.
Sobre a possibilidade de surgir um novo consórcio para disputar o leilão, ela se esquiva: "Eu já não estou acompanhando isso mais, sabe". Mas deixa claro que não é intenção do governo ceder e mudar regras.
A ex-ministra afirma que dará prioridade ao aumento das exportações, principalmente de manufaturados, e que vai procurar desonerar o setor.
Por fim, ela defende a política de criação de grandes grupos empresariais, sob estímulo do BNDES. Dilma conversou com a Folha por mais de duas horas, na quinta-feira, na casa do marqueteiro João Santana, que servirá de escritório para a pré-candidata, em Brasília.
POLÍTICA ECONÔMICA
De olho nas dúvidas que o mercado levanta sobre sua posição a respeito da política econômica, Dilma diz que manter o tripé metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal "é mais do que compromisso" e que não há motivos para mudar o que deu certo. "Por que eu iria abandonar? O que eu ganharia com isso? Vou manter as bases da nossa estabilidade."
A ex-chefe da Casa Civil, que no primeiro mandato de Lula chegou a ter divergências com a equipe do ex-ministro Antonio Palocci sobre o tamanho do superavit primário, afirma que irá manter a meta de 3,3% do PIB de economia de gastos para pagar juros da dívida durante um eventual governo seu. "Queremos inclusive ter superavit nominal, de 0,4% do PIB até 2014", afirma, acrescentando que tem a "ambição" de reduzir a dívida pública dos atuais 42,9% do PIB para 28,7%.
JUROS ALTOS
A petista diz que a manutenção do superavit primário permitirá a continuidade da redução das taxas de juros pelo BC, mas que não esperem dela tentativas de "dar um golpe de forma artificial nos juros", porque "você não pode sair por aí reduzindo os juros feito maluco" -uma alfinetada em tucanos que defendem queda brusca na taxa de juros. "Isso não é sustentável", diz ela, que antes não poupava críticas ao presidente do BC, Henrique Meirelles.
AUTONOMIA DO BC
Vista com reservas por boa parte do sistema financeiro por conta de suas críticas ao conservadorismo do Banco Central, Dilma diz que não vai alterar o modelo de autonomia informal adotado no governo Lula, mas não irá além disso. "Acho que a lei que existe hoje é muito boa. Não pretendo passar nenhuma lei [sobre autonomia do BC], não vejo por que. A que existe hoje é perfeita."
Dilma diz que não pretende tirar o status de ministro que o presidente do BC ganhou durante o governo Lula -na época, para Meirelles ter foro privilegiado e evitar problemas com o Ministério Público. "Por que vamos tirar isso?", questiona.
Indagada se o BC não perdeu em 2008 uma janela para reduzir ainda mais os juros, afirma "que é muito difícil raciocinar assim". "Hoje eu posso até achar isso, mas depois que a coisa aconteceu".
PÓS-MEIRELLES
Indagada sobre quem escolheria para substituir Meirelles, a ex-ministra evita o tema. "Isso, de ficar sentando na cadeira antes, ficar escolhendo nomes antes, não dá sorte", diz.
CÂMBIO
Lembrando que algumas medidas para o setor serão divulgadas ainda no governo Lula, a petista diz que o objetivo é reduzir o custo da produção de manufaturados. "Mesmo sabendo que o que puxa a economia brasileira é o mercado interno, nós vamos ter de dar uma força imensa na ampliação das exportações, dar prioridade para os manufaturados."
O QUE FALTOU FAZER
Fora do governo por conta da lei eleitoral, a ex-ministra diz que a "gente sempre acha que há tanta coisa que deixou de fazer". Cita especificamente o Programa Nacional de Banda Larga, prometido para ser lançado em 2009. "Essa questão da banda larga demorou muito, porque teve esse problema da Justiça." "A nossa briga não é com os acionistas", diz, em referência ao empresário Nelson dos Santos, que comprou a Eletronet por R$ 1 e assumiu dívida de R$ 800 milhões.
ESTÍMULO A FUSÕES
A ministra defende a política do governo Lula de incentivar e estimular com verbas do BNDES a fusão e criação de grandes empresas nacionais, como no caso da compra da Brasil Telecom pela Oi. "Não inventamos ninguém, fundiram-se aqueles que tinham envergadura para isso", afirma.
Em seguida, questiona e responde ao mesmo tempo: "Se você me pergunta se foi bom, eu digo que, na área de petroquímica, ou ganhamos escala ou não competimos internacionalmente". Ela defende o raciocínio para outros setores. "Em celulose, tem de ter escala. No de carnes, é bom que tenha escala. Na telefonia, também."
PRIVATIZAÇÕES
A petista procura diferenciar as privatizações do governo FHC e o estímulo a fusão de empresas do período Lula. Para ela, a venda de estatais ocorreu no passado por falta de recursos. "Fizemos aquilo porque não tínhamos dinheiro. Se tivéssemos, nós é que teríamos comprado." Em seguida, porém, defende a presença das multinacionais no setor de telefonia. "É importante que eles estejam aqui [os espanhóis da Telefonica e o mexicano Carlos Slim da Embratel]. É bom porque força nossas empresas privadas a ter mais musculatura", para logo depois defender a criação de uma grande empresa telecomunicação nacional, como a originada da fusão da Oi com a Brasil Telecom.
SERRA FAZ MELHOR?
Instada a comentar a tônica do discurso tucano, de que Serra teria capacidade para fazer melhor do que ela, Dilma responde em tom de desafio: "Vou dizer o seguinte. Convence. Convence [disso] os empresários, os prefeitos. Sabe qual a diferença? Nós fizemos, eles [empresários] sabem que nós fizemos, e sabem das dificuldades que enfrentamos."
BELO MONTE
Ao comentar a decisão das empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa de desistir do leilão da hidrelétrica de Belo Monte, a ex-ministra sugere que eles só fizeram isso porque há muitas obras hoje no país. "Sabe o que é? Tem muita obra no Brasil. O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". Segundo ela, os próximos governos terão de enfrentar esse desafio, viabilizar um volume grande de obras. "Nós vamos ter de resolver, porque tem muita obra daqui para a frente." Ainda sobre Belo Monte, ela diz não saber se será formado um novo consórcio para disputar o leilão. "Eu já não estou acompanhando isso mais, sabe", acrescentando, porém, que não é intenção do governo ceder e mudar o edital com as regras do leilão.
REFORMA TRIBUTÁRIA
Questionada se a reforma tributária será um dos temas de sua campanha, ela diz que sim, mas acrescenta que os "empresários sabem da dificuldade de se fazer reforma tributária no Brasil por conta da questão federativa". Quanto à desoneração da folha de pagamentos, ela, a princípio, diz que não preferia comentá-la. Diante da insistência, afirma que "é fundamental, temos de caminhar para isso, temos de buscar a desoneração, é uma distorção que temos. Agora não é coisa simples de fazer. É o bom senso".
Pré-candidata diz que manter política econômica é "mais do que compromisso"
Petista ironiza promessa de Serra de que vai "fazer mais", diz que adversário não pode se dissociar de FHC e que ela "carregou piano" no governo
MARIA CRISTINA FRIAS
COLUNISTA DA FOLHA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pré-candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff diz que manter a política econômica do governo Lula "é mais do que compromisso" e que não pretende mudar a política monetária atual. "Você não pode sair por aí reduzindo os juros feito maluco", diz.
Ex-chefe da Casa Civil, responsável pelo PAC, Dilma rebate o discurso dos tucanos de que o ex-governador José Serra (PSDB) mostrará que é capaz de fazer melhor do que ela. "O que ele [Serra] foi? Ele não pode dizer que a biografia dele não passa pelo governo FHC. A minha biografia é o governo Lula. Eu carreguei o piano nesses cinco anos [na Casa Civil], eles não podem me tirar isso."
Dilma sugere que as empreiteiras desistiram do leilão de Belo Monte porque "o pessoal está estofadinho de obras", o que aumentaria o poder de escolha do empresariado.
Sobre a possibilidade de surgir um novo consórcio para disputar o leilão, ela se esquiva: "Eu já não estou acompanhando isso mais, sabe". Mas deixa claro que não é intenção do governo ceder e mudar regras.
A ex-ministra afirma que dará prioridade ao aumento das exportações, principalmente de manufaturados, e que vai procurar desonerar o setor.
Por fim, ela defende a política de criação de grandes grupos empresariais, sob estímulo do BNDES. Dilma conversou com a Folha por mais de duas horas, na quinta-feira, na casa do marqueteiro João Santana, que servirá de escritório para a pré-candidata, em Brasília.
POLÍTICA ECONÔMICA
De olho nas dúvidas que o mercado levanta sobre sua posição a respeito da política econômica, Dilma diz que manter o tripé metas de inflação, câmbio flutuante e rigor fiscal "é mais do que compromisso" e que não há motivos para mudar o que deu certo. "Por que eu iria abandonar? O que eu ganharia com isso? Vou manter as bases da nossa estabilidade."
A ex-chefe da Casa Civil, que no primeiro mandato de Lula chegou a ter divergências com a equipe do ex-ministro Antonio Palocci sobre o tamanho do superavit primário, afirma que irá manter a meta de 3,3% do PIB de economia de gastos para pagar juros da dívida durante um eventual governo seu. "Queremos inclusive ter superavit nominal, de 0,4% do PIB até 2014", afirma, acrescentando que tem a "ambição" de reduzir a dívida pública dos atuais 42,9% do PIB para 28,7%.
JUROS ALTOS
A petista diz que a manutenção do superavit primário permitirá a continuidade da redução das taxas de juros pelo BC, mas que não esperem dela tentativas de "dar um golpe de forma artificial nos juros", porque "você não pode sair por aí reduzindo os juros feito maluco" -uma alfinetada em tucanos que defendem queda brusca na taxa de juros. "Isso não é sustentável", diz ela, que antes não poupava críticas ao presidente do BC, Henrique Meirelles.
AUTONOMIA DO BC
Vista com reservas por boa parte do sistema financeiro por conta de suas críticas ao conservadorismo do Banco Central, Dilma diz que não vai alterar o modelo de autonomia informal adotado no governo Lula, mas não irá além disso. "Acho que a lei que existe hoje é muito boa. Não pretendo passar nenhuma lei [sobre autonomia do BC], não vejo por que. A que existe hoje é perfeita."
Dilma diz que não pretende tirar o status de ministro que o presidente do BC ganhou durante o governo Lula -na época, para Meirelles ter foro privilegiado e evitar problemas com o Ministério Público. "Por que vamos tirar isso?", questiona.
Indagada se o BC não perdeu em 2008 uma janela para reduzir ainda mais os juros, afirma "que é muito difícil raciocinar assim". "Hoje eu posso até achar isso, mas depois que a coisa aconteceu".
PÓS-MEIRELLES
Indagada sobre quem escolheria para substituir Meirelles, a ex-ministra evita o tema. "Isso, de ficar sentando na cadeira antes, ficar escolhendo nomes antes, não dá sorte", diz.
CÂMBIO
Lembrando que algumas medidas para o setor serão divulgadas ainda no governo Lula, a petista diz que o objetivo é reduzir o custo da produção de manufaturados. "Mesmo sabendo que o que puxa a economia brasileira é o mercado interno, nós vamos ter de dar uma força imensa na ampliação das exportações, dar prioridade para os manufaturados."
O QUE FALTOU FAZER
Fora do governo por conta da lei eleitoral, a ex-ministra diz que a "gente sempre acha que há tanta coisa que deixou de fazer". Cita especificamente o Programa Nacional de Banda Larga, prometido para ser lançado em 2009. "Essa questão da banda larga demorou muito, porque teve esse problema da Justiça." "A nossa briga não é com os acionistas", diz, em referência ao empresário Nelson dos Santos, que comprou a Eletronet por R$ 1 e assumiu dívida de R$ 800 milhões.
ESTÍMULO A FUSÕES
A ministra defende a política do governo Lula de incentivar e estimular com verbas do BNDES a fusão e criação de grandes empresas nacionais, como no caso da compra da Brasil Telecom pela Oi. "Não inventamos ninguém, fundiram-se aqueles que tinham envergadura para isso", afirma.
Em seguida, questiona e responde ao mesmo tempo: "Se você me pergunta se foi bom, eu digo que, na área de petroquímica, ou ganhamos escala ou não competimos internacionalmente". Ela defende o raciocínio para outros setores. "Em celulose, tem de ter escala. No de carnes, é bom que tenha escala. Na telefonia, também."
PRIVATIZAÇÕES
A petista procura diferenciar as privatizações do governo FHC e o estímulo a fusão de empresas do período Lula. Para ela, a venda de estatais ocorreu no passado por falta de recursos. "Fizemos aquilo porque não tínhamos dinheiro. Se tivéssemos, nós é que teríamos comprado." Em seguida, porém, defende a presença das multinacionais no setor de telefonia. "É importante que eles estejam aqui [os espanhóis da Telefonica e o mexicano Carlos Slim da Embratel]. É bom porque força nossas empresas privadas a ter mais musculatura", para logo depois defender a criação de uma grande empresa telecomunicação nacional, como a originada da fusão da Oi com a Brasil Telecom.
SERRA FAZ MELHOR?
Instada a comentar a tônica do discurso tucano, de que Serra teria capacidade para fazer melhor do que ela, Dilma responde em tom de desafio: "Vou dizer o seguinte. Convence. Convence [disso] os empresários, os prefeitos. Sabe qual a diferença? Nós fizemos, eles [empresários] sabem que nós fizemos, e sabem das dificuldades que enfrentamos."
BELO MONTE
Ao comentar a decisão das empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa de desistir do leilão da hidrelétrica de Belo Monte, a ex-ministra sugere que eles só fizeram isso porque há muitas obras hoje no país. "Sabe o que é? Tem muita obra no Brasil. O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". Segundo ela, os próximos governos terão de enfrentar esse desafio, viabilizar um volume grande de obras. "Nós vamos ter de resolver, porque tem muita obra daqui para a frente." Ainda sobre Belo Monte, ela diz não saber se será formado um novo consórcio para disputar o leilão. "Eu já não estou acompanhando isso mais, sabe", acrescentando, porém, que não é intenção do governo ceder e mudar o edital com as regras do leilão.
REFORMA TRIBUTÁRIA
Questionada se a reforma tributária será um dos temas de sua campanha, ela diz que sim, mas acrescenta que os "empresários sabem da dificuldade de se fazer reforma tributária no Brasil por conta da questão federativa". Quanto à desoneração da folha de pagamentos, ela, a princípio, diz que não preferia comentá-la. Diante da insistência, afirma que "é fundamental, temos de caminhar para isso, temos de buscar a desoneração, é uma distorção que temos. Agora não é coisa simples de fazer. É o bom senso".
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Entrevista - Marcelo Branco - Correio Braziliense
"Vamos responder tudo"
Aliado dos americanos responsáveis pela campanha de Obama, brasileiro que integra equipe de Dilma fala sobre política na internet
Para aproveitar as novas regras eleitorais que permitem o uso da internet na campanha presidencial, os partidos começam a montar equipes específicas. No caso do PT, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Roussef terá a ajuda de norte-americanos que participaram da bem-sucedida campanha virtual de Barack Obama. Os estrangeiros são Scott Godstein e Joe Rospars, responsáveis pela campanha de mídias sociais de Obama em 2008, e Andrew Paryze, especialista em marketing digital da Blue State Digital agência americana especializada em campanhas online para políticos e causas. Mas se engana quem pensa que são eles que vão ditar o ritmo das ações da candidatura do PT na internet. Pelo menos, é o que garante o brasileiro Marcelo Branco, militante do movimento do software livre e organizador de importantes eventos ligados à tecnologia, que irá integrar a equipe petista.
Nosso papel será desdobrar a estratégia geral de campanha para a internet, explica. Branco, que tem mais de 3 mil seguidores no Twitter, foi contratado pela agência que organiza a campanha digital de Dilma para tratar da estratégia para as redes sociais. Meu papel não é fazer posts em blogs ou tweets, mas sim trabalhar as coisas internamente, emenda. Entre as estratégias para mobilizar os militantes do PT e do PMDB, Marcelo garante que o jogo baixo estará descartado. Mas reitera que nenhuma provocação ficará sem resposta.
A ideia é trazer a comparação entre as realizações da gestão atual contra a anterior, numa postura pró-ativa, apresentando os fatos. Mas, se as provocações vierem, vamos responder, só que com argumentos e não com mais baixaria, defende. Branco ainda rechaça estratégias comuns na internet usadas para inflar marcas e produtos. Quando se trata de uma empresa, pode ser útil criar artifícios para conseguir mais seguidores no Twitter ou referências no Google. Mas não vejo muita utilidade em uma campanha política. As pessoas não vão digitar Dilma para pesquisar, conclui.
A estratégia do PT, muito inspirada no caso de sucesso de Obama, é criar, com as redes sociais, canais de comunicação em que a informação possa ser divulgada para os militantes, mas também capitalizar em cima do que for criado por eles, como vídeos, fotos ou textos. A campanha online não será voltada apenas para os filiados, mas para apoiadores em geral. A ideia não é só fazer guerra de comunicação, mas ajudar para que a campanha ocorra de forma descentralizada. Ela não pode ser pensada por um grupo pequeno de pessoas, mas sim por milhares de internautas, acredita Branco.
Vamos responder tudo
Quem vai cuidar da campanha da Dilma é a agência Pepper Comunicação, montando a equipe, da qual faço parte, com os norte-americanos Scott Godstein e Joe Rospars, que cuidaram da campanha de Obama para as redes sociais e mensagens de celular, e Andrew Paryze, da Blue State Digital. Essa equipe vai ser responsável pela estratégia na internet, mas não definirá a estratégia de campanha, e sim desdobrará a estratégia geral. Tem uma confusão de que as coisas seriam definidas pelos americanos, mas não é isso. Eles trarão a experiência no uso das ferramentas. O case do Obama é o maior sucesso mundial hoje. Então, agregaremos esse valor do marketing político e nós, brasileiros, coordenaremos.
Novo meio
No Brasil, o uso da internet era limitada pela legislação. É um novo uso para as campanhas, e não só para os políticos, mas também para os eleitores. A internet pode ser decisiva, mais ainda não se tem como medir o grau de influência. Mas, que vai fazer diferença, vai. É uma forma de aproximar o político com os eleitores. No caso da Dilma, temos um patrimônio que é o governo atual e sua aprovação, num patamar que nunca tivemos. Desde que sou adolescente, sempre tivemos aquela história de que um dia vai chegaria a vez do Brasil. E, hoje, mesmo os opositores mais ferrenhos reconhecem que o Brasil vive a melhor fase da sua história. Tanto que o Obama falou que o Lula é o cara. A nossa estratégia vai ser mostrar as realizações e compará-las com as do período anterior.
Objetivos
A campanha online não será voltada apenas para os filiados, mas para apoiadores em geral. A ideia não é só fazer guerra de comunicação, mas ajudar a campanha para que ocorra de forma descentralizada. Não pode ser pensada por um grupo pequeno de pessoas, e sim por milhares de internautas. Temos a vantagem de ter do nosso lado os partidos que tem o maior número de militantes, e ainda de ter o apoio dos que estão mais à esquerda, que têm a tradição do militante orgânico. Mas, no fim, o objetivo não deixa de ser atingir os indecisos.
Estratégia
Não apelaremos para o uso de posts de blogueiros negativos e não vamos usar os blogueiros pagos. Cada um tem o seu espaço, sua liberdade de expressão. Não vamos articular para atacar e destruir a reputação de alguns blogueiros. Isso fica feio isso na blogosfera. A ideia é usar os canais (Twitter, Identi.ca, Orkut, Facebook e YouTube) de forma propositiva. Para isso, vamos estimular blogs espontâneos. Assim, esperamos estimular a campanha descentralizada em estados e municípios. Os endereços já existentes vão ser valorizados, para se criar uma dinâmica em rede, que estimula dando conteúdo para que toquem a campanha com suas particularidades. Os conteúdos também virão de baixo para cima.
Baixaria
Vamos ter o esforço de responder tudo, nada vai passar. A baixaria não é novidade em campanhas eleitorais, só deverá ser transposta para a internet. Nossos apoiadores também serão orientados nesse sentido. A turbinagem e a falsificação de indicadores pode funcionar para ajudar a marca de uma cerveja, mas não é positiva para uma campanha. Cada baixaria será respondida com fatos. Até porque a internet funciona como um grande arquivo, que guarda todas as informações.
Americanos
Temos diferenças importantes, como no uso das redes sociais, em que somos mais ativos, comunicativos. Já na questão da infraestrutura de banda larga, temos uma carência importante. Aqui, por exemplo, o Orkut é o principal espaço, já o MySpace é bem menos importante. Por isso que a estratégia não será a mesma adotada na campanha do Obama, mas eles trarão a experiência no uso das ferramentas.
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Matéria Globo
Para especialistas, campanha será agressiva
Com base nos discursos de sábado, eles preveem que Dilma e Serra vão marcar posição com ataques pessoais
Gilberto Scofield Jr.
SÃO PAULO. Ainda que os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não tenham explicitado seus futuros programas de governo, o discurso de Serra no lançamento de sua candidatura e o de Dilma, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, deixam claro, para acadêmicos especializados em ciência e marketing políticos, que a disputa eleitoral será agressiva com ataques pessoais baseados na biografia de cada um , antagônica José Serra tende a fazer uma campanha de olho no futuro, enquanto Dilma Rousseff apontará para a continuidade e o passado e ampla: mais do que uma disputa entre candidatos, estará em jogo uma disputa de governos a era FH contra a era Lula.
Para Roberto Romano, professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a disputa se dará no campo das esquerdas, na falta de um candidato claramente identificado com posicionamentos de direita. Mas este fator, observado nas entrelinhas dos discursos de anteontem, bem como no histórico dos dois candidatos mais bem posicionados na pesquisa, não significará um debate em torno dos mesmos temas.
Não vimos ainda discussões sobre programas de governo ou o que propõem os candidatos para áreas importantes como educação ou ciência e tecnologia diz Romano.
Mas já se percebe algum debate ideológico em torno do passado dos candidatos, como sua posições sobre o tamanho do Estado, ainda que, na área econômica, Serra e Dilma atuem como num jogo de espelhos, mirando políticas econômicas iguais.
Polarização à vista entre os governos de FH e Lula Analisando os discursos, Paulo José Araújo da Cunha, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, percebe uma imensa polarização eleitoral em torno não apenas de Dilma e de Serra, mas entre os que apoiam o governo do ex-presidente Fernando Henrique e o governo do presidente Lula.
Será uma campanha agressiva, que só tende a se exacerbar com o decorrer da disputa. Note que não é apenas Dilma que manda recado para Serra e vice-versa. Fernando Henrique e Lula entram na briga de insinuações, o que amplia a disputa para uma batalha de governo contra governo.
O sociólogo e historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, diz que os discursos se opõem nas perspectivas: Dilma Rousseff defenderá a continuidade do governo de seu padrinho, o presidente Lula, de certo modo mirando o passado, enquanto Serra vai buscar atrair os eleitores com promessas de um futuro melhor, dissociandose do governo atual.
Já se percebem nos discursos ataques pessoais usando as biografias de cada um.
Dilma diz que Serra fugiu da briga contra o governo militar.
Serra alerta para a falta de experiência política e administrativa de Dilma, que de fato vem enchendo esta disputa de emoções fortes por sua falta de experiência política e declarações que deixam os quadros do PT nervosos. Será uma campanha agressiva diz Villa.
Para Roberto Romano, professor do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a disputa se dará no campo das esquerdas, na falta de um candidato claramente identificado com posicionamentos de direita. Mas este fator, observado nas entrelinhas dos discursos de anteontem, bem como no histórico dos dois candidatos mais bem posicionados na pesquisa, não significará um debate em torno dos mesmos temas.
Não vimos ainda discussões sobre programas de governo ou o que propõem os candidatos para áreas importantes como educação ou ciência e tecnologia diz Romano.
Mas já se percebe algum debate ideológico em torno do passado dos candidatos, como sua posições sobre o tamanho do Estado, ainda que, na área econômica, Serra e Dilma atuem como num jogo de espelhos, mirando políticas econômicas iguais.
Polarização à vista entre os governos de FH e Lula Analisando os discursos, Paulo José Araújo da Cunha, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, percebe uma imensa polarização eleitoral em torno não apenas de Dilma e de Serra, mas entre os que apoiam o governo do ex-presidente Fernando Henrique e o governo do presidente Lula.
Será uma campanha agressiva, que só tende a se exacerbar com o decorrer da disputa. Note que não é apenas Dilma que manda recado para Serra e vice-versa. Fernando Henrique e Lula entram na briga de insinuações, o que amplia a disputa para uma batalha de governo contra governo.
O sociólogo e historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, diz que os discursos se opõem nas perspectivas: Dilma Rousseff defenderá a continuidade do governo de seu padrinho, o presidente Lula, de certo modo mirando o passado, enquanto Serra vai buscar atrair os eleitores com promessas de um futuro melhor, dissociandose do governo atual.
Já se percebem nos discursos ataques pessoais usando as biografias de cada um.
Dilma diz que Serra fugiu da briga contra o governo militar.
Serra alerta para a falta de experiência política e administrativa de Dilma, que de fato vem enchendo esta disputa de emoções fortes por sua falta de experiência política e declarações que deixam os quadros do PT nervosos. Será uma campanha agressiva diz Villa.
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coluna na Folha - 12/04/2010
São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Desforra e rancor
Para quem esperava uma oposição desdentada, sem discurso e na defensiva, o ato de lançamento da candidatura José Serra à Presidência, anteontem, indicou que as coisas não serão exatamente assim. Havia em Brasília uma militância numerosa e francamente entusiasmada -cultura petista-, a ponto de um veterano do PSDB com senso de humor comentar: "Que maravilha, conseguimos reunir todos os tucanos do país".
Como já se frisou, a fala de Serra pregando a "união do país" foi firme porém modulada -de "estadista". O tom geral do evento, no entanto, foi bem mais agressivo.
Em fevereiro, no congresso que lançou a candidatura Dilma Rousseff, havia entre os petistas um nítido sentimento de desforra. Celebravam a vitória política do lulismo, tendo vivo na memória o ambiente de velório do encontro anterior, ocorrido sob o impacto do mensalão. A famigerada fala de Jorge Bornhausen -"vamos acabar com aquela raça"- foi então citada (e linchada) compulsivamente, numa espécie de ritual catártico do PT.
Anteontem, o clima era menos de desforra do que de rancor. Humilhada pelo lulismo, a oposição desrecalcou seus demônios. Serra fez alusão às "falanges do ódio". Mas coube aos coadjuvantes mostrar as garras. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse que o governo "não gosta da imprensa livre" e tenta controlar a liberdade de expressão, que confunde acesso à terra com "ruptura do direito de propriedade" e que o país "seria hoje uma Venezuela" não fosse a constante vigilância dos democratas.
Roberto Freire, presidente do PPS, foi além. Disse que o "Estado forte" defendido por Dilma, "da forma como vem se articulando com grandes conglomerados privados, e na visão totalizante de controle sobre as liberdades das instituições da sociedade civil, inclusive da imprensa, está longe das concepções da esquerda e mais se assemelha à idolatria estatista do fascismo". Foram, os dois, muito aplaudidos. Vale para registro e reflexão.
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Coluna de política no JB de segunda-feira 12 de abril
Um Stalin entre o PT e os tucanos
Raphael BrunoAdversários do PT não se furtam a utilizar a adjetivação de stalinista para definir o conjunto de práticas e visões do partido rival a cada oportunidade que lhes é dada. A acusação, na verdade, revela dois aspectos: o primeiro é um profundo desconhecimento dos elementos que contribuíram para a formação histórica petista e suas transformações, nos quais a influência das ideias stalinistas sempre foi pouco mais que nula. O segundo é a deturpação conceitual que acompanha esse tipo de classificação, sempre pronta a rotular qualquer política ou comportamento de vaga orientação esquerdista, socialista ou progressista com as marcas das deformações ditatoriais e burocratizantes que o regime do temido georgiano assumiu na União Soviética.
Quem lança mão regularmente de algumas das principais táticas do stalinismo, a calúnia política, a falsificação histórica e a deturpação dos fatos, no entanto, é a oposição. O ditador soviético, como qualquer estudioso do tema sabe, foi um mestre da contrapropaganda e da demonização dos inimigos. A máquina publicitária do stalinismo esteve sempre a postos para minimizar ou mesmo ridicularizar a participação de adversários internos na Revolução de 1917 enquanto foi o papel de Stalin no levante comunista foi acusar rivais de colaboração com o nazi-fascismo, enquanto era ele quem negociava termos com Hitler, ou mesmo execrar resistências partidárias como atos de traição ao partido dignos de expurgo para os gélidos campos da Sibéria. Era o ditador quem atropelava os ideais soviéticos originais ao concentrar em si, de maneira brutal e paranóica, todas as decisões sobre os destinos do regime.
Aguerrida, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva utiliza de artifícios semelhantes, guardadas, evidentemente, as devidas e enormemente diferentes proporções. A mais insistente das calúnias políticas talvez tenha sido a tese de que, no auge de sua popularidade, o presidente arquitetava, noite e dia, a estratégia que lhe viabilizaria um terceiro mandato. Não importava o tanto que Lula e a cúpula do governo negasse o fato e desautorizasse as investidas de parlamentares governistas que, em busca de holofotes, alimentavam a ideia da conspiração. Pois o presidente escolheu Dilma Rousseff para ser a candidata petista nas eleições e trabalha para sua sucessão. E aqueles que durante meses alardearam que Lula articulava uma grande investida para tentar o terceiro mandato e transformar o Brasil na Venezuela, seja lá o que isso significasse, não demonstram nenhuma necessidade de admitir o comportamento político errático. Tais acusações convenientemente deixavam de lado, também, que foi o príncipe Fernando Henrique Cardoso quem alterou as regras para prolongar sua permanência no poder.
O terrorismo das palavras continuou quando o governo, como uma forma de manter a atratividade dos papéis públicos, planejou taxar as poupanças mais recheadas do país e foi acusado, numa tentativa de ressuscitar fantasmas, de querer mexer na economia do povo, embora a esmagadora maioria da população brasileira não tenha mais de R$ 50 mil na caderneta. E voltou à tona agora, na fase de pré-campanha, quando a oposição acusa o PT de querer dividir o país entre ricos e pobres, enquanto, pelo contrário, o governo apenas reconheceu a existência dessa separação real e implantou políticas para evitar que o abismo entre os dois grupos fosse maior, e enxerga na permanência de José Alencar na vice-presidência uma tática para permitir que Lula se licencie da Presidência para se dedicar à campanha de Dilma, ainda que o presidente tenha, mais uma vez, negado categoricamente tal intenção.
A história, na verdade, sempre foi palco de disputas. Agentes políticos compreenderam há séculos que controlar as interpretações do passado é estratégico para as relações de poder do presente. O atual governo sabe disso e talvez a evidência maior seja o exagero com que recorre ao nunca antes na história desse país para se vangloriar. Mas tal fato apenas demonstra que PT e PSDB guardam mais semelhanças do que gostam de demonstrar. Inclusive, quem diria, em táticas das quais o stalinismo fez uso com reconhecida eficiência.
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domingo, 11 de abril de 2010
Editorial do Estado de São Paulo - domingo 10 de abril de 2010
Vale tudo por Lulilma
Bem que ele avisou. "Eleger a Dilma é a coisa mais importante do meu governo", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no congresso do PT que em fevereiro passado celebrou a candidatura da ainda ministra da Casa Civil. E, caso algum companheiro, ou quem quer que seja, não tenha captado a mensagem em toda a sua amplitude, esclareceu: "Eleger a Dilma não é secundário para o presidente da República, é a coisa prioritária na minha vida neste ano." Note-se a confluência entre o cargo e a pessoa, numa admissão involuntária, mas que não deixa o menor espaço para mal-entendidos, do atrelamento do governo em geral e da Presidência da República em especial à prioridade número um do seu titular no período final do seu mandato.
Lula se comparou certa vez à "metamorfose ambulante" de Raul Seixas, para explicar a sua mutação política. Mas, em face da sucessão, a coerência de seus atos com as suas palavras é total. Ele tem feito e continuará a fazer o muito que está a seu alcance, no exercício do poder, para realizar a anunciada coisa mais importante do seu governo. E, se nada o tolher e ele for bem-sucedido, poderá dizer, parafraseando um afamado político paulista, que quebrou todos os limites éticos na condução do Estado, mas fez o seu sucessor. E ninguém terá o direito de se surpreender com a transformação do Executivo em simples apêndice da candidatura Dilma - assim como ela própria é apêndice de seu patrono.
A única pedra no caminho de Lula é o Judiciário, que já o multou duas vezes pela descarada campanha em favor da então ministra, fabricando eventos públicos para exibi-la aos eleitores (40% dos quais, apesar de tudo, ainda não sabem que ela é a escolhida do presidente). Mas do alto da sua soberba - que o levou a dizer em um evento do PC do B, na quinta-feira, que, "se depender dos times que estão em campo, nunca tivemos (sic) uma campanha tão fácil" - resolveu peitar a Justiça. Nesse que foi o primeiro ato político pró-Dilma de que participou desde que ela deixou o governo, Lula afirmou que fará, sim, campanha de rua para a sua apadrinhada porque "não podemos ficar subordinados, a cada eleição, ao juiz que diz o que a gente pode ou não fazer".
O presidente - isto já é bem sabido - gosta de reiterar as suas assertivas. À maneira da fala aos companheiros do PT, quando achou que não bastava dizer que eleger a sua candidata é a coisa mais importante do seu governo, na festa do PC do B ele não se deu por satisfeito ao proclamar a sua independência do Judiciário. Sem a mais remota inclinação para a autocensura, acrescentou à promessa da insubordinação uma investida contra o Estado de Direito, ao disparar: "Não podemos permitir que o nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal." Já houve neste país quem tivesse dito "a lei, ora a lei". Mas Lula, diferentemente do autor da tirada infeliz, Getúlio Vargas, se gaba de ser democrata.
Além da arrogância de se imaginar acima de quaisquer limites, como os velhos oligarcas da política nacional com quem se associou, e da obsessão com a suprema prioridade de sua vida este ano, Lula tem um motivo real para entrar com tudo na campanha - ou melhor, para não deixar Dilma solta por aí. O motivo, evidentemente, é ela mesma. Os dois dias que passou em Minas foram uma sucessão de vexames. Fez comentários insultuosos aos presos políticos de Cuba, foi hostil com o repórter que se referiu ao Estado como "berço tucano" e, sem a menor consideração com o provável candidato da coligação lulista ao governo mineiro, o ex-ministro Hélio Costa, do PMDB, pregou a dobradinha Dilmasia (ou Anastadilma): ela para presidente e o tucano Antonio Anastasia, ex-vice de Aécio Neves, para governador.
O candidato rejeitou com elegância o esquema por não ter "amparo na realidade". Por sua vez, um agastado Hélio Costa retrucou que a candidata poderá "morrer pela boca" e que, chapa por chapa, Serrélio seria uma boa alternativa. Decerto isso não está nas cartas a esta altura do jogo.
O que está é a crescente suspeita dos partidos da base aliada de que a construção de uma liderança política acreditada não é o forte de Dilma. A pessoa, desconfiam, simplesmente não é do ramo. É a servidão da candidatura Lulilma.
Lula se comparou certa vez à "metamorfose ambulante" de Raul Seixas, para explicar a sua mutação política. Mas, em face da sucessão, a coerência de seus atos com as suas palavras é total. Ele tem feito e continuará a fazer o muito que está a seu alcance, no exercício do poder, para realizar a anunciada coisa mais importante do seu governo. E, se nada o tolher e ele for bem-sucedido, poderá dizer, parafraseando um afamado político paulista, que quebrou todos os limites éticos na condução do Estado, mas fez o seu sucessor. E ninguém terá o direito de se surpreender com a transformação do Executivo em simples apêndice da candidatura Dilma - assim como ela própria é apêndice de seu patrono.
A única pedra no caminho de Lula é o Judiciário, que já o multou duas vezes pela descarada campanha em favor da então ministra, fabricando eventos públicos para exibi-la aos eleitores (40% dos quais, apesar de tudo, ainda não sabem que ela é a escolhida do presidente). Mas do alto da sua soberba - que o levou a dizer em um evento do PC do B, na quinta-feira, que, "se depender dos times que estão em campo, nunca tivemos (sic) uma campanha tão fácil" - resolveu peitar a Justiça. Nesse que foi o primeiro ato político pró-Dilma de que participou desde que ela deixou o governo, Lula afirmou que fará, sim, campanha de rua para a sua apadrinhada porque "não podemos ficar subordinados, a cada eleição, ao juiz que diz o que a gente pode ou não fazer".
O presidente - isto já é bem sabido - gosta de reiterar as suas assertivas. À maneira da fala aos companheiros do PT, quando achou que não bastava dizer que eleger a sua candidata é a coisa mais importante do seu governo, na festa do PC do B ele não se deu por satisfeito ao proclamar a sua independência do Judiciário. Sem a mais remota inclinação para a autocensura, acrescentou à promessa da insubordinação uma investida contra o Estado de Direito, ao disparar: "Não podemos permitir que o nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal." Já houve neste país quem tivesse dito "a lei, ora a lei". Mas Lula, diferentemente do autor da tirada infeliz, Getúlio Vargas, se gaba de ser democrata.
Além da arrogância de se imaginar acima de quaisquer limites, como os velhos oligarcas da política nacional com quem se associou, e da obsessão com a suprema prioridade de sua vida este ano, Lula tem um motivo real para entrar com tudo na campanha - ou melhor, para não deixar Dilma solta por aí. O motivo, evidentemente, é ela mesma. Os dois dias que passou em Minas foram uma sucessão de vexames. Fez comentários insultuosos aos presos políticos de Cuba, foi hostil com o repórter que se referiu ao Estado como "berço tucano" e, sem a menor consideração com o provável candidato da coligação lulista ao governo mineiro, o ex-ministro Hélio Costa, do PMDB, pregou a dobradinha Dilmasia (ou Anastadilma): ela para presidente e o tucano Antonio Anastasia, ex-vice de Aécio Neves, para governador.
O candidato rejeitou com elegância o esquema por não ter "amparo na realidade". Por sua vez, um agastado Hélio Costa retrucou que a candidata poderá "morrer pela boca" e que, chapa por chapa, Serrélio seria uma boa alternativa. Decerto isso não está nas cartas a esta altura do jogo.
O que está é a crescente suspeita dos partidos da base aliada de que a construção de uma liderança política acreditada não é o forte de Dilma. A pessoa, desconfiam, simplesmente não é do ramo. É a servidão da candidatura Lulilma.
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coluna na Folha
Eliane Cantanhêde: O partido das massas cheirosas
- "Estarei a seu lado, governador José Serra, onde quer que eu seja convocado", discursou Aécio, saudado aos gritos de "vice, vice, vice" no lançamento de Serra à Presidência ontem.
PSDB, DEM e PPS deliraram, mas a alegria durou pouco, até Aécio, curiosamente, explicar que disse uma coisa querendo dizer outra. Primeira leitura: se convocado, ele aceitaria ser vice. Explicação posterior do próprio: se convocado, vai desfilar pelo país com Serra. Típica tucanice, que reacende a suspeita de que Aécio vá lavar as mãos mais uma vez para o candidato tucano.
Afora isso, a festa de Serra foi surpreendente. Quem está acostumado a comparar a energia petista e a chocha elegância tucana nesse tipo de encontro ficou impressionado com a inversão. O lançamento de Dilma Rousseff foi um show protocolar; o de Serra foi uma bagunça, com pessoas aos berros por espaço, suadas, espremidas e animadas.
Pode nem ser, mas o PSDB evidentemente se esforçou para parecer um partido de massas. Para não deixar dúvidas, porém, um velho assessor ironizou: "Mas de massas cheirosas..." De fato, até os ônibus que carregaram a militância eram novinhos em folha.
Outro dado: se nos bastidores a cúpula tucana chegou a discutir se FHC deveria ou não discursar, o que equivale a questionar se devem ou não escondê-lo, na convenção ocorreu o contrário: ele foi um dos mais ovacionados.
Serra, contido, fez comparações com Lula e com o PT. Usou verbos no plural para elencar os avanços brasileiros, que não são de hoje, mas dos últimos 25 anos, condenou "bravatas" e defendeu que governos devem "unir nações", "não estimular disputas de pobres contra ricos" nem "jogar governo contra oposição". Devem "servir ao povo, não a partidos e a corporações".
Ao dizer que os êxitos "não são de um só homem [Lula] ou de um só governo", lançou a marca de sua campanha: "O Brasil pode mais".
PSDB, DEM e PPS deliraram, mas a alegria durou pouco, até Aécio, curiosamente, explicar que disse uma coisa querendo dizer outra. Primeira leitura: se convocado, ele aceitaria ser vice. Explicação posterior do próprio: se convocado, vai desfilar pelo país com Serra. Típica tucanice, que reacende a suspeita de que Aécio vá lavar as mãos mais uma vez para o candidato tucano.
Afora isso, a festa de Serra foi surpreendente. Quem está acostumado a comparar a energia petista e a chocha elegância tucana nesse tipo de encontro ficou impressionado com a inversão. O lançamento de Dilma Rousseff foi um show protocolar; o de Serra foi uma bagunça, com pessoas aos berros por espaço, suadas, espremidas e animadas.
Pode nem ser, mas o PSDB evidentemente se esforçou para parecer um partido de massas. Para não deixar dúvidas, porém, um velho assessor ironizou: "Mas de massas cheirosas..." De fato, até os ônibus que carregaram a militância eram novinhos em folha.
Outro dado: se nos bastidores a cúpula tucana chegou a discutir se FHC deveria ou não discursar, o que equivale a questionar se devem ou não escondê-lo, na convenção ocorreu o contrário: ele foi um dos mais ovacionados.
Serra, contido, fez comparações com Lula e com o PT. Usou verbos no plural para elencar os avanços brasileiros, que não são de hoje, mas dos últimos 25 anos, condenou "bravatas" e defendeu que governos devem "unir nações", "não estimular disputas de pobres contra ricos" nem "jogar governo contra oposição". Devem "servir ao povo, não a partidos e a corporações".
Ao dizer que os êxitos "não são de um só homem [Lula] ou de um só governo", lançou a marca de sua campanha: "O Brasil pode mais".
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Matéria na Folha
Indústria prevê retomada das exportações
Vendas externas de manufaturados devem subir 21% e chegar a US$ 106,3 bi em 2010, segundo estimativa da Fiesp
Recuperação dos mercados consumidores deprimidos pela crise, em especial os EUA, é a principal explicação para crescimento
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras de produtos industrializados devem retomar, neste ano, a trajetória de nove anos de crescimento que a crise internacional de 2009 interrompeu, segundo as projeções da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Com uma elevação de aproximadamente 21%, as vendas de bens manufaturados para outros países alcançariam US$ 106,3 bilhões -o segundo melhor resultado da história, abaixo apenas do de 2008, quando o volume chegou a US$ 119,8 bilhões.
"Dessa maneira, recuperamos metade das perdas causadas pelas turbulências do ano passado, o que é muito bom", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade. "E o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro será afetado positivamente pela alta."
A previsão da Fiesp é apoiada em uma pesquisa com as maiores empresas exportadoras do país cuja base de operações fica no Estado de São Paulo. Como os contratos de vendas são fechados com antecedência de alguns meses, tais companhias já têm uma ideia bastante razoável de quanto efetivamente vão negociar ao longo de 2010.
O crescimento esperado explica-se, essencialmente, pela recuperação de mercados consumidores que se retraíram fortemente com a crise, como os EUA. Do início de 2009 para o de 2010, a participação dos americanos nas exportações do Brasil caiu de 16,5% do total para 13,8%. Essa fatia tende a se recompor. Ao mesmo tempo, outras regiões vão ganhando importância, como a Europa, que viu sua parcela subir de 21,8% para 23%, e a América Latina, que aumentou sua fração de 28% para 30,8%.
A retomada das exportações também tende a se dar de maneira espalhada entre os segmentos da indústria. As montadoras já comemoram uma elevação de 66,6% nas vendas de carros para outros países em fevereiro último ante o mesmo mês do ano passado -o destaque, entre os destinos, ficou com a Argentina. Nota-se, ainda, alta no comércio de máquinas, artigos de informática e produtos farmacêuticos. Os aviões, os produtos químicos e os calçados são os únicos que continuam deprimidos.
Estímulo
A manufatura brasileira reconhece que algumas medidas tomadas pelo governo durante a crise, como a concessão de empréstimos para as companhias, ajudou muito na passagem pelos tempos difíceis, mas pede outras providências para ajudar na reconquista do espaço perdido.
"Teve gente que comemorou o fato de os EUA terem diminuído a sua parte entre os compradores de mercadorias brasileiras, o que é um absurdo. Há anos, não foi apenas em 2009, estamos perdendo competitividade em mercados importantes, como o americano. Nessas regiões, quase sempre, o Brasil é ultrapassado pela China. Fica complicado, depois, ganhar de volta os consumidores", afirma Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Se não existem muitas esperanças de modificações na política cambial brasileira -o dólar desvalorizado ante o real é apontado como a principal desvantagem para os empresários do país-, os especialistas sugerem que a devolução dos empréstimos pagos pelas companhias na fabricação de itens que serão vendidos no exterior, como manda a lei, seja realizada com mais rapidez pelos governos federal e estaduais. "Falta boa vontade em todas as esferas, e aí se encontra um grande nó", comenta Francini.
De acordo com os cálculos de Almeida, a restituição correta e célere teria o mesmo efeito que uma apreciação de 8% da moeda americana ante a brasileira. "Não precisa inventar nada, é só fazer valer o que já está determinado. E pensar em diminuir a burocracia no país, que aumenta demais os custos de operação", afirma o professor.
Recuperação dos mercados consumidores deprimidos pela crise, em especial os EUA, é a principal explicação para crescimento
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras de produtos industrializados devem retomar, neste ano, a trajetória de nove anos de crescimento que a crise internacional de 2009 interrompeu, segundo as projeções da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Com uma elevação de aproximadamente 21%, as vendas de bens manufaturados para outros países alcançariam US$ 106,3 bilhões -o segundo melhor resultado da história, abaixo apenas do de 2008, quando o volume chegou a US$ 119,8 bilhões.
"Dessa maneira, recuperamos metade das perdas causadas pelas turbulências do ano passado, o que é muito bom", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade. "E o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro será afetado positivamente pela alta."
A previsão da Fiesp é apoiada em uma pesquisa com as maiores empresas exportadoras do país cuja base de operações fica no Estado de São Paulo. Como os contratos de vendas são fechados com antecedência de alguns meses, tais companhias já têm uma ideia bastante razoável de quanto efetivamente vão negociar ao longo de 2010.
O crescimento esperado explica-se, essencialmente, pela recuperação de mercados consumidores que se retraíram fortemente com a crise, como os EUA. Do início de 2009 para o de 2010, a participação dos americanos nas exportações do Brasil caiu de 16,5% do total para 13,8%. Essa fatia tende a se recompor. Ao mesmo tempo, outras regiões vão ganhando importância, como a Europa, que viu sua parcela subir de 21,8% para 23%, e a América Latina, que aumentou sua fração de 28% para 30,8%.
A retomada das exportações também tende a se dar de maneira espalhada entre os segmentos da indústria. As montadoras já comemoram uma elevação de 66,6% nas vendas de carros para outros países em fevereiro último ante o mesmo mês do ano passado -o destaque, entre os destinos, ficou com a Argentina. Nota-se, ainda, alta no comércio de máquinas, artigos de informática e produtos farmacêuticos. Os aviões, os produtos químicos e os calçados são os únicos que continuam deprimidos.
Estímulo
A manufatura brasileira reconhece que algumas medidas tomadas pelo governo durante a crise, como a concessão de empréstimos para as companhias, ajudou muito na passagem pelos tempos difíceis, mas pede outras providências para ajudar na reconquista do espaço perdido.
"Teve gente que comemorou o fato de os EUA terem diminuído a sua parte entre os compradores de mercadorias brasileiras, o que é um absurdo. Há anos, não foi apenas em 2009, estamos perdendo competitividade em mercados importantes, como o americano. Nessas regiões, quase sempre, o Brasil é ultrapassado pela China. Fica complicado, depois, ganhar de volta os consumidores", afirma Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Se não existem muitas esperanças de modificações na política cambial brasileira -o dólar desvalorizado ante o real é apontado como a principal desvantagem para os empresários do país-, os especialistas sugerem que a devolução dos empréstimos pagos pelas companhias na fabricação de itens que serão vendidos no exterior, como manda a lei, seja realizada com mais rapidez pelos governos federal e estaduais. "Falta boa vontade em todas as esferas, e aí se encontra um grande nó", comenta Francini.
De acordo com os cálculos de Almeida, a restituição correta e célere teria o mesmo efeito que uma apreciação de 8% da moeda americana ante a brasileira. "Não precisa inventar nada, é só fazer valer o que já está determinado. E pensar em diminuir a burocracia no país, que aumenta demais os custos de operação", afirma o professor.
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